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Mercado de fertilizantes e preços agrícolas: o que esperar para a próxima safra?

Alexandre Mendonça de Barros analisa os principais fatores que devem impactar o agro brasileiro e o mercado de fertilizantes em 2022 e 2023.
25 de julho de 2022 /// 3 minutos de leitura

Nos últimos meses, o mundo tem vivido uma ebulição nos preços agrícolas, impulsionada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia. Diante desse cenário, uma pergunta tem preocupado produtores e analistas do agronegócio brasileiro: o que esperar para a safra 2022/2023?

O especialista Alexandre Mendonça de Barros analisa os principais fatores que devem influenciar o comportamento das commodities do agro e as perspectivas para o mercado de fertilizantes, fundamentais para a gestão em agronegócio.

Perspectivas para o mercado de fertilizantes


O mercado de fertilizantes tem gerado apreensão entre os produtores e analistas do agronegócio brasileiro.

Juntamente com a Bielorrússia, a Rússia é responsável por cerca de um terço da produção mundial de potássio. A escassez desse insumo impactaria a safra 2023 e, consequentemente, a oferta de produtos agrícolas no Brasil, que é o maior produtor de soja do mundo, prejudicando o abastecimento em diversos países.

Segundo Alexandre Mendonça de Barros, em 2021 a Rússia forneceu ao Brasil 18% da ureia e praticamente todo o nitrato de amônio utilizado na produção de adubos. Além disso, o país exporta cerca de 30% do fosfato monoamônico (MAP) consumido no país.

Apesar dos desafios geopolíticos e logísticos, o analista afirma que o cenário é mais positivo do que se previa: "Agora já podemos ver os números e eles nos permitem ter segurança em afirmar que teremos adubo suficiente para o plantio da próxima safra. Aliás, acreditamos que existe potencial para aumentar a próxima safra", destaca Mendonça de Barros.

Gestão em agronegócio: estoques e desafios logísticos

Em 2021, o Brasil consumiu 46 milhões de toneladas de adubo, sendo 7 milhões produzidas internamente e 39 milhões importadas.

Com base em levantamentos técnicos, Mendonça de Barros explica que é possível calcular os nutrientes extraídos do solo por safra em cada município, além da quantidade de adubo aplicada: "com isso, calculamos a diferença entre o que foi adubado e o que foi extraído para saber qual é o estoque no solo. Nós estimamos um estoque de 4,5 milhões de toneladas que foram acumuladas nesses últimos anos, seja porque o produtor adubou mais, seja por queda de safra, como ocorreu em várias regiões brasileiras no ano passado. Dessa forma, seria possível produzir com um volume menor de adubo neste ano", explica o analista.

Descontando esse estoque, seriam necessárias 41,7 milhões de toneladas para uma produção equivalente à de 2021. Neste ciclo, o país iniciou o ano com 6,8 milhões de toneladas de adubo e deve produzir, pelo menos, mais 7 milhões, ou seja, precisaria importar 28 milhões de toneladas.

"A notícia boa é que, nos quatro primeiros meses deste ano, o Brasil conseguiu importar 11,2 milhões de toneladas de adubo, restando 16,7 milhões de toneladas para fazer uma safra semelhante àquela do ano passado", ressalta.

Mendonça de Barros comenta, ainda, que outros países, além da Rússia, forneceram um montante de insumos superior a esse para o Brasil, mostrando que o agronegócio brasileiro pode contar com mais parceiros para importar adubo. Isso permitiria não só fazer uma safra semelhante à safra de 2021, como aumentá-la. De acordo com ele, provavelmente haverá crescimento na área de soja e na de milho safrinha.

"Considerando o que está acontecendo na Ucrânia e nos Estados Unidos, poderemos ter bons preços tanto no segundo semestre deste ano como no ano que vem. Sobre os insumos, os números nos permitem ter confiança de que será possível fazer o abastecimento do mercado interno e ter uma próxima safra muito boa", conclui Mendonça de Barros.

Ainda assim, ele alerta que a logística global continuará exigindo atenção e planejamento. Uma boa gestão em agronegócio será essencial para que o produtor não perca o momento ideal de compra de insumos e garanta o sucesso do plantio.

Safra na Ucrânia


A Ucrânia ocupa a quarta posição entre os maiores exportadores de milho do mundo e também se destaca como um importante fornecedor global de trigo. Diante disso, Alexandre Mendonça de Barros ressalta a importância de acompanhar o andamento do plantio desta safra no país para avaliar se ocorrerá dentro da normalidade.

"A dúvida de todos é quanto a Ucrânia vai produzir e exportar de grãos. A guerra tem trazido várias dificuldades tanto em relação ao plantio como à exportação. Por isso, os preços agrícolas ficaram ainda mais altos no mundo todo e é uma preocupação que vai continuar presente nos mercados agrícolas", explica o analista.

Segundo ele, o andamento da safra ucraniana tem sido melhor do que o previsto. No entanto, ele alerta para os desafios logísticos no escoamento dos grãos: "Isso significa que, no segundo semestre, haverá uma pressão de compra sobre o milho brasileiro e americano, porque vai ser difícil escoar normalmente a safra ucraniana. Então, é um cenário que possibilita ver preços mais altos", acrescenta.

O plantio nos Estados Unidos


Outro ponto destacado por Alexandre Mendonça de Barros que deve influenciar os preços agrícolas no próximo ciclo é o andamento do plantio nos Estados Unidos. Assim como ocorreu em 2019, o início da safra americana sofreu atrasos, o que impacta diretamente as taxas de produtividade, especialmente das lavouras de milho e soja.

Esse cenário afeta também os mercados internacionais, que esperavam um desempenho mais regular da produção norte-americana. Segundo o analista, a combinação entre o conflito no Leste Europeu e o atraso no plantio cria um ambiente de preços aquecidos:

"Esses dois ingredientes, a guerra e o plantio atrasado, podem garantir um preço muito bom para o segundo semestre e o primeiro semestre do ano que vem", projeta o analista.

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