Do plantio à colheita: como produzir um café de qualidade

27 de março de 2023

O Brasil é o maior exportador de café no mercado mundial e ocupa a segunda posição entre os países consumidores da bebida. E tem mais: o país é responsável por um terço da produção global do grão, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

Para falar como os produtores podem aproveitar esse cenário e agregar ainda mais valor na hora de comercializar o seu produto, o jornalista e apresentador do Impulso Cast, Dony de Nuccio, conversou como Christiane Leles Rezende, engenheira agrônoma e pesquisadora do Pensa - Centro de Conhecimento em Agronegócios, e Guy Carvalho, produtor de cafés especiais e especialista em agronegócio do café.

Para Guy, o primeiro passo é buscar treinamento e profissionalização, além de usar os equipamentos adequados, considerando a região onde o produtor está.

"O produtor tem que estar com o sistema de preparo adequado e dominar esse sistema. Assim, ele vai ter um bom café, aquele que o mercado quer e que muitos compradores vêm buscar no Brasil."

Christiane recomenda, ainda, que o produtor conheça bem o café que produz, além dos melhores talhões de sua lavoura. "Toda fazenda tem sempre uma porcentagem de café que é melhor, mas ele pode fazer lotes mais homogêneos se conhecer esse café. Com isso, vai conseguir um preço diferenciado", explica.

Os especialistas argumentam também que, apesar das questões climáticas que afetaram as lavouras recentemente, o Brasil tem grande potencial de aumentar sua produção de café por meio de melhores práticas e uso de tecnologia.

Quais são as técnicas de manejo mais adequadas?

Guy Carvalho afirma que, enquanto maduro e no pé, todo grão tem potencial para ser um café especial. Mas, para isso, é preciso utilizar práticas de manejo adequadas que vão influenciar na qualidade da bebida.

Christiane concorda: "Muitas vezes, o produtor deixa o café estragar por razões que poderiam ser corrigidas facilmente. Se o produtor colher, ensacar esse grão e deixar no sol por três horas, por exemplo, ele vai fermentar. O mesmo pode acontecer no terreiro, onde normalmente é feita a primeira secagem. Se não mexer, o café vai fermentar e isso é um grande defeito lá na frente", alerta.

Outro ponto que deve ser considerado é a maturação. O grão deve estar maduro para começar a colheita, entre outros cuidados que não exigem custos adicionais ao produtor.

Irrigação contribui para a produtividade do cafezal

A irrigação do cafezal é uma técnica que pode favorecer a produtividade, pois propicia um ambiente de produção menos estressante para a planta.

Guy explica que o cafeeiro tem diversas fases fenológicas, como a de florescimento, enchimento dos grãos e a fase de granação. Se faltar água em algum desses momentos, o desenvolvimento da planta é prejudicado. "Por exemplo, se faltar chuva na época do florescimento, o pé de café vai jogar folha para tentar segurar ao máximo aquele grão. Já no momento da granação, que é importantíssimo e ocorre em fevereiro ou março, dependendo da região, o grão fica com menor peso caso falte água. A irrigação nos momentos certos é fundamental para garantir a qualidade e a produtividade", esclarece o especialista.

Christiane destaca também como a irrigação ajuda a reduzir os riscos climáticos e os efeitos da seca no cafezal. Segundo ela, estudos apontam que a técnica pode aumentar a média de produção em 25%. "Como a média de produtividade no Brasil ainda é baixa, tem muito espaço para aumentar e a irrigação é uma das tecnologias que pode contribuir para isso", acrescenta.

A importância das certificações

Você sabia que o café é o produto agrícola brasileiro com o maior número de indicações geográficas?

Nesse sentido, a denominação de origem pode trazer benefícios para a cafeicultura e para a promoção dos produtores brasileiros.

Como no vinho, o café é muito influenciado pelo terroir. Fatores como a variedade, o clima, o solo e o manejo vão influenciar nas características da bebida.

Portanto, a denominação de origem ajuda a informar ao consumidor sobre o produto que ele está levando para casa. "Uma das vantagens é que abre um mercado enorme, inclusive fora do país. A certificação de origem facilita essa conversa com o consumidor e, com isso, propicia um novo mercado. No Brasil, os consumidores estão buscando cada vez mais informações sobre o café. Eles estão investindo em casa para preparar uma bebida melhor e você dá essa oportunidade para ele", observa a engenheira agrônoma.

Mas além de agregar valor ao produtor, a certificação contribui da porteira para dentro, melhorando processos, pontua Guy. "O produtor terá que olhar o seu processo, se adequar e, dessa forma, ele tem um ganho na gestão. Quando você começa a rastrear seu café, descobre rapidamente se um talhão tem infestação de broca, por exemplo, assim, poderá monitorar, colocar armadilha e tomar uma ação. A propriedade sai ganhando com a certificação."

Christiane ressalta, ainda, que muitos produtores relatam redução nos custos de produção ao organizarem a gestão para obtenção de certificações.

Novas tecnologias a favor do cafeicultor

Atualmente, existem inúmeras tecnologias, práticas e pesquisas que podem contribuir para a produtividade e qualidade do cafezal.

Christiane reforça a importância de fazer a análise e correção de solo, além do uso de fertilizantes e a irrigação quando necessário.

Otimizar a gestão da propriedade é outro ponto levantado por ela, pois conhecer a fundo os custos de produção ajuda a traçar melhores estratégias de comercialização.

A adoção de novas tecnologias também é essencial para um manejo eficiente da lavoura de café. Guy chama a atenção para o fato de que o Brasil tem grandes pesquisadores no setor e que o cafeicultor deve se informar sobre variedades mais resistentes e de qualidade diferenciada, além de buscar uma produção sustentável.

"O produtor tem que pensar na vida desse solo. Uma das novas tecnologias é manter a linha do cafeeiro limpa e, no meio da rua, cultivar braquiária, mix de coberturas, colocando vida naquele ambiente que vai ajudar no equilíbrio biológico da produção. É preciso utilizar o que a pesquisa está oferecendo de novo" completa.

Christiane concorda e afirma que as melhores técnicas agronômicas vão na direção da sustentabilidade, que leva à maior e melhor produtividade. "Gostaria de ressaltar isso que o Guy falou. A pesquisa agronômica no Brasil é excelente e o produtor tem que ir atrás da melhor variedade de café para sua região, das técnicas de produção mais modernas para sua realidade e que cabem no seu bolso", conclui.

Você também pode ouvir esta notícia AQUI.