Quebra na safra brasileira vai impactar o mercado de grãos?

A safra de grãos 2023/24 tem sido desafiadora no Brasil, sobretudo nas regiões centrais do país, em decorrência do clima.

Até o fim de dezembro de 2023, o Cerrado sofreu com a escassez de chuvas. "Provavelmente, vimos o maior replantio de soja da história brasileira, devido a perdas significativas provocadas pela irregularidade das chuvas", destaca Alexandre Mendonça de Barros, analista de mercado.

O resultado dessas adversidades climáticas começa a ficar evidente na colheita da safra de soja, com produtividades muito baixas, principalmente nas áreas que iniciaram o plantio no início da temporada.

Esse cenário também colocou pressão no calendário de plantio do milho, cuja principal oferta é na segunda safra. "O fato de termos tido tantos problemas no início do ano implica em uma certa dúvida no tamanho da safrinha que será plantada nas próximas semanas", pontua o especialista.

Por que esse cenário não beneficiou o preço da soja?

Para o analista de mercado, para entender a queda no preço da soja é necessário olhar para um conjunto de fatores. O primeiro deles é o movimento dos grandes fundos globais, que vinham comprando alimentos e mudaram de posição, vendendo de maneira muito mais agressiva. "O juro norte-americano continua alto, assim como na Europa. A inflação, por sua vez, caiu, o juro real está positivo e os grandes investidores do mundo começaram a desmontar suas posições em commodities", acrescenta.

Esse comportamento não se restringe à soja, mas é observado em todos os principais produtos com mercados futuros. Isso também está relacionado, de acordo com Mendonça de Barros, à leitura de uma safra melhor na América do Sul. Isso porque, apesar de muitas áreas do Brasil enfrentarem um momento desafiador com o clima, outras regiões e países que sofreram perdas expressivas na safra anterior - como Rio Grande do Sul, Argentina e Paraguai - estão colhendo bons resultados neste ciclo.

Na Argentina, por exemplo, a safra de soja deve se aproximar das 50 milhões de toneladas, contra pouco mais de 20 milhões em 2022/23.

Segundo Mendonça de Barros, as perdas totais da safra brasileira de soja devem ser da ordem de 17 milhões de toneladas. No Cerrado, a quebra da produção é estimada entre 26 e 27 milhões de toneladas, contudo, os resultados no Sul do país devem neutralizar parte dessas perdas.

"No nosso entendimento, há uma série de considerações a serem feitas. Ainda não temos muita clareza de quais serão as consequências de um replantio tão grande como o que houve nesta safra."

Para o analista, as chuvas mais generalizadas, registradas a partir da segunda quinzena de dezembro, tornam essas previsões ainda mais complexas. Afinal, as áreas que foram plantadas novamente podem se beneficiar de um clima mais propício para o desenvolvimento das culturas. "O cenário climático agora é melhor, por isso, estamos vendo uma safra brasileira que não vai mudar muito o contexto internacional de oferta e demanda", afirma o especialista.

Como ficam as projeções para o milho

Na opinião de Mendonça de Barros, o preço do milho deve ficar mais alto do que em 2023. Mas ele ressalta que ainda há possibilidade de plantio de milho safrinha no Mato Grosso.

Essa leitura é diferente das previsões feitas inicialmente, que projetavam uma queda na área da safrinha. Agora, a interpretação é que deve haver uma estabilidade na produção, especialmente no Paraná. Mesmo nas regiões do Cerrado, Mendonça de Barros acredita que não deve haver grande redução de área.

"O mundo inteiro está olhando para nós, pela relevância que o Brasil ocupa no cenário internacional. Por isso, é muito importante, em um ano tão difícil para analisar a safra, estarmos juntos, acompanhando dia a dia o desenvolvimento da produção brasileira", conclui.