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Preços agrícolas e fertilizantes: o que esperar para a próxima safra?

Alexandre Mendonça de Barros analisa os principais pontos que vão impactar o agronegócio brasileiro em 2022 e 202325 de julho de 2022 /// 3 minutos de leitura

O mundo tem vivido uma ebulição nos preços agrícolas nos últimos meses, desde que o conflito entre Rússia e Ucrânia começou. Com isso, uma pergunta não sai da cabeça dos produtores e analistas de mercado: o que esperar para a safra de 2022/23?

O analista Alexandre Mendonça de Barros comenta sobre os principais pontos que vão impactar os preços das commodities do agro e as perspectivas para o fornecimento de fertilizantes.

Safra na Ucrânia

A Ucrânia é o quarto maior exportador de milho do mundo e um importante país exportador de trigo. Em função disso, Mendonça de Barros diz que é preciso acompanhar o plantio desta safra no país para saber se ocorrerá dentro da normalidade. "A dúvida de todos é quanto a Ucrânia vai produzir e exportar de grãos. A guerra tem trazido várias dificuldades tanto em relação ao plantio como à exportação. Por isso, os preços agrícolas ficaram ainda mais altos no mundo todo e é uma preocupação que vai continuar presente nos mercados agrícolas", explica.

Na visão do analista, o andamento do plantio na Ucrânia está melhor do que o previsto. Porém, Mendonça de Barros alerta que haverá dificuldades para escoar os grãos. "Isso significa que, no segundo semestre, haverá uma pressão de compra sobre o milho brasileiro e americano, porque vai ser difícil escoar normalmente a safra ucraniana. Então, é um cenário que possibilita ver preços mais altos", acrescenta.

O plantio nos Estados Unidos

Outro ponto destacado por Mendonça de Barros que vai influenciar os preços no próximo ciclo é o andamento do plantio nos Estados Unidos. Semelhante ao que ocorreu em 2019, o plantio desta safra atrasou, o que tem impacto nas taxas de produtividade, principalmente do milho e até mesmo da soja.

Isso também mexeu com os mercados internacionais porque existia uma expectativa de que a safra americana poderia fluir melhor.

"Esses dois ingredientes, a guerra e o plantio atrasado, podem garantir um preço muito bom para o segundo semestre e o primeiro semestre do ano que vem", projeta o analista.

Perspectivas para o mercado de fertilizantes

O mercado de fertilizantes é outro assunto que tem causado apreensão aos produtores brasileiros.

Juntamente com a Bielorrússia, a Rússia responde por um terço da produção de potássio no mundo. A falta do insumo impactaria a safra por aqui e, consequentemente, a oferta do Brasil, que é o maior produtor de soja do mundo, prejudicando o abastecimento em diversos países.

Mendonça de Barros lembra que, em 2021, a Rússia também forneceu ao Brasil 18% da ureia e praticamente todo o nitrato de amônio utilizado para produção de adubo. Além disso, o país exporta 30% do fosfato monoamônico (MAP) utilizado pelo Brasil.

No entanto, de acordo com o analista, o mercado de adubo está melhor do que o previsto, apesar dos desafios. "Agora já podemos ver os números e eles nos permitem ter segurança em afirmar que teremos adubo suficiente para o plantio da próxima safra. Aliás, acreditamos que existe potencial para aumentar a próxima safra", estima.

Em 2021, o Brasil consumiu 46 milhões de toneladas de adubo. Desse montante, 7 milhões de toneladas foram produzidas internamente e 39 milhões foram importadas. Mendonça de Barros explica que é possível ter uma estimativa de nutrientes extraídos do solo por safra, em cada município brasileiro, assim como a quantia de adubo aplicada. "Com isso, calculamos a diferença entre o que foi adubado e o que foi extraído para saber qual é o estoque no solo. Nós estimamos um estoque de 4,5 milhões de toneladas que foram acumuladas nesses últimos anos, seja porque o produtor adubou mais, seja por queda de safra, como ocorreu em várias regiões brasileiras no ano passado. Dessa forma, seria possível produzir com um volume menor de adubo neste ano", justifica o analista de mercado.

Descontando esse estoque, restariam 41,7 milhões de toneladas de adubo para fazer uma safra semelhante à safra de 2021. Para este ano, o Brasil teve um estoque inicial de 6,8 milhões de toneladas de adubo e deve produzir, pelo menos, mais sete milhões, ou seja, precisaria importar 28 milhões de toneladas.

"A notícia boa é que, nos quatro primeiros meses deste ano, o Brasil conseguiu importar 11,2 milhões de toneladas de adubo, restando 16,7 milhões de toneladas para fazer uma safra semelhante àquela do ano passado", ressalta.

Mendonça de Barros comenta, ainda, que outros países, além da Rússia, forneceram um montante de insumos superior a esse para o Brasil, mostrando que o país pode contar com mais parceiros para importar adubo. Isso permitiria não só fazer uma safra semelhante à safra de 2021, como aumentá-la. De acordo com ele, provavelmente haverá crescimento na área de soja e na de milho safrinha.

"Considerando o que está acontecendo na Ucrânia e nos Estados Unidos, poderemos ter bons preços tanto no segundo semestre deste ano como no ano que vem. Sobre os insumos, os números nos permitem ter confiança de que será possível fazer o abastecimento do mercado interno e ter uma próxima safra muito boa", afirma.

Para Mendonça de Barros, a dificuldade logística no mundo ainda é um ponto que exigirá grande esforço e ele alerta que o produtor deve ficar atento a isso para não perder o momento de compra e assegurar o plantio.

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