Blog do Agro

Bioeconomia pode gerar faturamento bilionário ao Brasil e reduzir emissão de carbono

Estudo “Potencial do impacto da bioeconomia para a descarbonização do Brasil” é uma parceria da Embrapa Agroenergia com outras instituições de pesquisa17 de fevereiro de 2023 /// 4 minutos de leitura

A implementação da bioeconomia no Brasil pode gerar um faturamento industrial anual de US$ 284 bilhões até 2050, além de reduzir a emissão de carbono. É isso o que aponta o estudo “Potencial do impacto da bioeconomia para a descarbonização do Brasil”, parceria da Embrapa Agroenergia com a Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI), Laboratório Nacional de Biorrenováveis do Centro de Pesquisa em Energia e Materiais (LNBR/CNPEM), Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (Senai/CETIQT) e Laboratório Cenergia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Cenergia/UFRJ).

A implementação desse objetivo atende três frentes: as atuais políticas para mitigação de emissões de gases de efeito estufa (GEE) no país, a consolidação da biomassa como principal matriz energética em setores importantes da economia e a intensificação de tecnologias biorrenováveis. O documento, que pode ser conferido na íntegra aqui, traça ainda distintas trajetórias para o Brasil, em três cenários, até o ano de 2050 na área.

“O estudo quantifica a bioeconomia em cenários de transição energética e avalia como as tecnologias geradas pela chamada economia circular e de baixo carbono podem complementar a transição energética dentro das cadeias produtivas”, explica Alexandre Alonso, chefe-geral da Embrapa Agroenergia. “Buscamos desenvolver processos produtivos mais eficientes e menos intensivos em insumos e energia, fortemente apoiados na biotecnologia”.

O ex-presidente da Embrapa Maurício Lopes, também pesquisador da área de agroenergia, diz que o país tem plenas condições de modelar uma agricultura dedicada à biomassa capaz de viabilizar um setor bioindustrial inovador e competitivo. “A bioeconomia entra com vantagem na complexa equação da sustentabilidade, por ser capaz de combinar de forma sinérgica recursos naturais, como a biomassa, e tecnologias avançadas, em modelo de produção de base biológica, limpa e renovável, promovendo sinergias entre as indústrias de energia, alimentos, química, materiais, dentre outras”, diz.

Cenários potenciais da bioeconomia

O primeiro cenário apontado na pesquisa ganhou o nome de “Políticas Correntes”. Analisa a manutenção das atuais políticas brasileiras e o respeito à Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês), proposta no âmbito do Acordo de Paris sobre o Clima.

O segundo cenário, “Abaixo de 2 ºC”, considera que a biomassa passa a ser a principal fonte de energia para a implementação de tecnologias de baixo carbono nos principais setores da economia brasileira, também em cumprimento ao Acordo de Paris, com o objetivo específico de limitar o aumento da temperatura terrestre “bem abaixo dos 2 ºC” até o final do século.

O terceiro e último cenário proposto, chamado de “Potencial da Bioeconomia”, é no qual a bioeconomia e a transição energética se complementam e inserem tecnologias promissoras biorrenováveis a partir do cenário “Abaixo de 2 ºC”.

Entre as principais contribuições do estudo está o levantamento de soluções que impactam o aumento da produtividade na agricultura - Foto: Embrapa

Soluções e tecnologias

As soluções e tecnologias na bioeconomia devem possibilitar aumento da produtividade na agricultura, liberação de áreas que podem ser reaproveitadas por culturas energéticas e reduzem as emissões de GEE durante o processo produtivo, de acordo com o estudo. O trabalho se concentrou em bioinovações de indústrias existentes e em fase de desenvolvimento, a partir das quais é possível estimar valores de investimento e de receita, com foco em setores com maior potencial de mitigação de GEE.

No quesito “soluções para intensificação sustentável da agricultura”, foram avaliadas tecnologias relacionadas a proteínas alternativas, soluções para confinamento de gado, fixação de carbono no solo, novas variedades de vegetais de alto rendimento por hectare, fixação biológica de nitrogênio (FBN), controle biológico, todas inseridas no contexto de otimização do uso do solo e produção de biomassa com baixa emissão de carbono ou até emissão negativa.

Já em “soluções para a conversão de biomassa em produtos de base energética” foram consideradas tecnologias que utilizam a biomassa para a produção de energia de baixa intensidade de carbono ou até emissões de GEE negativas e que apresentam maior escala de mercado, como bioenergia com captura e armazenamento de carbono (BECCS), captura e utilização de carbono (CCU), biogás e etanol de segunda geração (E2G).

Por último, foram analisadas soluções para a conversão de biomassa em bioprodutos de alto valor agregado, importantes para substituir produtos de origem fóssil e viabilizar economicamente o desenvolvimento de biorrefinarias. Neste quesito, foram consideradas as tecnologias relacionadas à produção de bioquímicos, enzimas, biofertilizantes, biomateriais, bionafta e biocombustíveis avançados.

Faturamento e também redução na emissão de carbono

Nos dois últimos cenários possíveis, o documento aponta que as emissões de carbono podem ser reduzidas em cerca de 550 milhões de toneladas, especialmente em decorrência do crescimento de biocombustíveis, bioquímicos e outros produtos de origem biológica no Brasil. O desenvolvimento do cenário “Potencial da Bioeconomia”, porém, depende da promoção coordenada de políticas públicas que considerem as particularidades e vantagens competitivas brasileiras, segundo o documento.

“O estudo é resultado de um amplo esforço conjunto de organizações que são referências em pesquisa e bioinovação no Brasil. Nele, evidenciamos as oportunidades ambientais, econômicas e sociais oriundas do desenvolvimento da bioeconomia avançada no Brasil. Esperamos que o resultado sirva de base para agentes públicos e privados pautarem as políticas de economia verde em nosso país”, finaliza Thiago Falda, presidente executivo da ABBI.

exclusivo para usuários logadosArtigos salvos e temas de interesseRealize seu login para salvar artigos e escolher os temas de seu maior interesse. Você poderá acessá-los a qualquer momento, sem perder de vista nenhum conteúdo de relevância pra você.