As lições do agro em 2022 e os preparativos para o novo ano

Se por um lado a safra 2021/22 foi marcada por ótimos resultados na produção, nos preços e na rentabilidade, por outro, foi um ciclo de grandes desafios para o agricultor com o aumento nos custos de produção, riscos na disponibilidade de insumos e dores de cabeça com o clima.

Para fazer um balanço do desempenho do agro neste ano e os aprendizados que os produtores vão levar para 2023, o jornalista e apresentador do Impulso Cast, Dony De Nuccio, recebeu Roberta Paffaro, jornalista com mestrado em agronegócio e MBA em economia, e o professor Marcos Fava Neves, um dos maiores especialistas em agronegócio do país.

Os grandes números do agro em 2022

A safra de grãos 2021/22 foi de 271 milhões de toneladas, 6% maior do que a anterior, de acordo com dados divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

No café, foram 50,4 milhões de sacas, o que também representou um avanço de 6%. Já na cana-de-açúcar, a moagem estava em 517 milhões de toneladas até meados de novembro, mesmo ritmo do ciclo passado, segundo a União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (UNICA).

Na opinião do professor Marcos Fava Neves, foi um ano histórico para o agronegócio, mesmo com os desafios climáticos que afetaram as lavouras.

"No geral, a produção e os preços possibilitaram uma renda positiva no campo. Outro destaque são as exportações do agro que tiveram um crescimento fantástico. O agronegócio brasileiro também acabou sendo beneficiado com os reflexos do conflito entre Rússia e Ucrânia, pois permitiu ao Brasil ocupar alguns mercados. Por outro lado, houve estresse com a questão de fornecimento de defensivos e fertilizantes."

Roberta Paffaro também destaca o resultado das exportações como um dos pontos positivos do ano e afirma que a demanda dos produtos brasileiros está cada vez mais significativa, o que gera oportunidades para abrir novos mercados. "Apesar de todos os desafios que tivemos neste ano, conseguimos superá-los, manter as exportações e abrir novos mercados. Minha perspectiva é muito positiva para o próximo ano", acrescenta.

O mercado de grãos

Na safra 2021/22, a soja teve queda de 125 milhões de toneladas na produção, enquanto o milho cresceu de 87 milhões para 112 milhões de toneladas.

Segundo Roberta, isso ocorreu porque a soja é um produto de exportação, com precificação em dólar, portanto, os produtores aproveitam as janelas de oportunidade para comercializar a oleaginosa.

No caso do milho, o grão é muito utilizado para suprir a demanda interna no país, principalmente a indústria de alimentos e a produção de biocombustíveis como o etanol de milho.

"O milho é precificado internamente, por isso, oscila muito de acordo com a demanda interna. Inclusive, com a China comprando mais, essa janela de exportação pode abrir oportunidade de rentabilidade maior para o produtor. Mas vale lembrar que a localização do produtor é importante porque impacta nos custos com transporte, frete e impostos", explica.

Além disso, Roberta cita o exemplo de agricultores do Mato Grosso que estão vendendo milho para as indústrias produtoras de etanol para, depois, comprar o biocombustível a preços reduzidos. Essa solução contribui para a gestão financeira da fazenda, segundo ela, já que o combustível representa um custo alto para as operações. "Essa nova dinâmica é interessante, mostra como o agro é criativo e como é importante pensar fora da caixa. É possível criar alternativas e trazer novas fontes de negócios para garantir essa rentabilidade."

Os impactos do aumento nos custos de produção

Outro fator que marcou a agricultura em 2022 foi a alta nos custos de produção.

O balanço da oferta e demanda de insumos, sobretudo os fertilizantes em decorrência da guerra entre Rússia e Ucrânia, foi responsável por boa parte desse aumento que pesou no bolso dos produtores brasileiros. Os lockdowns que ainda ocorrem na China também influenciaram esse cenário. Marcos Fava Neves destaca, ainda, os custos elevados de container, a escassez de fretes e o preço do combustível. "Esse é um ponto que me preocupa. Mesmo que esse aumento tenha ocorrido em todas as agriculturas do mundo, é importante tentar reduzir os custos de produção para que o Brasil seja o país com a maior margem na agricultura. Dessa forma, há maior incentivo ao crescimento", pontua o Doutor Agro.

Como melhorar o planejamento e a gestão?

Olhando para a gestão, os especialistas explicam como o agricultor pode melhorar o planejamento e controle do negócio no próximo ano.

Para Marcos, a gestão de uma propriedade rural está baseada em três pilares: financeiro, operacional e custos.

Sobre o aspecto financeiro, ele afirma que é preciso cuidar do caixa, ter disponibilidade de capital e saber a hora de comprar e vender. "Outro ponto importante nas decisões de investimento é ficar melhor antes de ficar maior para que o crescimento não deteriore as margens, levando a endividamento elevado", alerta.

Já a excelência operacional está ligada à melhor gestão por metro quadrado, com uso de tecnologia, inovação e equipes motivadas.

Por fim, sobre o controle de custos, ele reforça que é preciso ter todos os detalhes na ponta do lápis: "o produtor deve medir tudo, não deixar vazar nada. É importante que a equipe esteja engajada na mesma cultura, para isso, é necessário compartilhar os resultados também."

Sobre a comercialização da safra, Roberta Paffaro diz que é importante entender todos os custos e acompanhar o mercado para avaliar as melhores oportunidades e decidir a hora certa de vender. De acordo com ela, o apoio de um consultor faz toda a diferença nesta etapa.

"É muito importante usar todas as informações e dados que temos disponíveis hoje em dia para organizar esse pilar do negócio. O produtor precisa se enxergar como um empresário rural, entender esses custos e ferramentas de mercado, complementar a venda e buscar novas possibilidades. A eficiência do agro depende da gestão financeira, então use o mercado a seu favor", orienta a especialista.

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