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Os destaques para o milho do campo ao mercado global

Convidados do Impulso Cast falam sobre as projeções para o mercado de milho, os fatores que impactaram a produção nas últimas safras e como combater a principal praga da cultura19 de fevereiro de 2023 /// 15 minutos de leitura

O Brasil é o terceiro maior produtor global de milho, atrás somente dos Estados Unidos e da China.

Nas exportações, o país ocupa o segundo lugar e deve responder por 25% das vendas em 2022/23, superando 46 milhões de toneladas, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

Para falar sobre a importância do milho a nível nacional e mundial, além das perspectivas de mercado e o manejo da cigarrinha , a principal praga da cultura, o jornalista e apresentador do Impulso Cast, Dony De Nuccio, recebeu o agrônomo e especialista de desenvolvimento de mercado na Bayer, Paulo Garollo, a produtora Vitória Cimadon, de Campo Verde, MT, e Marcos Fava Neves, professor e especialista em agronegócio.

Balanço das últimas safras de milho

Depois de uma safra afetada por secas e geadas em 2020/2021, quando foram produzidas 87 milhões de toneladas de milho, o Brasil alcançou quase 113 milhões de toneladas neste ciclo, um aumento de 30%.

Sobre a influência do clima nas lavouras, Garollo conta que, em Goiás, região onde atua, além da falta de chuvas, a variação climática também foi um fator que causou impactos. "Há 40 anos não geava em Goiás. Tivemos áreas de safrinha que foram extremamente prejudicadas. Então, esses são aprendizados que temos ao longo da nossa atividade. Pragas, doenças e essas interações entre planta e ambiente acabam sendo muito expressivas no resultado final da safra", analisa o especialista da Bayer.

Na opinião dele, o surgimento de novas pragas, como o pulgão e o ácaro, que têm aparecido em lavouras de milho, também está relacionado ao uso inadequado de produtos químicos. Por isso, ele ressalta a importância de sistemas de manejo eficientes.

No campo, Vitória conta que a falta de chuva no Mato Grosso causou uma quebra em sua produção, mas a janela de plantio adequada ajudou a amenizar os prejuízos. Para tomar decisões mais assertivas, ela acompanha as previsões e consulta os históricos de safras anteriores. "Eu tive quebra de produção, mas colhi bem em alguns talhões, então ficou tudo dentro do planejado, da margem que eu trabalho."

Como aumentar a eficiência das lavouras

Para aumentar a eficiência na lavoura, além da escolha de uma boa janela de plantio, Garollo destaca a adequação de híbridos de acordo com o ambiente de cultivo. Nesse sentido, ele menciona projetos da Bayer que aprimoram as características agronômicas da planta para que elas sejam mais eficientes em condições restritivas.

Ele também chama a atenção para a necessidade de proteção das plantas. "O agricultor tem que se atualizar para melhorar o manejo de pragas, doenças e plantas daninhas. E isso não significa mais gastos, mas adequar aquilo que o agricultor tem em mãos. Isso vai otimizar o resultado da produção e aumentar a lucratividade, afinal, tem que sobrar dinheiro no bolso do produtor", explica.

Dicas para controlar a principal praga do milho

Vitória conta que a cigarrinha-do-milho tem causado problemas em sua lavoura. De fato, o inseto é a principal praga da cultura.

"Não é uma praga nova, mas não sabíamos lidar com ela e tivemos que aprender a controlá-la. A cigarrinha não é igual ao percevejo, que você vê o dano logo no seu pé de milho. Os prejuízos aparecem no final. Até entendermos que precisávamos controlar nas fases iniciais, deu muito trabalho", relembra a produtora. Segundo ela, a cigarrinha-do-milho causou uma queda de até 20% na sua produção no decorrer das duas últimas safras.

Garollo explica que a cigarrinha é um vetor de transmissão de doenças do complexo de enfezamento. "Ela é como uma seringa cheia de bactérias e vírus e injeta essas doenças na planta", compara o especialista.

As principais bactérias transmitidas pela cigarrinha são o fitoplasma, responsável pelo enfezamento vermelho, e o espiroplasma, causador do enfezamento pálido. Além disso, ela transmite outro vírus chamado raiado fino ou vírus da risca.

Para combater a cigarrinha-do-milho, Garollo diz que a solução passa pela conscientização dos produtores sobre a importância do manejo. "O agricultor que não faz um bom manejo é um doador de pragas para todos os seus vizinhos. No caso da cigarrinha, a migração pode atingir uma área de 20 km, então não é só o vizinho de cerca. E tem mais: manejar essa praga vai além de aplicar o produto, é necessário criar uma estratégia de utilização dos melhores produtos a cada momento de aplicação", alerta.

Perspectivas de preços e pontos de atenção

O professor Marcos Fava Neves explica que mesmo com o aumento da oferta de milho, a situação geopolítica na Ucrânia, além da seca na Europa e na China contribuíram para a manutenção dos preços do cereal.

No entanto, ele alerta para a alta nos custos de produção, que precisa ser controlada. "Apesar dos preços altos, o produtor brasileiro teve um custo de produção muito elevado. Passamos por uma situação difícil com fertilizantes, defensivos, energia, transporte e aumento da taxa de juros. Em algum momento, o preço vai começar a baixar, por isso, temos de lutar para derrubar esses custos também", reforça.

Entre novembro de 2021 e março de 2022, os preços médios do milho saltaram de R$ 84 para R$ 99 reais por saca. Nos últimos meses, tem permanecido em torno de R$ 82 reais a saca.

De acordo com Fava Neves, a alta nos custos de produção pode impactar principalmente o setor de proteína animal, a produção de frango, suínos e leite. "A estratégia é baixar o custo para o preço cair um pouco e possibilitar que os usuários do milho tenham margens para continuar sua expansão", acrescenta.

Estratégias para as próximas safras

A produção de grãos na safra 2022/23 deve alcançar 308 milhões de toneladas, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o que representa um crescimento 14% em comparação com o ciclo anterior. No milho, serão 125 milhões de toneladas, um crescimento de 9%.

Nesse contexto, o Fava Neves mantém boas expectativas em relação aos preços do milho, considerando a alta demanda tanto para o etanol de milho como para a proteína animal, o fato da China ter ampliado as compras do milho brasileiro, além da queda da produção nos Estados Unidos e a guerra na Ucrânia. "O produtor de milho pode esperar a manutenção desses preços. O mercado sinaliza isso e o agricultor pode, inclusive, vender sua safra antecipadamente."

Por fim, para manter a saúde, produtividade e rentabilidade das lavouras de milho, Garollo recomenda um monitoramento constante e a busca por inovações que possam trazer mais vantagens ao produtor. "Nós temos que manter o foco em monitoramento e entender que trabalhamos em uma atividade de desafios constantes. Portanto, é preciso buscar cada vez mais conhecimento para melhorar ano a ano."

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