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Fechamento da safra no Hemisfério Norte: projeções para os principais mercados agrícolas

O analista Alexandre Mendonça de Barros fala sobre as perspectivas para os principais mercados agrícolas em 202427 de setembro de 2023 /// 8 minutos de leitura

Com o fechamento da safra do Hemisfério Norte já é possível fazer projeções para os principais mercados agrícolas em 2024. O estoque final estimado da produção, de acordo com o analista Alexandre Mendonça de Barros, indica que a relação entre estoques e consumo deve ficar estável ou ligeiramente cadente em praticamente todas as culturas, com exceção da soja.

"A análise feita por especialistas dá uma ideia de qual é a disponibilidade de produtos no mercado internacional. O mais impressionante é que tivemos safras razoavelmente boas, mas não boas o suficiente para repor os estoques mundiais e finalmente entrarmos numa zona de conforto nos mercados de alimentos", observa.

De acordo com o analista de mercado, isso é muito relevante porque novamente há muita tensão a respeito do clima e, por isso, não há tanta folga nos estoques. A soja é um caso à parte, segundo ele, por ser ano de El Niño e haver boas perspectivas para a safra da oleaginosa na América do Sul.


Como ficam os principais mercados?

Trigo: Mendonça de Barros destaca que houve perdas importantes em vários países produtores de trigo, por isso, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) projeta queda na relação entre o estoque e o consumo de trigo para este ano, de 33,8% para 32,8%. Na opinião do analista, esse número pode ser ainda menor.

Arroz: Recentemente, a Índia, que é a maior exportadora de arroz do mundo, baniu os embarques do cereal. Com isso, os preços do arroz voltaram a subir e as relações de estoque e consumo caíram. "Vemos um momento em que os preços futuros do arroz estão indicando uma recuperação para o próximo ano, assim como o do trigo", acrescenta.

Café: Mesmo com a safra brasileira de café entregando uma grande produção, a relação entre estoque e consumo tenderá a ficar estável, até ligeiramente cadente, a depender ainda de como vai avançar a safra do Vietnã.

Isso porque a Ásia está sofrendo as consequências do El Niño, que provoca secas no sudoeste do continente e pode impactar a produção vietinamita de café.

Óleo de palma: As projeções do USDA indicam relações de estoque e consumo inferiores ao ciclo 22/23, também em decorrência da seca na Ásia.

Açúcar: Os preços do açúcar voltaram a subir com expectativa de menor produção - sobretudo na safra indiana de açúcar. Várias regiões do país estão mais secas neste ano, o que levou os indianos a também limitarem as exportações de açúcar.

Suco de laranja: "A safra brasileira de laranja está razoável, mas a americana veio muito ruim. Além disso, estamos vendo desafios sanitários muito importantes com o greening no Brasil, de tal maneira que os estoques projetados são os menores desde muito tempo", alerta Mendonça de Barros. Por isso, o governo americano estima que os estoques globais do suco de laranja irão cair.

Milho: Esse mercado está sofrendo uma queda forte nos preços e a relação entre estoque e consumo deve ficar praticamente estável. O analista de mercado acredita que a safra americana de milho ainda pode sofrer alguma redução.

"No Brasil, o preço do milho está caindo muito porque a nossa safra foi gigante, tanto que não temos estrutura de armazenagem. Mas lá fora, o balanço fica estável."

Soja: Os americanos abriram o ano projetando uma safra de 123 milhões de toneladas de soja, mas por conta da seca do início de 2023, essa estimativa caiu para 113 milhões. Portanto, o fechamento do quadro americano é pior do que se desenhava, os estoques vão continuar baixos e o país deve exportar um volume menor em comparação com o ano passado.

Por outro lado, de acordo com Mendonça de Barros, os preços futuros da soja estão caindo com base nas projeções positivas para as safras da América do Sul, principalmente as do Brasil, da Argentina e do Paraguai. É por isso que a relação entre estoque e consumo prevista para o final do ciclo 23/24 é positiva, mas ela depende exclusivamente de uma boa safra no Hemisfério Sul, sobretudo no Brasil.

"Acredito que, na maior parte dos mercados agrícolas, a relação entre estoque e consumo deve se manter estável e ligeiramente cadente. Isso dá suporte para os preços nos níveis atuais no mercado internacional, que provavelmente devem subir com relação aos mínimos de preço que vimos neste ano. Ainda é um cenário apertado, o que mostra que há um contexto amplo das principais commodities, com estoques relativamente estáveis ou até piores", conclui Mendonça de Barros.

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