Blog do Agro

Silagem de milho: como produzir com qualidade e rentabilidade?

Saiba mais sobre aspectos da produção e processamento dos grãos destinados à silagem, além das perspectivas de mercado para o setor29 de junho de 2023 /// 7 minutos de leitura

Saiba mais sobre aspectos da produção e processamento dos grãos destinados à silagem, além das perspectivas de mercado para o setor

  A produção de silagem de milho é uma atividade de grande valor na produção agropecuária e que proporciona muitos benefícios quando há a integração entre agricultura e produção animal.

No Brasil, estima-se que entre 18% e 22% da área plantada de milho seja destinada à produção de silagem, o que representa 4,5 milhões de hectares.  A técnica de silagem surgiu no Brasil no final do século XIX e o milho é a cultura mais utilizada para a produção do volumoso, que é um dos principais componentes da nutrição animal. Mas, para alcançar bons resultados de produtividade nessa atividade, é preciso se atentar a diversos fatores, começando pela própria produção do grão.

"O milho é a matéria-prima para produção do alimento dos ruminantes e depois vai se transformar em leite. Exatamente por isso, todo cuidado na produção dessa matéria-prima é necessário. É importante lembrar dos aspectos básicos para se alcançar alta produtividade de grãos, que são a fração nobre da silagem, assim como alta produção de massa seca por hectare", destaca Marcos Palhares, engenheiro agrônomo de desenvolvimento de mercado na Bayer. 

Segundo Palhares, esses cuidados começam pela análise de fertilidade do solo para conhecer muito bem o ambiente de produção da fazenda e o histórico de produtividade dos talhões, além de considerar a época de plantio da cultura em questão e todo manejo que será necessário. "E aí entra uma parte muito importante nessa história que é a escolha da semente. Não adianta implementar uma série de cuidados e tecnologias se o produtor não escolher uma genética adequada", acrescenta o especialista.   

Principais aspectos no cultivo de grãos para silagem

Existem algumas diferenças no cultivo de milho para silagem em relação ao cultivo exclusivo de grãos. Na hora da colheita, o corte das plantas para silagem, por exemplo, deve ser feito a uma altura de 20 a até 40 centímetros. "Ou seja, você está levando para fora da área praticamente tudo aquilo que foi produzido acima do nível do solo, então, todos os nutrientes presentes na parte aérea da planta são retirados. Com isso, há uma extração muito alta de nutrientes e é necessário fazer a reposição", diz Palhares.  Além da nutrição das plantas, é primordial fazer manejo contra pragas, doenças, plantas daninhas e tudo o que puder interferir no desempenho da lavoura para garantir maior volume e valor nutricional do produto.  Sobre o híbrido de milho usado no cultivo para silagem, é necessário optar por um tipo que promova alta produção de massa seca e, posteriormente, alta produção de grãos. "Outro ponto importante é posicionar híbridos com alta tolerância às principais doenças foliares da cultura do milho, que não promovam tombamento e quebramento e que tenham colmo grosso, ou seja, que levem menos lignina para dentro do silo porque isso interfere no processo de digestibilidade", recomenda Adriano Devolio, engenheiro agrônomo e representante técnico de vendas na Bayer.

De acordo com ele, é necessário também que o híbrido de milho garanta alta digestibilidade tanto da fibra como dos grãos. Todos esses fatores são preponderantes para que o agricultor tenha maior produtividade, qualidade e rendimento.   

Alta produtividade de leite com sustentabilidade

Geraldo Viotto é economista e produtor de leite em Turvolândia, Minas Gerais. Ele começou na atividade em 1996 e atualmente produz 21 mil litros por dia em sua fazenda.  Aliás, Geraldo tem muita experiência em aliar uma produção sustentável com alta rentabilidade. 

"Como o Palhares já comentou, a produção de milho para confecção de silagem é altamente extratora. Nos últimos anos, eu vinha tentando trabalhar nos períodos da entressafra com aveia e outras culturas, mas, por questões de clima, essas lavouras estavam deixando muito a desejar em termos de desenvolvimento. Ou seja, eu achava que o solo estava coberto, mas na realidade não estava. A cobertura era insuficiente para a necessidade do meu sistema", conta o produtor.

A partir de conversas com técnicos da Bayer, Geraldo implementou em sua fazenda o Sistema Santa Fé, que é o consórcio milho-braquiária. Na mesma época do plantio do milho, ele distribuiu quatro quilos de Brachiaria ruziziensis por hectare, com atenção para fornecer os nutrientes necessários para ambas as plantas se desenvolverem adequadamente.  Para repor esses nutrientes, é indicado que o produtor que planta milho para silagem reserve de 30% a 40% dos custos de produção para investir em fertilizantes, recomenda Palhares.  Como no cultivo do milho para silagem é feita a extração inteira da planta, o solo pode permanecer sem cobertura até o próximo plantio, o que também favorece o desenvolvimento de plantas daninhas de diversas espécies. "Quando você coloca a braquiária, ela inibe o desenvolvimento de outras espécies de plantas daninhas. Você tem ainda a ciclagem de nutrientes, tem uma produção de palhada que fica sobre o solo, então, você coloca matéria orgânica, melhora a fertilidade e aumenta o poder de absorção de água pelo solo, evitando a erosão das primeiras chuvas de verão que geralmente são intensas", afirma Palhares. Tudo isso promove uma série de benefícios que vai acarretar maior produtividade por hectare e produção de silagem com qualidade.

Além da braquiária, outras culturas de inverno podem ser introduzidas no sistema, como leguminosas, tremoço e crotalária, elevando a produtividade na cultura subsequente e reduzindo custos.  Por isso, do ponto de vista da sustentabilidade, o consórcio milho-braquiária também é uma prática inovadora, de acordo com Marcos Fava Neves. "Nós temos uma chance muito grande de crescimento da demanda, mas tem que ter eficiência e tecnologia. O Brasil está trabalhando muito bem com iniciativas como essa, com a questão da agricultura circular e dos consórcios. Quanto mais a gente puder usar os ativos, melhor será."  

Recomendações para o processamento da forragem

Concluída a etapa do cultivo de milho, é chegada a segunda fase, que também merece muita atenção: o processamento da forragem. 

O processo de confecção e conservação do material é crucial para obter o rendimento desejado. O teor de matéria seca da forragem no momento da ensilagem é um fator determinante para o processo fermentativo e consequentemente para a qualidade do produto. 

O ponto ideal para a colher é quando a planta possui de 30% a 35% de matéria seca, ou 65% a 70% de umidade, pois possibilita um adequado desenvolvimento das bactérias desejáveis. 

Outro aspecto que o agricultor tem que considerar para saber o momento exato de realizar a colheita é determinar a linha do leite, conta Adriano. "Em nossas visitas, determinamos a linha do grão para auxiliar o agricultor a iniciar o processo de colheita, porém, temos algumas situações que devem ser consideradas. Quando o agricultor tem uma máquina de alto rendimento, pedimos para ele cortar essa silagem com 35% até 38% de matéria seca, mas alguns agricultores não têm essas máquinas de alto rendimento. Uma alta motriz colhe cerca de 15 hectares por dia, enquanto uma máquina de menor rendimento colhe 2 hectares. Então temos que orientar esse agricultor a colher, no mínimo, 30% de matéria seca. O que nós não indicamos é colher abaixo de 30% de matéria seca porque isso vai resultar em uma silagem de péssima qualidade."

Além de acertar o ponto da colheita, Palhares reforça que o tamanho da partícula é muito importante na fase de processamento do grão. Segundo ele, existe uma regulagem das máquinas, tanto na de menor como na de maior rendimento, que estabelece um parâmetro de comprimento e tamanho de partícula. Cortar uma partícula muito grande ou muito pequena afeta diretamente o perfil de fermentação dentro do silo e até o consumo dos animais posteriormente. 

"Eles vão separar no coxo aquilo que for muito grande e, muitas vezes, a parte mais fina acaba trazendo algum problema nutricional no metabolismo. Se o produtor tiver ensilado grãos inteiros, não vai dar tempo desse grão ser digerido pelos animais e vai sair nas fezes. Ou seja, joga fora todo o investimento feito. Por isso, o monitoramento do tamanho da partícula e do craqueamento dos grãos deve ser constante", alerta. 

Depois do processamento, deve ser feita a compactação, seja no silo bolsa, silo trincheira ou silo de superfície. De acordo com Palhares, a densidade de compactação deve ser de 700 quilos por metro cúbico. Por fim, na sequência é feita a vedação do silo.   

Como a silagem interfere na produtividade dos animais e na qualidade do leite?

A silagem de milho é o principal ingrediente na dieta de um ruminante. "Eu sempre digo que a silagem é o pavimento do rúmen da vaca. Quanto melhor for, eu consigo andar com maior segurança, maior velocidade, extrair o melhor do que estiver ali. Por isso, quem tem uma silagem de qualidade, bem produzida, tem todas as ferramentas na mão para ter sucesso na atividade. O produtor de leite que não tiver excelência na agricultura não vai ter excelência na atividade.", afirma Geraldo. 

De acordo com dados da Embrapa, o custo com alimentação na produção de leite gira em torno de 40%, mas pode chegar a 70%. Geraldo conta que, em sua propriedade, os custos subiram nos últimos anos em decorrência da alta dos insumos e ingredientes. Atualmente, o custo dele com alimentação dos animais gira em torno de 44%. "Quanto mais o insumo sobe, maior é a participação dele dentro do seu custo. Mas se o produtor tem uma silagem deficiente, ele vai acelerar o consumo de concentrados e essa participação sai dos 44% para 50%, 55% e o plantel total vai a 70%. Esse produtor não consegue se manter na atividade. Quem não se atentar a esses detalhes, não vai se adequar", acredita o produtor rural. 

Ele ressalta ainda que, ao fornecer silagem de baixa qualidade para as vacas, ocorre uma má fermentação e, por consequência, começam a aparecer doenças metabólicas no rebanho. 

Nesse sentido, Palhares explica que o amido processado adequadamente estimula a reprodução de microrganismos em grande quantidade e na velocidade correta, fomentando a ciclagem de proteína microbiana pelos animais. Isso também reduz a demanda por suplementos proteicos, contribuindo nos custos. "A mensagem geral é que o objetivo de qualquer produtor de leite ou de gado de corte deve ser aumentar a quantidade de silagem na dieta", acrescenta o engenheiro agrônomo.  

Cenário de preços para o leite e desafios para o cultivo do milho

Na análise do professor Marcos Fava Neves, as perspectivas para os preços do leite são positivas. "Eu acredito que a economia brasileira vem mais forte no segundo semestre e no cenário global também deve haver uma aceleração do crescimento. Então, do lado da demanda, temos boas notícias. Do lado da oferta, o produtor sem dúvida nenhuma vai ter um custo de ração mais baixo, o que para a produção de leite é fundamental."

Já para reduzir custos com o cultivo de milho para silagem, segundo Adriano, o produtor deve aumentar a produtividade média. Para isso, o primeiro ponto é fazer uma análise de solo e selecionar híbridos de acordo com o ambiente de produção para determinar a população e a finalidade desse híbrido. 

"Ao acertar o timing da dessecação pós-colheita, fazer o manejo de pragas e doenças e acertar o ponto da colheita, o produtor consegue aumentar a produtividade e reduzir custos. Mas a figura do engenheiro agrônomo vai ser essencial na participação de todo esse planejamento para que tudo seja feito na hora certa", sugere Adriano.  

O que vem por aí na atividade de silagem no Brasil

Na visão de Geraldo, o Brasil tem passado por um momento de transição, com o fechamento de pequenas propriedades e o crescimento dos sistemas de confinamento de gado. "Então, a necessidade da produção de silagem aumenta. Consequentemente, é necessário melhorar o solo, os tratos culturais e tecnificar todas as operações para ter um desempenho superior." Palhares concorda e diz que o país assiste a uma profissionalização constante do setor, afinal, a atividade exige gestão, visão empresarial e planejamento. "Você tem que entender de agricultura para produzir uma boa matéria-prima, processar essa matéria-prima adequadamente e fornecer para os animais da maneira correta, fazendo muita conta. Então, tem uma certa complexidade maior do que a produção de grãos para a indústria", completa. Na opinião dele, o mercado tende a se manter estável por um tempo, mas a tendência é que a área cultivada de milho para silagem deve aumentar. 

"Se você analisar a evolução da pecuária leiteira nos últimos 15 anos, ela teve um salto muito grande no que se diz respeito à genética de animais e na produção de silagem. Conforme a genética animal evolui, a produção de silagem ganha mais importância dentro da dieta. Eu acredito, assim como o Palhares, que teremos um momento de estabilidade para depois haver um crescimento, até porque acho que a atividade tende a se globalizar", conclui Adriano.

exclusivo para usuários logadosArtigos com seus temas de interesseRealize seu login para escolher os temas de seu maior interesse. Você poderá acessá-los a qualquer momento, sem perder de vista nenhum conteúdo de relevância pra você.