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Recente redução na incidência de cigarrinha do milho no Sul do país é questão climática e não reversão, diz especialista

Paulo Garollo, especialista de desenvolvimento de mercado da Bayer para cultura do milho no Cerrado do Brasil, explica a situação no país e destaca o uso correto dos inseticidas12 de março de 2023

A cigarrinha foi a grande vilã da safrinha de milho 2022. Alimentando-se da seiva de uma planta de milho doente, a cigarrinha adquire os molicutes (apenas um, ou ambos), que então se multiplicam nos seus tecidos, infectando as glândulas salivares. Essas cigarrinhas portadoras de molicutes tornam-se então infectantes e, quando se alimentam de plântulas de milho sadias, transmitem esses patógenos para o floema dessas plantas.

A cigarrinha foi a grande vilã da safrinha de milho 2022. Alimentando-se da seiva de uma planta de milho doente, a cigarrinha adquire os molicutes (apenas um, ou ambos), que então se multiplicam nos seus tecidos, infectando as glândulas salivares. Essas cigarrinhas portadoras de molicutes tornam-se então infectantes e, quando se alimentam de plântulas de milho sadias, transmitem esses patógenos para o floema dessas plantas.

A região Sul do país registrou nos últimos meses uma redução na incidência de cigarrinha, o que animou os produtores. Porém, segundo Paulo Garollo, especialista de desenvolvimento de mercado da Bayer para cultura do milho no Cerrado, a situação ocorreu por uma questão climática e não significa reversão. Na entrevista a seguir, ele também destaca a importância do uso correto dos inseticidas.

– Como tem sido a situação da cigarrinha pelo Brasil?

PG: A principal coisa é que a gente não pode jamais deixar de fazer todos os passos no processo de manejo da praga, independente da condição climática, independente do material genético ser mais ou menos tolerante. As boas práticas de manejo precisam seguir o seu roteiro em 100%. Hoje, no Sul, por exemplo, nós temos uma população que já está começando aumentar e que estava baixa. Ela estava menor porque o principal fator abiótico que interfere na biologia da praga é a temperatura. No Sul, esfriou e isso quebra o ciclo reprodutivo da praga. Ele mata muitos adultos, mas não elimina por completo.

– Paulo, então uma determinada condição climática pode dar ao produtor uma falsa impressão para o produtor de redução da incidência?

PG: Perfeito. O frio não elimina por completo a praga e, assim que começa a aquecer de novo, aquelas que sobreviveram vão continuar fazendo seu ciclo reprodutivo. Afinal de contas, o ciclo do adulto, da fêmea, ele dura em média no Brasil de 42 até 58 dias. Então você tem essa variação no ciclo do adulto e ela tem um espaço de tempo bastante grande para fazer oviposições e manter a espécie. Daí pode-se achar que melhorou a situação, mas assim que volta a ter um acréscimo térmico, a cigarrinha volta a ter condições totalmente favoráveis para que ela continue reproduzindo. Então não podemos jamais descuidar.

No Centro-Oeste, vamos começar agora a ter um incremento populacional. Nós temos aqui condições extremamente favoráveis de clima, pensando em temperatura como principal fator abiótico. Ela é altamente favorável tanto para praga quanto para ela se movimentar através da migração e se reproduzir. Nessa região, de meados de outubro para novembro, você vem de uma população menor, mas que depois explode. O agricultor já conhece isso, já está preparado. A minha preocupação maior é o agricultor do Sul porque hoje ele está com a falsa impressão que está sob controle, mas não está. Se ele não tiver o monitoramento e todas as atividades que precisam ser feitas de manejo integrado da praga, pode ter surpresas sérias na safrinha.

– Qual então é a sequencia de planejamento que o produtor precisa ter para evitar problemas com a cigarrinha lá na frente?

PG: A gente já tem que começar pensando no controle do milho tiguera. Quanto mais a gente eliminar ele do sistema agrícola, melhor será. Segundo passo. Lembrar do tratamento de semente com a escolha de produtos adequados e que estejam devidamente registrados no Ministério da Agricultura com cigarrinha do milho como praga alvo e a dose recomendada. O terceiro passo é a proteção. Monitorar a população da praga e entrar com a proteção de aplicação de produtos químicos adequados e associar ao biológico. O outro passo é detectar se está em proximidade de áreas de abrigo de cigarrinha, porque é muito importante nesses casos, durante as aplicações normais de área total, entrar com o que a gente chama de ilhagem, que é a aplicação de bordadura.

– O uso incorreto de inseticidas pode gerar perda de eficiência de moléculas contra a cigarrinha?

PG: Sim. Na escolha dos químicos, uma coisa que precisa estar muito latente no entendimento dos agricultores e da consultoria agronômica é a biologia da praga. Quem chega na área do agricultor são somente os adultos de cigarrinha, as ninfas ainda serão produzidas através da oviposição do adulto dentro da área. Então, ninfas não existem no início e o agricultor tem que pensar nisso. Tem que haver escolha de produtos com boa eficiência no controle dos adultos. Agora, a partir do estádio fenológico de V4 é que as ninfas aparecem. Elas nascem na superfície superior da folha e se deslocam para baixo e ali ficam de 15 a 18 dias. Então produtos de contato terão baixíssima eficiência no controle de ninfas.

Nós da área agronômica temos que aprender a respeitar bula. Produtos químicos têm um número máximo de aplicações permitidas por ciclo de cultura. Isso deveria ser respeitado. Segundo: esses produtos exigem um intervalo mínimo de aplicações que, normalmente, são sete dias e o que a gente vê acontecer é totalmente diferente. O uso incorreto começa a criar um desequilíbrio dentro do sistema agrícola.

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