Agronegócio brasileiro tem oportunidade histórica com novos rumos da geopolítica mundial
O analista de mercado Alexandre Mendonça de Barros explica como o país pode assumir o protagonismo no fornecimento global de alimentos19 de março de 2023 /// 5 minutos de leituraCom o redesenho da geopolítica mundial, o Brasil tornase um player ainda mais importante no comércio internacional. Para o analista de mercado Alexandre Mendonça de Barros, esta pode ser a maior oportunidade na história do agronegócio brasileiro para assumir o protagonismo no mercado global de alimentos.
O especialista em agronegócio diz que a série histórica do Índice de Preços da Alimentos da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), com os indicadores mais altos das últimas décadas, tem gerado debates sobre como vai funcionar o arranjo de oferta e demanda de alimentos no mundo. Mendonça de Barros faz uma análise histórica para entender o atual cenário e como o Brasil tem papel fundamental para fechar essa equação.
Um histórico do comércio mundial de alimentos
Em 1990, os Estados Unidos eram a grande potência agrícola, com um saldo comercial que chegava perto de 20 bilhões de dólares. Na América do Sul, Brasil e Argentina apresentavam números parecidos nas exportações, na ordem de 7 bilhões de dólares.
"É importante destacar também os dados da China, com um pequeno superávit de 2 bilhões de dólares nas exportações. É impressionante a grande explosão agrícola no país, mas a renda do chinês não era tão alta quanto é hoje. A China cresceu muito nessas últimas três décadas, aumentou seu poder aquisitivo", frisa Mendonça de Barros.
O gráfico mostra os maiores exportadores de alimentos naquele ano, ou seja, os países que apresentavam superávit:
O país com o maior déficit era o Japão, com um saldo negativo de quase 50 bilhões de dólares no consumo de alimentos. A Europa também era uma região deficitária e importava muitos produtos brasileiros como carne bovina, grãos e café.
Os dados mais recentes da Organização Mundial do Comércio (OMC) dão um panorama do comércio internacional de alimentos em 2020 e mostram as profundas mudanças ocorridas neste período.
"A primeira percepção é a de que o Japão continua um grande importador de alimentos, com um déficit comercial agrícola na casa de 65 bilhões de dólares. A China, de pequena exportadora, se transformou no maior déficit comercial agrícola do mundo, com - 138 bilhões de dólares. Já o Brasil, com um superávit de 81 bilhões de dólares, torna-se um dos maiores parceiros comerciais do país asiático", analisa Mendonça de Barros.
Ainda sobre os números atuais, ele aponta que a região do Oriente Médio se converteu em uma grande importadora de alimentos, com um déficit de 62,8 bilhões de dólares.
Com o aumento da renda na Coreia do Sul, o país também se tornou deficitário na produção de alimentos.
As transformações na agricultura da Europa
Neste período, a Europa passou por uma grande mudança: de uma região importadora para exportadora de alimentos, alcançando superávit de 55 bilhões de dólares.
"Isso aconteceu porque, quando o comunismo acabou, a Europa montou estratégias para desenvolver a economia dos países do leste, que eram muito mais pobres. Muitas dessas estratégias estavam apoiadas na agricultura, pois o potencial agrícola da região não era totalmente aproveitado. Com isso, os europeus ocidentais começaram a investir no Leste, a tecnologia aumentou e gerou um comércio dentro da Europa, ampliando a produção. Por isso, passaram a exportar para o resto do mundo", contextualiza Mendonça de Barros.
De acordo com o analista de mercado, a Ucrânia foi um dos grandes destaques dessa estratégia. Agora, por conta da guerra da Rússia com a Ucrânia, a Europa Ocidental não sabe se poderá continuar dependendo do fornecimento de alimentos da Europa Oriental. "Eu acredito que não e esta é a primeira grande cisão entre as economias europeias", opina.
Além disso, com o Brexit, o Reino Unido não precisa mais seguir as regras da comunidade europeia. Isso também abre uma possibilidade comercial muito relevante para o Brasil, de acordo com o analista.
As oportunidades para o agro brasileiro
Outro ponto destacado por Mendonça de Barros é que os Estados Unidos, embora sejam a segunda maior agricultura do mundo depois da China, e um gigante na exportação de alimentos, ficaram com um déficit de 16 bilhões de dólares na sua produção, portanto, consumindo mais do que exporta.
Há ainda outros conflitos envolvendo Estados Unidos e China, que acabam abrindo oportunidades para o Brasil.
"Se olharmos para esse quadro, o Brasil tem uma posição estratégica, pois faz comércio com todos os lugares do mundo. Não é à toa que atingimos um saldo comercial agrícola de mais de 80 bilhões de dólares em 2020. Para este ano, provavelmente vamos passar os 100 bilhões, a maior oportunidade da nossa agricultura. Portanto, neste momento de tensão nos mercados internacionais, o Brasil é um parceiro potencial que pode resolver o problema de segurança alimentar no mundo", conclui.