Ferrugem-asiática da soja: como identificar, prevenir e proteger sua lavoura?
Entenda por que a ferrugem causa tantas perdas e o que fazer para se proteger.A ferrugem-asiática da soja é reconhecida como a doença mais severa da cultura no Brasil. Desde sua identificação no país, em 2001, ela permanece como uma das maiores ameaças à produtividade, podendo causar perdas entre 10% e 90% da produção, a depender das condições climáticas, do nível de monitoramento e da eficiência do manejo adotado.
Causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, a ferrugem-asiática apresenta elevado potencial de disseminação e rápida evolução no campo, exigindo do produtor uma postura preventiva, planejamento técnico e decisões baseadas em informação de qualidade.
Entenda como a ferrugem se desenvolve
O fungo responsável pela ferrugem-asiática é classificado como biotrófico, ou seja, depende da planta viva para sobreviver. Sua dispersão ocorre principalmente pelo vento e, quando encontra condições favoráveis de temperatura e umidade, a infecção acontece rapidamente.
Segundo Claudia Vieira, pesquisadora da Embrapa Soja e doutora em Fitopatologia, o ciclo do fungo é extremamente curto: “A cada 7 a 10 dias ocorre um novo ciclo de infecção, o que explica a velocidade de avanço da doença dentro da lavoura de soja”.
Essa característica torna o monitoramento contínuo indispensável, principalmente em períodos de maior umidade e temperaturas amenas.
Como identificar os sintomas da ferrugem-asiática?
A identificação da ferrugem em estágio inicial é um dos principais desafios do manejo. Os primeiros sinais surgem no baixeiro da planta, por meio de pequenas pontuações enegrecidas nas folhas, muitas vezes imperceptíveis a olho nu.
De acordo com Ximena Vilela, gerente de Marketing de Fungicidas da Bayer, a atenção aos detalhes faz diferença: “No início, os sintomas são discretos e difíceis de visualizar. Uma boa prática é observar as folhas contra a luz para facilitar a identificação das lesões iniciais”.
À medida que a doença evolui, as lesões se tornam mais evidentes e passam a liberar esporos, aumentando significativamente o risco de disseminação.
Por que a ferrugem compromete tanto a produção?
A principal consequência da ferrugem-asiática é a rápida desfolha da planta, o que reduz a área fotossintética e compromete diretamente o enchimento dos grãos.
“A ferrugem começa nas folhas inferiores e avança rapidamente. Quando o produtor percebe folhas amareladas, muitas vezes o dano já está em estágio avançado”, explica Claudia Vieira.
Ou seja, quando os sintomas se tornam visíveis a olho nu, a produtividade da safra de soja já pode estar comprometida.
Monitoramento e gestão de risco com o Consórcio Antiferrugem
Para apoiar produtores e técnicos, foi criado o Consórcio Antiferrugem, uma iniciativa nacional de monitoramento da doença. Ele reúne dados de instituições de pesquisa, cooperativas e produtores, oferecendo informações em tempo real sobre as ocorrências da ferrugem no Brasil.
Por meio de aplicativo disponível para Android e iOS, os usuários recebem alertas regionais e podem tomar decisões mais assertivas quanto ao início das pulverizações preventivas.
“Com os alertas, o produtor não precisa esperar a ferrugem-asiática aparecer em sua lavoura para agir”, reforça Ximena.
Influência do clima e das regiões na severidade da ferrugem
A intensidade da ferrugem-asiática varia conforme a região e o comportamento climático a cada safra. No Sul, fenômenos como El Niño e La Niña exercem forte influência.
Períodos de maior pluviosidade, associados ao El Niño, elevam o risco da doença, enquanto condições mais secas tendem a reduzir sua pressão. Já no Cerrado, mudanças nos sistemas de cultivo e no calendário agrícola têm contribuído para menor incidência da ferrugem em determinadas regiões.
Ainda assim, o acompanhamento constante das previsões climáticas é parte essencial da estratégia de manejo.
Boas práticas de manejo: prevenção é o melhor controle
O controle da ferrugem-asiática exige uma estratégia integrada. Nenhuma técnica isolada é suficiente para conter a doença de forma sustentada.
Entre as principais boas práticas estão:
- Cumprimento do vazio sanitário
- Uso de cultivares com maior tolerância
- Monitoramento constante da lavoura
- Aplicação preventiva de fungicidas
- Escolha correta de produtos de amplo espectro
- Respeito aos intervalos de aplicação
O vazio sanitário, adotado oficialmente desde 2006, foi um marco importante na redução do inóculo inicial da doença, regulamentação adaptada aos aspectos de cada estado.
Escolha assertiva de fungicidas
Para apoiar o produtor na tomada de decisão, a Embrapa integra uma rede nacional de ensaios que avalia, anualmente, a eficácia dos fungicidas registrados para a cultura da soja.
Os resultados são públicos e estão disponíveis na plataforma da Rede de Fitossanidade Tropical, permitindo ao agricultor acompanhar quais produtos têm apresentado melhor desempenho ao longo do tempo.
Inovação a favor do campo
A evolução constante das doenças reforça a importância do investimento em inovação. Empresas do setor mantêm programas de pesquisa e monitoramento de resistência, garantindo que as soluções acompanhem as transformações do campo.
A Bayer, por exemplo, mantém um laboratório em Paulínia (SP) dedicado ao monitoramento da resistência da ferrugem e de outras doenças relevantes da soja, como mancha-alvo, cercospora e podridão de grãos.
Em 2025, a empresa celebrou os 15 anos da família de fungicidas Fox, com o lançamento do Fox Ultra, uma tecnologia desenvolvida para ampliar o espectro de controle e contribuir para ganhos consistentes de produtividade.
Fox Ultra apresentou os melhores resultados na rede de ensaios do Consórcio Antiferrugem, tanto em controle da doença quanto em produtividade.
Diante de um cenário cada vez mais desafiador, investir em informação técnica, monitoramento e soluções integradas é a melhor forma de proteger o potencial produtivo da lavoura.
“A ferrugem-asiática exige atenção constante. O produtor de soja precisa acompanhar o clima, alertas regionais e agir de forma preventiva”, conclui Claudia."