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Embrapa identifica que integração lavoura-pecuária, em plantio direto, acumula mais carbono no solo que sucessão de culturas de grãos

Além de trazer benefícios ao solo, resultado da pesquisa mostra que prática pode representar um passo muito importante para a mitigação da emissão de gases de efeito estufa como o dióxido de carbono (CO2)24 de abril de 2023 /// 7 minutos de leitura

Além de trazer benefícios ao solo, resultado da pesquisa mostra que prática pode representar um passo muito importante para a mitigação da emissão de gases de efeito estufa como o dióxido de carbono (CO2)

A unidade da Embrapa Arroz e Feijão (GO), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, através de um trabalho de simulação, estima que a taxa de acúmulo de carbono em solo de Cerrado em Goiás, considerando o sistema de integração lavoura e pecuária (ILP), em plantio direto, é muito maior comparado ao sistema de sucessão de cultura de grãos (soja-milho).

A projeção do acúmulo de carbono foi estipulada para um perfil de solo de até 30 centímetros de profundidade. Os maiores valores de carbono acumulado foram para os sistemas em ILP, em plantio direto, entre 0,60 e 0,90 tonelada por hectare ao ano. Isso representa um aumento em mais de três vezes sobre os desempenhos dos sistemas de sucessão entre soja e milho, que registram em torno de 0,11 e 0,21 tonelada por hectare ao ano em plantio direto.

Os resultados da pesquisa brasileira vão em linha com os internacionais acerca do acúmulo de carbono e práticas sustentáveis de manejo no solo e podem desempenhar ainda um importante papel para a mitigação da emissão de gases de efeito estufa como o dióxido de carbono (CO2). Além disso, o carbono no solo alimenta micro-organismos e pequenos animais, que o deixam mais rico.

No trabalho da Embrapa, que utilizou de uma série histórica de dados para projeções ao longo de 20 anos, entre 2019 e 2039, dois sistemas em ILP foram simulados dentro do CQESTR, modelo que projeta o comportamento de carbono em solo de lavouras e é utilizado para levantar como diferentes práticas de manejo afetam a dinâmica do carbono, e repetidos ao longo do tempo de avaliação.

O primeiro sistema (ILP1) incluiu o cultivo do milho na safra de verão, seguido de quatro anos e meio de pastagem de braquiária. O segundo (ILP2) foi de soja na safra de verão, sucedida por pousio no primeiro ano, com posterior semeadura de arroz de terras altas, seguida de pousio novamente no segundo ano. Por fim, veio o plantio de milho com três anos e meio de pastagem de braquiária. Em relação à sucessão de culturas (soja-milho), foram consideradas alternâncias de cultivos anuais no verão, assim como com períodos de pousio; ou ainda sucessões entre as duas culturas (safra e safrinha).

   Experimentos mostram que os maiores valores de carbono acumulado foram para os sistemas em ILP, em plantio direto - Foto: Embrapa

Experimentos mostram que os maiores valores de carbono acumulado foram para os sistemas em ILP, em plantio direto - Foto: Embrapa

Beata Madari, pesquisadora da Embrapa, e uma das responsáveis pelo trabalho conta que esse resultado vai ao encontro de outros estudos dessa área de pesquisa e que pode ser explicado pela presença da forrageira braquiária, que apresenta forte enraizamento em profundidade no solo, o que, além de reciclar nutrientes, ajuda a aumentar o estoque de carbono no sistema pelo aporte de biomassa radicular e também aérea em sistemas ILP.

O acúmulo verificado de carbono no sistema ILP surpreendeu os pesquisadores, pois trata-se de um valor alto levando em consideração a situação diagnosticada inicialmente nas condições da fazenda da Embrapa em Goiás que serviu de modelo para os testes, e que apontou para um solo argiloso (mais de 50% de argila) e com teor entre baixo e médio de carbono, aproximadamente 2%.

Uma das principais organizações no mundo sobre o tema é a Iniciativa 4 por 1000 – solos em prol do clima e da segurança alimentar. Ela reúne uma rede internacional de colaboradores, que contempla instituições de ensino e de pesquisa, associações de agricultores, governos, organizações internacionais, e segmentos da agroindústria e empresarial, dentre eles a Embrapa.

A Iniciativa 4 preconiza práticas sustentáveis de manejo do solo para o alcance de uma taxa média de acúmulo anual de carbono de 0,4% (ou 4 por mil) do estoque de carbono atualmente presente no solo. Para as condições da área experimental no Cerrado brasileiro isso significa em torno de 0,26 tonelada por hectare ao ano. Esta taxa, entretanto, pode variar, dependendo das condições de clima e solo regionais.

De acordo com Madari, como os resultados obtidos na pesquisa foram superiores aos preconizados, isso sinaliza que o manejo sustentável do solo e de culturas no Cerrado pode desempenhar um papel muito importante para a mitigação da emissão de gases de efeito estufa como o dióxido de carbono (CO2).

Importância do plantio direto

Na pesquisa, o acúmulo de carbono no solo para todas as situações, seja em ILP, seja em sucessão de culturas, foi maior em plantio direto, em comparação aos sistemas de preparo convencional do solo (aração e gradagem).

A pesquisadora da Embrapa Márcia de Melo Carvalho, que também participou desse estudo, observa que práticas conservacionistas, como o plantio direto, contribuem para o acúmulo do carbono em relação a sistemas convencionais, pois o não revolvimento do solo favorece maior estruturação, com a formação de agregados (pequenos torrões de solo) que “empacotam” matéria orgânica, protegendo-a da rápida decomposição. E, quanto mais matéria orgânica, mais aproxima-se de um estado de saturação do solo com carbono.

Entretanto, tão importante quanto a saturação do solo com carbono é a proteção que o plantio direto proporciona. Ela explica que a prática promove uma camada protetora do solo (palhada) contra o impacto de gotas de chuva, permitindo a infiltração da água, além da regulação da temperatura no solo. Complementarmente, ainda segundo a pesquisadora, as práticas de manejo que resultam em acúmulo de carbono no solo melhoram a qualidade e a produtividade, por meio da adaptação a mudanças ambientais que já são uma realidade no Cerrado goiano.

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