3 fatores que podem impactar o mercado agrícola em 2023

O analista do mercado agrícola Alexandre Mendonça de Barros destaca três fatores da macroeconomia internacional que podem impactar diretamente a cotação do mercado agrícola em 2023.

1. Desaceleração da economia global

Mendonça de Barros alerta que a alta da inflação e a desaceleração da economia mundial tendem a influenciar diretamente os mercados agrícolas.

Segundo o analista, centros internacionais de inteligência agrícola demonstram preocupação com a intensidade dessa desaceleração e seus impactos na demanda, principalmente no setor de carnes. "Se a demanda de carne diminui, por decorrência, a demanda de grãos tende a sofrer as consequências. Recentemente, também vimos o índice de preços de alimentos da FAO mostrar uma acomodação. Quando os preços dos alimentos caem, o dos insumos agrícolas caem junto. Já estamos vendo uma queda muito relevante nos preços dos fertilizantes, principalmente no Brasil."

Diante desse cenário, a expectativa é de uma desaceleração na cotação do mercado agrícola e nos preços agrícolas para a safra 2023/24.

2. Paralisações na China

Outro fator decisivo para o mercado agrícola global é o impacto das recentes paralisações na China, decorrentes de novos casos de Covid-19.

"Esse assunto é importante porque nos países nos quais a vacinação permitiu que as pessoas voltassem a circular, houve uma resposta econômica muito forte. Portanto, se a China mudar a estratégia para conter a Covid, indo na mesma direção do que foi feito no Ocidente, vejo uma possibilidade de sermos surpreendidos por um movimento de mais compra de alimentos", comenta Mendonça de Barros.

Segundo o especialista, essa mudança de postura poderia elevar a demanda por produtos agrícolas brasileiros, especialmente soja, milho e carne bovina, fortalecendo a cotação do mercado agrícola no curto prazo.

3. Conflito entre Rússia e Ucrânia

A continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia segue como um dos principais fatores de incerteza para o mercado agrícola em 2023.

Embora os ucranianos tenham conseguido concluir a safra de 2022, a produção registrou queda de cerca de 12 milhões de toneladas de milho e uma redução de 10 milhões de toneladas de trigo. Para 2023, Mendonça de Barros alerta que a dificuldade para o plantio deve persistir caso o conflito se prolongue, resultando em menor volume de grãos disponíveis para exportação no mercado de produtos agrícolas.

"É importante ressaltar mais um ponto: calcula-se que os gastos com os esforços de guerra chegam a quase 30% de toda a arrecadação do governo da Rússia. Isso, somado à desaceleração da economia, torna mais difícil o financiamento dessas despesas. Por isso, o governo russo anunciou um aumento na tributação sobre insumos, principalmente fertilizantes", destaca Mendonça de Barros.

Ele destaca ainda, que esse fator não deva causar grandes efeitos imediatos sobre a oferta russa, um aumento mais acentuado da tributação poderia desestimular a produção de insumos, afetando a oferta e a demanda nos mercados agrícolas em diversas regiões.