Fechamento da safra no Hemisfério Norte: projeções para os principais mercados agrícolas
O analista Alexandre Mendonça de Barros apresenta as perspectivas para os mercados agrícolas em 2024.Com o fechamento da safra do Hemisfério Norte, já é possível traçar projeções para os principais mercados agrícolas em 2024. Segundo o analista Alexandre Mendonça de Barros, o estoque final estimado da produção indica que a relação entre estoques e consumo deve permanecer estável ou apresentar leve queda em praticamente todas as culturas, com exceção da soja.
“A análise feita por especialistas dá uma ideia de qual é a disponibilidade de produtos no mercado internacional. O mais impressionante é que tivemos safras razoavelmente boas, mas não boas o suficiente para repor os estoques mundiais e finalmente entrarmos numa zona de conforto nos mercados de alimentos", observa.
Esse cenário é especialmente importante para o mercado agrícola da soja, que continua sensível às variações climáticas. De acordo com Mendonça de Barros, há tensão em torno do clima e pouca folga nos estoques globais, o que mantém a atenção voltada para a próxima safra Brasil e para a evolução da safra de soja nos Estados Unidos. A soja, em particular, é tratada como um caso à parte, já que o ano de El Niño traz boas perspectivas para a produção sul-americana, fator que pode influenciar diretamente a formação de preços nos principais mercados agrícolas em 2024.
Como ficam os principais mercados agrícolas?
Segundo Alexandre Mendonça de Barros, com o fechamento da safra no Hemisfério Norte é possível traçar projeções para 2024. A relação estoque/consumo tende a permanecer estável ou levemente cadente em várias cadeias — cenário que sustenta preços nos níveis atuais. Para a soja, o comportamento dependerá do desempenho da safra Brasil e da oferta sul-americana, após um ciclo mais fraco na safra de soja nos Estados Unidos.
- Trigo – Houve perdas relevantes em diversos países produtores. O USDA projeta queda na relação estoque/consumo de 33,8% para 32,8% neste ano; na visão do analista, o índice pode ser ainda menor.
- Arroz – A Índia, maior exportadora global, restringiu embarques, elevando preços e reduzindo a relação estoque/consumo. “Os preços futuros indicam recuperação no próximo ano, assim como no trigo”, acrescenta.
- Café – Mesmo com grande produção brasileira, a relação estoque/consumo deve ficar estável ou ligeiramente cadente, a depender do avanço da safra do Vietnã. A Ásia sente os efeitos do El Niño, com secas no sudoeste que podem afetar a produção vietnamita.
- Óleo de palma – Projeções do USDA indicam relação estoque/consumo inferior à do ciclo 22/23, também por conta da seca na Ásia.
- Açúcar – Os preços voltaram a subir diante da expectativa de menor produção, sobretudo na safra indiana. A maior seca em várias regiões levou o país a limitar exportações.
- Suco de laranja – “A safra brasileira está razoável, mas a americana veio muito fraca. Além disso, há desafios sanitários importantes com o greening no Brasil; os estoques projetados são os menores em muito tempo”, alerta o analista. O governo dos EUA estima queda dos estoques globais.
- Milho – O mercado recua nos preços e a relação estoque/consumo deve ficar praticamente estável. A safra americana ainda pode ter ajustes para baixo. “No Brasil, o preço cai pela safra gigante e limitações de armazenagem; no exterior, o balanço permanece estável.”
- Soja – Os EUA abriram o ano projetando 123 Mt, mas a seca no início de 2023 reduziu a estimativa para 113 Mt. Com isso, o balanço norte-americano piorou, os estoques seguem baixos e as exportações devem ficar menores que no ano passado (mercado agrícola soja mais ajustado).
Por outro lado, os preços futuros recuam com base nas projeções positivas para as safras da América do Sul — especialmente Brasil, Argentina e Paraguai. A relação estoque/consumo prevista para o fim do ciclo 23/24 é mais confortável, desde que a safra Brasil e as demais colheitas sul-americanas se confirmem.
“Na maioria dos mercados agrícolas, a relação estoque/consumo deve se manter estável ou ligeiramente cadente. Isso sustenta os preços nos níveis atuais e pode levar a alta em relação aos mínimos do ano. Ainda é um quadro apertado, com estoques relativamente estáveis ou até piores nas principais commodities”, conclui Mendonça de Barros.