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Mercado de carbono: oportunidades e perspectivas para o agronegócio

Descubra o que é o mercado de carbono, como funciona e quais são as oportunidades que ele oferece para o agronegócio brasileiro e produtores rurais.
28 de julho de 2023 /// 12 minutos de leitura

Mercado de carbono: funcionamento e oportunidades


Muito se fala sobre o mercado de carbono, seu papel na redução das emissões de gases de efeito estufa e, consequentemente, no combate ao aquecimento global. Ainda assim, o tema gera muitas dúvidas, especialmente sobre o que é o mercado de carbono e como funciona.

Esse mercado surgiu da necessidade de conter as emergências climáticas. Em 2015, o Acordo de Paris estabeleceu regras para que cada país definisse suas próprias metas de emissão de gases poluentes, abrangendo setores como siderurgia, transporte, energia, florestal e agropecuário

Segundo Thais Hiramoto, gestora ambiental e coordenadora de projeto de carbono na Bayer, existem duas categorias principais: mercado regulado e mercado voluntário.

  • No mercado de carbono regulado, países ou blocos econômicos (como União Europeia, China e Nova Zelândia) definem metas obrigatórias de redução. Quem emite menos do que o limite estipulado pode comercializar créditos de carbono com aqueles que ultrapassaram suas metas. Esse tipo de mercado já movimenta bilhões de dólares globalmente;

  • Já no mercado de crédito de carbono voluntário, onde se destaca o mercado de carbono no Brasil, empresas, produtores rurais e instituições estabelecem metas próprias, não obrigatórias, de redução de emissões. "São os projetos de carbono que passam por auditorias, adequados segundo normas e padrões internacionais. Os créditos de carbono que são disponibilizados no mercado podem ser créditos de remoção, o famoso sequestro de carbono e reflorestamento, além da opção de projetos de redução de emissão", conta Thais.

Essa dinâmica faz do mercado de carbono no Brasil uma grande oportunidade para produtores rurais e outros setores que adotam práticas sustentáveis, fortalecendo a transição para uma economia de baixo carbono e agregando valor à produção.


O potencial da agricultura no mercado de carbono


Estima-se que a demanda por créditos de carbono possa crescer cerca de 15 vezes até 2030 e até 100 vezes em 2050, reforçando o enorme potencial do mercado de carbono para diferentes setores da economia. Nesse cenário, a agricultura desponta como um dos protagonistas, especialmente no mercado de carbono no Brasil.

Segundo Rafaela Montagna, engenheira agrônoma e especialista em manejo de carbono na Bayer, a agricultura pode remover até ¼ das emissões globais acumuladas nos últimos 25 anos. “Isso porque as plantas, por meio do processo de fotossíntese, absorvem o dióxido de carbono da atmosfera e o fixam no solo, gerando mais matéria orgânica. Além disso, a agricultura é capaz de reduzir as emissões com práticas sustentáveis, diminuindo os impactos da própria atividade e produzindo mais por hectare sem a necessidade de abertura de novas áreas”, explica.

O professor e especialista em agronegócio Marcos Fava Neves reforça que a agricultura brasileira é uma das mais promissoras para explorar o mercado de crédito de carbono. "Temos uma matriz energética limpa, com 90% da eletricidade proveniente de fontes renováveis, além do amplo uso de biocombustíveis como o etanol e biodiesel, a área preservada que o Brasil possui e todas as inovações que permitem a gestão da agricultura por metro quadrado. O país tem tudo para liderar nessa área", pontua.

Um estudo da Way Carbon aponta que o mercado de carbono Brasil pode suprir 48,7% da demanda global do mercado voluntário e cerca de 28% do mercado regulado, movimentando até 120 bilhões de dólares em 2030.


Como os produtores podem aproveitar as oportunidades do mercado de carbono?


De acordo com Thais Hiramoto, coordenadora do projeto de carbono na Bayer, existem basicamente dois mecanismos no mercado de carbono que podem ser explorados pelos produtores rurais.

O primeiro ocorre quando o agricultor adota práticas que reduzem emissões ou aumentam o sequestro de carbono dentro da própria produção, gerando benefícios diretos para a cadeia produtiva daquele grão. O segundo é quando o produtor gera créditos de carbono que podem ser comercializados para compensar emissões em outros setores.

"Outra forma, ainda, é ter essa pegada mensurada, fazer um balanço de carbono calculado para ter a preferência das indústrias na compra do seu produto. De todo modo, essas opções de participação no mercado de carbono envolvem muita ciência porque ele precisa estar adequado às metodologias e ferramentas internacionais de mensuração e de boas práticas aplicadas ao campo", destaca Thais.

Rafaela Montagna, especialista em manejo de carbono na Bayer, acrescenta que práticas agrícolas como plantio direto, rotação de culturas, uso de plantas de cobertura, adição de compostos orgânicos, aplicação eficiente de fertilizantes e manejo adequado da irrigação estão entre as mais eficazes para acumular carbono no solo. Essas estratégias, além de contribuírem para a produtividade, fortalecem a participação do produtor no mercado de crédito de carbono, cada vez mais relevante no Brasil e no mundo.


PRO Carbono Commodities: a plataforma que calcula a pegada de carbono


O PRO Carbono Commodities integra a estratégia global da Bayer para promover uma agricultura sustentável e de baixo carbono, fortalecendo o mercado de carbono no Brasil.

Por meio do PRO Carbono Conecta, uma plataforma automatizada, a empresa coleta e analisa dados para rastrear todo o ciclo da soja – da produção ao transporte e comercialização.

O processo de rastreabilidade começa com a entrada do produtor no programa e acompanha todas as etapas da cadeia. A tecnologia blockchain, associada à rastreabilidade, gera registros invioláveis ao longo de toda a jornada do grão. Essa base de dados forma o inventário das operações, essencial para o cálculo das emissões de carbono.

Em parceria com a Embrapa, a Bayer está desenvolvendo uma ferramenta para calcular a pegada de carbono da soja em zonas tropicais, levando em conta desde a fabricação e aplicação de insumos, sementes e transporte do grão, até possíveis mudanças no uso da terra e desmatamentos passados.

Nesta fase, já são 4 milhões de sacas de soja – o equivalente a 240 mil toneladas – com pegada mensurada, produzidas por 10 agricultores em 60 mil hectares no Mato Grosso. Os resultados são calculados em quilos de CO₂ por tonelada de soja, gerando um laudo final com a pegada por fase de produção e a pegada total por produtividade, tudo vinculado ao blockchain.

"Essa ferramenta é baseada em uma metodologia de análises de ciclos de vida, portanto, ela considera desde a fabricação dos insumos até a fase agrícola que é a aplicação desses insumos em campo, sementes, a mudança do uso da terra, os desmatamentos passados que ocorreram nessa área e o transporte do grão desde a fazenda até a trader. Então, capturamos dados de forma automatizada desses produtores quanto ao talhão", revela Thais.

Essas iniciativas fazem parte do programa PRO Carbono, que começou há dois anos com produtores convidados e aprovados segundo critérios técnicos. Consultorias parceiras auxiliam na adoção de práticas mais sustentáveis e, ao final de três anos, será feita uma nova coleta para verificar o acúmulo de carbono no solo, reforçando o potencial da agricultura em reduzir emissões e gerar créditos no mercado de carbono.

"Trata-se de projeto respaldado cientificamente. Como falamos, as plantas têm o poder de capturar carbono e, assim, a agricultura consegue reduzir as emissões com essas práticas. Então, quanto mais se produz, mais o sequestro de carbono no solo aumenta", destaca Rafaela Montagna, especialista em manejo de carbono da Bayer.


Agricultura preparada para o futuro sustentável


A engenheira agrônoma da Bayer reforça que o produtor rural brasileiro é referência mundial em plantio direto e no uso de culturas de cobertura. Por isso, a recomendação da especialista é intensificar essas práticas, promover a rotação de culturas e manter o solo coberto pelo maior tempo possível, ampliando a retenção de carbono e fortalecendo a posição do país no mercado de carbono no Brasil.

Sobre a remuneração no mercado de carbono Thais Hiramoto explica que esse é um cenário em evolução, já que algumas metodologias ainda passam por ajustes para mensurar e validar os créditos. "São temas que estamos trabalhando para que, quando sair, o produtor já esteja preparado para reportar de forma eficaz e confiável", destaca.

O especialista em agronegócio Marcos Fava Neves complementa que ainda faltam ferramentas mais ágeis para quantificar e transacionar o sequestro de carbono gerado pelas atividades agrícolas. "É como se a gente tivesse um PIX do carbono. Você prova que está sequestrando na sua atividade e alguém compra esse sequestro com uma transação muito simples para poder dizer ao consumidor que ele é uma empresa neutra em termos de carbono" explica.

Thais concorda e reforça que, por meio de programas como o PRO Carbono, a Bayer busca mensurar a atividade agrícola para garantir a qualidade das informações e viabilizar o acesso dos produtores ao mercado de carbono, que desempenha papel estratégico no combate às mudanças climáticas. "O mercado de carbono é muito importante para conter as mudanças climáticas, um problema que afeta a todos e a própria atividade agrícola. Portanto, ações de mitigação são fundamentais para o mundo como um todo", conclui.

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