Preço do milho e da soja: o que esperar para os próximos meses?
Alexandre Mendonça de Barros analisa como o comércio internacional e a economia global impactam o preço da saca de soja e de milho no Brasil.Nas últimas semanas, houve uma mudança relevante na trajetória da taxa de juros nos Estados Unidos.
Até o ano passado, fatores como a queda acentuada da inflação marcaram a política monetária americana, gerando a expectativa de que os juros caíssem em 2024. Por outro lado, o mercado de trabalho permanecia aquecido, com taxa de desemprego de 3,6%, abaixo da média histórica do país.
"Na macroeconomia, é conhecida a correlação entre a inflação e o emprego. Quando o desemprego está muito baixo, a economia segue aquecida, o que gera potencial de alta inflação. Por consequência, esse cenário se traduz em certa dúvida do Banco Central Americano sobre o momento adequado para reduzir a taxa de juros", comenta Alexandre Mendonça de Barros, analista de mercado da consultoria MB Agro.
Mais recentemente, a inflação americana voltou a subir em função da demanda aquecida, o que reforça a expectativa de juros altos nos EUA até o fim do ano.
Como consequência, o dólar se valorizou, levando o real a se enfraquecer e atingir R$ 5,20. "Se olharmos para 2025, tem uma curva de câmbio e o real mais fraco. Esse é um fator muito relevante para todos os produtos agrícolas cotados em dólar. Então, a primeira mensagem positiva que surge é uma oportunidade de melhores preços futuros da soja, estimados entre 11,5 e 12 dólares por bushel, o que impacta diretamente o preço da soja e, em especial, o preço da saca de soja no Brasil", analisa o especialista em agronegócio.
Fechamento da safra de soja no Brasil
Com o fechamento da safra de soja 2024/25, Mendonça de Barros projeta uma produção de 155 milhões de toneladas para a safra Brasil, o mesmo número estimado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Ele destaca que a área plantada no Brasil deve chegar a 1,4 milhão de hectares, acima da estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Essa diferença ocorre devido à discrepância entre as áreas plantadas e a produtividade em diferentes estados.
"Essa é a maior amplitude de projeções da safra brasil nos últimos anos. É uma discussão muito complexa porque tem implicações relevantes nas expectativas de formação de preço dos grãos. No entanto, no nosso entendimento, Chicago está refletindo esse volume de uma safra maior", avalia.
Para completar o cenário, a recuperação da Argentina adicionou 25 milhões de toneladas à oferta sul-americana, aumentando os estoques e pressionando ainda mais o preço dos grãos em nível global.
Intenção de plantio nos EUA
Nos Estados Unidos, o diferencial entre o preço da soja e o preço do milho favoreceu o aumento do plantio da oleaginosa.
De acordo com dados do governo americano, as projeções indicam uma produção de 122 milhões de toneladas de soja, contra 113 milhões na safra anterior. Já o milho deve registrar queda de cerca de 16 milhões de toneladas, passando de 390 milhões para 374 milhões de toneladas.
"É por essa razão que, quando olhamos os balanços americanos, o preço em dólar da soja está estável até o ano que vem. Enquanto isso, como as toneladas de milho devem encolher no maior produtor do mundo, a tendência para o mercado futuro é de leve alta, o que deve favorecer a formação dos preços do milho no Brasil."
Para o Brasil, isso pode favorecer a formação do preço do saco de milho no mercado futuro. Atualmente, a segunda safra de milho brasileira apresenta bom desenvolvimento, com chuvas regulares no Cerrado. Mendonça de Barros avalia que os preços do milho tendem a recuar durante a colheita da safrinha, mas há espaço para recuperação até o fim do ano. Essa perspectiva se apoia na sinalização de alta em Chicago e no fato de que, apesar da boa produção nacional, o volume da safrinha será menor que o de 2023.
Outro ponto de suporte é a elevação da demanda interna. O crescimento da produção de carnes no Brasil amplia o consumo de ração, enquanto a produção de etanol de milho deve atingir 7,5 bilhões de litros, exigindo cerca de 18 milhões de toneladas do grão.
"Por isso, entendemos que o milho será pressionado em termos de formação de preços quando na colheita da safrinha. Mas, nas nossas contas, há potencial de recuperação ao avançarmos para o final do ano, diante desse quadro de maior demanda e uma oferta um pouco menor no Brasil, nesta safra", conclui o analista de mercado.