Os destaques para o milho: do campo ao mercado global
Convidados do Impulso Cast analisam as projeções para o mercado de milho, os fatores que influenciaram a produção nas últimas safras de milho e como combater a principal praga da cultura.O Brasil é atualmente o terceiro maior produtor global de milho, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da China.
No comércio internacional, o país já ocupa a segunda posição em exportações e, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), deve responder por cerca de 25% das vendas na safra de milho 2022/23, superando a marca de 46 milhões de toneladas.
Para discutir a relevância do milho no cenário nacional e no mercado global, além das perspectivas para as próximas safras de milho e as estratégias de manejo contra a cigarrinha – principal praga que ameaça a lavoura de milho – o jornalista e apresentador do Impulso Cast, Dony De Nuccio, conversa com o agrônomo e especialista em desenvolvimento de mercado da Bayer, Paulo Garollo, a produtora Vitória Cimadon, de Campo Verde (MT), e o professor e especialista em agronegócio Marcos Fava Neves.
Balanço das últimas safras de milho
Após uma safra de milho marcada por secas e geadas em 2020/2021, quando o Brasil produziu cerca de 87 milhões de toneladas, o país alcançou quase 113 milhões de toneladas no ciclo seguinte, registrando um crescimento de aproximadamente 30%.
Sobre a influência do clima nas lavouras de milho, Paulo Garollo relata que, em Goiás, além da escassez de chuvas, a variação climática foi um fator determinante para os resultados. "Há 40 anos não geava em Goiás. Tivemos áreas de safrinha que foram extremamente prejudicadas. Então, esses são aprendizados que temos ao longo da nossa atividade. Pragas, doenças e essas interações entre planta e ambiente acabam sendo muito expressivas no resultado final da safra", analisa o especialista da Bayer.
Garollo também alerta para o surgimento de novas pragas, como pulgões e ácaros, que vêm aparecendo nas lavouras de milho e podem estar relacionados ao uso inadequado de produtos químicos. Por isso, ele reforça a importância de sistemas de manejo integrados e eficientes.
No campo, a produtora Vitória Cimadon, de Mato Grosso, conta que a falta de chuvas comprometeu parte da sua produção. No entanto, a escolha de uma janela de plantio adequada ajudou a reduzir os prejuízos. "Eu tive quebra de produção, mas colhi bem em alguns talhões, então ficou tudo dentro do planejado, da margem que eu trabalho", relata.
Como aumentar a eficiência das lavouras de milho?
Para ampliar a eficiência nas lavouras de milho, além da escolha de uma boa janela de plantio, Paulo Garollo ressalta a importância de selecionar híbridos de milho adequados ao ambiente de cultivo. Ele destaca projetos da Bayer que buscam aprimorar as características agronômicas das plantas, tornando-as mais eficientes mesmo em condições restritivas e garantindo melhor desempenho nas próximas safras de milho.
Garollo também chama a atenção para a necessidade de proteção contínua da lavoura de milho. "O agricultor tem que se atualizar para melhorar o manejo de pragas, doenças e plantas daninhas. E isso não significa mais gastos, mas adequar aquilo que o agricultor tem em mãos. Isso vai otimizar o resultado da produção e aumentar a lucratividade, afinal, tem que sobrar dinheiro no bolso do produtor", explica.
Dicas para controlar a principal praga do milho
Vitória relata que a cigarrinha-do-milho tem causado sérios problemas em sua lavoura de milho. De fato, esse inseto é hoje a principal praga da cultura.
"Não é uma praga nova, mas não sabíamos lidar com ela e tivemos que aprender a controlá-la. A cigarrinha não é igual ao percevejo, que você vê o dano logo no seu pé de milho. Os prejuízos aparecem no final. Até entendermos que precisávamos controlar nas fases iniciais, deu muito trabalho", relembra a produtora, que chegou a perder até 20% da produção nas duas últimas safras de milho.
Paulo Garollo explica que a cigarrinha atua como vetor de doenças do complexo de enfezamento. "Ela é como uma seringa cheia de bactérias e vírus e injeta essas doenças na planta", compara o especialista.
Entre os principais patógenos transmitidos estão o fitoplasma, causador do enfezamento vermelho, o espiroplasma, responsável pelo enfezamento pálido, e o vírus do raiado fino (ou vírus da risca).
Para proteger a lavoura de milho, Garollo destaca que a solução começa pela conscientização dos produtores sobre a importância de um manejo coletivo. "O agricultor que não faz um bom manejo é um doador de pragas para todos os seus vizinhos. No caso da cigarrinha, a migração pode atingir uma área de 20 km, então não é só o vizinho de cerca. E tem mais: manejar essa praga vai além de aplicar o produto, é necessário criar uma estratégia de utilização dos melhores produtos a cada momento de aplicação", alerta.
Perspectivas de preços e pontos de atenção
O professor Marcos Fava Neves destaca que, mesmo com o aumento da oferta de milho, fatores externos como a situação geopolítica na Ucrânia, a seca na Europa e as quebras de produção na China contribuíram para a manutenção dos preços do cereal no mercado global.
Apesar desse cenário favorável, ele alerta para a pressão dos custos de produção, que precisam ser controlados. "Apesar dos preços altos, o produtor brasileiro teve um custo de produção muito elevado. Passamos por uma situação difícil com fertilizantes, defensivos, energia, transporte e aumento da taxa de juros. Em algum momento, o preço vai começar a baixar, por isso, temos de lutar para derrubar esses custos também", reforça o especialista.
Entre novembro de 2021 e março de 2022, os preços médios do milho subiram de R$ 84 para R$ 99 por saca, permanecendo nos últimos meses em torno de R$ 82.
Segundo Fava Neves, a alta nos custos pode impactar diretamente setores que dependem do grão, como a produção de frango, suínos e leite. "A estratégia é baixar o custo para o preço cair um pouco e possibilitar que os usuários do milho tenham margens para continuar sua expansão", acrescenta.
Estratégias para as próximas safras de milho
A produção de grãos na safra 2022/23 deve alcançar 308 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), representando um crescimento de 14% em relação ao ciclo anterior. No caso do milho, a expectativa é de 125 milhões de toneladas, um avanço de 9% frente à safra passada.
Dentro desse cenário de expansão, o professor Marcos Fava Neves mantém boas expectativas para os preços do milho no mercado global, sustentadas pela alta demanda para a produção de etanol de milho e proteína animal, pela ampliação das compras chinesas, pela queda de produção nos Estados Unidos e pelos efeitos da guerra na Ucrânia. "O produtor de milho pode esperar a manutenção desses preços. O mercado sinaliza isso e o agricultor pode, inclusive, vender sua safra antecipadamente", avalia o especialista.
Para manter a saúde, a produtividade e a rentabilidade das lavouras de milho, o agrônomo Paulo Garollo recomenda monitoramento constante e adoção de inovações que tragam mais eficiência ao campo. "Nós temos que manter o foco em monitoramento e entender que trabalhamos em uma atividade de desafios constantes. Portanto, é preciso buscar cada vez mais conhecimento para melhorar ano a ano", reforça.
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