Do campo à indústria: como a cana é exemplo na economia circular do agro

A cana-de-açúcar é um grande exemplo de economia circular no agronegócio. Está centrada no reaproveitamento completo de seus substratos e possui diversas aplicações.

No local em que é plantada, cultivada e colhida, o reaproveitamento é visível. A soqueira, por exemplo, pode dar origem a uma nova planta e, entre o 12º e 18º mês, é possível realizar o primeiro corte. Além disso, devido à capacidade de rebrota da cana, é permitido colher quatro vezes, com cortes a cada 12 meses.

Renato Machado, analista técnico de sustentabilidade da Sociana, Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba, SP, explica quais são as principais formas de aproveitamento da cana . "No século 21, a cana também está sendo aproveitada como ativo de mercado, com os CBIOs , ou seja, os créditos de descarbonização. A cana gera ainda créditos de carbono , isso entra em um balanço positivo de sequestro de carbono e gasto de consumo para seus produtos, além de créditos voluntários que são protocolos que os produtores seguem na produção de cana-de-açúcar e são beneficiados por isso."

Os produtos e coprodutos da cana

Os primeiros resíduos durante a colheita da cana são as folhas ou a palha. Grande parte da palhada é separada pelas colhedoras, que possuem exaustores e deixam a maioria dessa palha seca sobre o solo. "A palha no chão ajuda na conservação de solo, no manejo e no acúmulo de matéria orgânica no solo. Só que essa mesma palha, junto com o bagaço, também pode entrar na cogeração de energia ", comenta Renato.

A indústria processa a cana para produzir açúcar, etanol e energia. A energia é o primeiro produto que pode ser mencionado no processo de transformação que ocorre na caldeira. Queimando bagaço e palha, a energia pode ser térmica e elétrica. O etanol vem do caldo extraído da cana no processo de fermentação e destilação, já o açúcar envolve uma etapa de cozimento e uma outra etapa para a evaporação da água.

Em relação aos coprodutos da cana, é possível citar a levedura, que é vendida como matéria-prima para ração animal, rica em aminoácidos, vitamina B e proteínas, além da vinhaça que, com o auxílio de um biodigestor, gera metano, chamado também de biogás e que pode ser usado para abastecimento de motores de combustão ou geração de energia elétrica.

"A vinhaça e a torta de filtro, dependendo da logística, podem gerar uma redução de gastos com a adubação química porque elas entram como complementares e isso otimiza muito o sistema", observa o analista da Socicana.

Referência em bioenergia

A Raízen, empresa referência em bioenergia, é destaque no modelo de economia circular , se envolvendo em vários dos processos mencionados. Ela se diferencia por potencializar novas colheitas, diminuir geração de resíduos e regenerar sistemas. "A empresa se baseia nos princípios da economia circular, ou seja, reduzir a geração de resíduos e poluentes relacionados à atividade industrial ou agrícola; manter o valor dos produtos e subprodutos envolvidos no processo produtivo; e promover a regeneração do campo", conta Rafael Guimarães, coordenador de sustentabilidade da Raízen.

A Raízen utiliza a cinza, a torta de filtro e a vinhaça como fertilizantes naturais, reduzindo o uso de fertilizantes sintéticos. "Temos a oportunidade de oferecer a vinhaça e a própria cinza, que são nutrientes para adubar o solo, para alguns fornecedores de cana ou para nosso próprio sistema produtivo. Isso, de fato, gera valor para essa cadeia, na qual resíduos desse processo podem voltar para o campo e alimentar o sistema produtivo", explica Rafael.

Para otimizar a gestão da área cultivada e ganhar competitividade, o investimento em inovação é necessário. Por isso, para tornar os processos da cultura da cana mais eficientes, desde o plantio até a colheita, o produtor Luiz Felipe Santos, de Junqueirópolis, SP, conta que utiliza softwares que ajudam a entregar o melhor potencial de produtividade, ter mais qualidade de matéria-prima colhendo na época certa e monitorar as pragas.

Inúmeras ferramentas digitais auxiliam na gestão da área agrícola de usinas e fornecedores de cana, como o Climate FieldView™, que aposta fortemente no setor canavieiro desde 2019. "O Climate FieldView™ vem nos dando um apoio muito grande em relação às manchas na área de pragas de solo, ajudando nas estimativas. No último ano, também tivemos vários pontos de geadas e o FieldView ajudou a identificar essas manchas", conclui Luiz.