Desafios do mercado de cana-de-açúcar na safra atual
Entenda a importância do mercado da cana-de-açúcar para o Brasil e o impacto que as queimadas recentes provocaram no setor, afetando diretamente a plantação de cana-de-açúcar.O mercado da cana-de-açúcar enfrenta desafios significativos nesta safra. No ciclo anterior, a produção brasileira de cana-de-açúcar atingiu um recorde, com mais de 654 milhões de toneladas processadas. Entretanto, condições climáticas adversas vêm gerando preocupações entre os produtores nesta temporada.
"Costumo dizer que a safra 2023/2024 é uma verdadeira ‘safra de porta-retrato’, marcada por recordes de produtividade e preços elevados. Por isso, ao conversarmos com profissionais do setor sucroenergético, muitos tendem a considerar a safra atual insatisfatória. Mas isso não é totalmente preciso; ela apenas não está tão favorável quanto a do ano passado", afirma João Botão, sócio-diretor do Pecege Consultoria e Projetos.
Segundo ele, a escassez de chuvas e o estágio de corte dos canaviais — etapas importantes no ciclo da cana-de-açúcar — estão entre os principais fatores que contribuíram para a queda na produtividade na safra 2024/2025, afetando diretamente a plantação de cana-de-açúcar em diversas regiões.
Impacto das queimadas na produção de cana-de-açúcar
As queimadas recentes em importantes regiões produtoras de cana-de-açúcar causaram impactos significativos na biodiversidade local, comprometendo também o solo, a produtividade e a qualidade da matéria-prima.
Nesse cenário, Renato Bezerra, líder de marketing da Bayer para cana-de-açúcar, destaca a importância de considerar o estágio do canavial afetado. "Para as canas altas que foram queimadas, a orientação é que, sempre que possível, elas sejam colhidas rapidamente. Quanto menos tempo a cana-de-açúcar permanecer exposta no campo, menor será o impacto e as perdas", explica.
Bezerra acrescenta que a cana-de-açúcar de médio porte ou aquela queimada logo após a colheita pode exigir intervenções adicionais, como roçagem e novas aplicações de defensivos. "É crucial estar atento ao momento de realizar essas operações, pois, quanto mais tempo demorar, maiores serão os impactos", enfatiza.
João Botão, sócio-diretor do Pecege Consultoria e Projetos, também ressalta os prejuízos econômicos e as complicações geradas pelas queimadas. Mesmo em áreas já colhidas, produtores que haviam investido em tratos culturais, etapa importante no ciclo da cana-de-açúcar, enfrentam aumento nos custos de produção.
José Guilherme Nogueira, CEO da Orplana, apresenta dados que ilustram a gravidade da situação: no estado de São Paulo, aproximadamente 263 mil hectares foram afetados; em Minas Gerais, 60 mil hectares; em Goiás, 40 mil hectares; no Mato Grosso, 19 mil hectares; e no Mato Grosso do Sul, 28 mil hectares. “Precisamos implementar medidas para evitar que isso ocorra novamente, não apenas utilizando caminhões-pipa, mas desenvolvendo planos de ação emergenciais", alerta.
Apesar da vasta área de plantação de cana-de-açúcar atingida, Botão acredita que não haverá alteração nos preços pagos ao produtor. "A expectativa é de que a produtividade caia 12% em relação à safra anterior, que, por sua vez, havia crescido 15%. Portanto, o cenário de preços para o produtor continua positivo", justifica.
O papel dos produtores de cana-de-açúcar no combate aos incêndios
Os produtores de cana-de-açúcar desempenham um papel fundamental na prevenção de incêndios nas lavouras. João Botão destaca que, para cada três colhedoras em operação, há um caminhão-pipa dedicado ao combate e à prevenção de incêndios, sem contar outros veículos alocados nas áreas de plantação de cana-de-açúcar.
Além dos caminhões, outras estratégias são adotadas para minimizar o risco de incêndio, como a operação de asseiro, prática que consiste em manter uma faixa de terra limpa, reduzindo o potencial de alastramento das chamas. "A rotação de culturas, o uso de áreas irrigadas e a limpeza das divisas das propriedades e das linhas de energia também são práticas essenciais", comenta Renato Bezerra.
Para mitigar os riscos, é indispensável utilizar ferramentas e produtos que proporcionem controle prolongado. A Bayer oferece em seu portfólio soluções como Alion® e Provence® Total, que auxiliam nesse processo.
O treinamento das equipes e a conscientização sobre os procedimentos de prevenção também são etapas fundamentais no manejo sustentável da monocultura de cana-de-açúcar. "É importante destacar que os produtores de cana-de-açúcar formam uma classe unida. Em situações de incêndio, usinas e produtores, independentemente do porte, colaboram para proteger o meio ambiente e a comunidade", reforça Bezerra.
Perspectivas para a reta final da safra de cana-de-açúcar
O professor Marcos Fava Neves recorda que, na safra 2023/2024, foram colhidas cerca de 650 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Para a safra 2024/2025, a expectativa inicial era de aproximadamente 600 milhões de toneladas, mas essa projeção foi revisada para 550 milhões devido à seca prolongada nas principais regiões produtoras.
"A escassez de chuvas nos canaviais poderá trazer consequências para o próximo ano. As queimadas agravam ainda mais o cenário, impactando o ciclo da cana-de-açúcar e alterando as questões logísticas de colheita", observa o Doutor Agro.
Planejamento da próxima safra deve considerar cenário climático
Bezerra ressalta que períodos de déficit hídrico prolongado e o aumento das temperaturas médias, como os registrados nesta temporada, exigirão ajustes por parte dos produtores e das usinas no calendário das operações de plantio e colheita de cana-de-açúcar.
"É vital que os produtores considerem essas variáveis e adotem práticas de manejo que favoreçam um controle eficaz a longo prazo, utilizando produtos de alta eficiência. Além disso, é preciso realizar a rotação de ativos químicos e adotar manejos sustentáveis, com produtos que preservem os inimigos naturais," afirma.
Nesse contexto, a Bayer oferece soluções como Belt®, indicado para o controle da broca-da-cana, e Curbix®, que recebeu registro de extensão para combater o Sphenophorus, outra praga comum nas plantações de cana-de-açúcar.
Botão complementa que, no cultivo da cana-de-açúcar, é imprescindível combinar ações de curto e longo prazo para garantir o sucesso da atividade, estruturando estratégias, investimentos e tecnologias que ajudem a mitigar prejuízos em anos desafiadores.
O papel das tecnologias de monitoramento climático
O uso de tecnologias de monitoramento climático no campo permite aos produtores analisar dados em tempo real e coletar informações que favorecem decisões mais assertivas. "Os produtores devem avaliar como essas ferramentas se integram à sua realidade e às condições específicas de cultivo. A tecnologia auxilia na escolha das melhores variedades, no manejo adequado e na utilização de produtos eficazes," afirma Renato Bezerra, líder de marketing da Bayer para cana-de-açúcar.
No caso da cana-de-açúcar, essas soluções se mostram ainda mais estratégicas, pois contribuem para otimizar o ciclo da cana-de-açúcar e ampliar os benefícios da cana-de-açúcar para a produtividade e a rentabilidade da lavoura.
Um exemplo é o Climate FieldView®, uma das plataformas mais utilizadas globalmente e amplamente aplicada na cultura da cana-de-açúcar. A ferramenta oferece mapeamento de imagens e análise de dados que apoiam o manejo eficiente das plantações de cana-de-açúcar. Por meio da coleta e interpretação de informações, a plataforma auxilia no planejamento, nas estimativas de safra e na medição do ATR (Açúcar Total Recuperável), além de fornecer subsídios para decisões mais precisas durante todo o processo produtivo..
Plantação de cana-de-açúcar: exemplo de equilíbrio na agricultura
O cultivo da cana-de-açúcar é referência em produtividade e sustentabilidade no Brasil. A colheita mecanizada da cana-de-açúcar crua, por exemplo, contribui para preservar o solo, reduzir a degradação ambiental e minimizar a emissão de gases poluentes.
Além disso, a plantação de cana-de-açúcar gera uma variedade de produtos, como etanol, açúcar, biomassa, biogás e até combustível renovável para a aviação. "A cana-de-açúcar é uma fonte de energia limpa e renovável, com o etanol desempenhando um papel essencial na redução das emissões de gases de efeito estufa. Cada parte da planta é aproveitada, incluindo subprodutos que funcionam como fertilizantes naturais, como a vinhaça e a torta de filtro," destaca Bezerra.
Segundo Botão, a tendência é que o portfólio de produtos e soluções sustentáveis derivados da cana-de-açúcar continue a se expandir nos próximos anos. "A cultura representa cerca de 2% do nosso PIB, gerando emprego e renda de forma sustentável em milhares de municípios. A evolução do setor nas últimas duas décadas é notável."
O professor Marcos Fava Neves também enfatiza a importância econômica e social dessa cultura. "A cana-de-açúcar tem um papel histórico na sociedade brasileira. Somos privilegiados por dispor dessa potência energética. Atualmente, o Brasil responde por 50% das importações globais de açúcar, o que evidencia as inúmeras contribuições do setor para a melhoria de indicadores econômicos, sociais e ambientais," conclui.