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Mercado sucroenergético: o que você precisa saber sobre o setor do álcool e açúcar

Entenda como funciona o mercado sucroenergético e quais as perspectivas da produção de açúcar e álcool para o setor sucroenergético brasileiro para os próximos anos.19 de julho de 2022 /// 3 minutos de leitura

Considerado um dos pilares do agronegócio brasileiro, a produção nacional de cana-de-açúcar transformou o Brasil em campeão mundial no mercado sucroenergético.

Mas alcançar esse lugar não foi fácil. Inserida no país ainda pelos colonizadores portugueses, o cultivo de cana-de-açúcar passou por várias transformações, especialmente nas últimas décadas.

Em função dessas mudanças, hoje os produtores adotam práticas de plantio mais sustentáveis e ainda conseguem uma lavoura bem mais produtiva. Por isso, hoje o país é líder na exportação de açúcar.

De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), somente o Brasil deve exportar 32 milhões de toneladas de açúcar produzidos na safra 21/22. O número impressiona, mas não é o único que merece destaque.

Afinal, o tempo em que a cana de açúcar era utilizada apenas para extração de açúcar já ficou para trás.

Hoje, a planta também é muito utilizada para extrair novos subprodutos fundamentais para o setor sucroenergético: o etanol (álcool) e a bioeletrecidade.

Entre ambos, a produção de álcool, especificamente, promete se tornar ainda mais necessária nos próximos anos, superando até mesmo a produção nacional do açúcar.

Mas por que e como isso deve ocorrer? Esse é o principal destaque do Programa Impulso News.

Entendendo o mercado sucroenergético

Como já é conhecido, o bagaço da cana-de-açúcar pode ser utilizado tanto para a fabricação de açúcar, quanto para a produção de álcool. Porém, o destino de cada um desses subprodutos é bem diferente.

Enquanto o açúcar é destinado, principalmente, à exportação, o etanol abastece o mercado interno. Outra diferença entre esses dois derivados da cana-de-açúcar está na precificação.

No caso do açúcar, a oferta e a demanda no cenário internacional são determinantes na precificação e, consequentemente, no lucro do produtor rural. Em compensação, no caso do álcool, a demanda doméstica e a competitividade com outros combustíveis é que influenciam o preço e a lucratividade desse subproduto.

O crescimento do etanol

O etanol é uma das peças-chave do setor sucroenergético brasileiro. Forte no mercado interno, o setor sucroenergético é responsável pela produção de energia limpa e em larga escala.

Isso fez com que o etanol e a bioeletrecidade, que é gerada a partir do bagaço da cana, se tornassem especialmente atraentes nas últimas décadas, o que permitiu muito investimento em ciência e tecnologia.

Por isso, o uso do etanol como combustível, por exemplo, se tornou mais interessante para os consumidores, que enxergam o álcool como uma alternativa viável e eficiente para fugir do preço por vezes elevado da gasolina.

Atraídos por esse aumento de demanda e por uma lucratividade maior, cada vez mais produtores rurais têm investido em canaviais voltados especificamente para a produção desse combustível.

E foi para apoiar esse cenário plural e dinâmico que surgiu o chamado complexo sucroalcooleiro. Esse complexo agrupa todas as atividades e indústrias responsáveis desde a plantação da cana-de-açúcar até o beneficiamento e a transformação desse produto em açúcar, álcool e bioeletrecidade.

Açúcar x etanol: quem ganha essa briga?

Apesar de ambos serem subprodutos muito valorizados no mercado sucroenergético, os números referentes à produção de açúcar e etanol têm passado por mudanças nos últimos anos.

De acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (ÚNICA), o país produziu, em média, 570 e 620 milhões de toneladas nas últimas 7 safras.

No entanto, enquanto 46,5% da produção de cana-de-açúcar da safra 17/18 foi utilizada no beneficiamento de açúcar, apenas 34,3% da produção da safra 19/20 foi usada com a mesma finalidade.

Ainda de acordo com dados da UNICA, em março de 2021, quase 70% da cana-de-açúcar processada pelas indústrias do setor sucroenergético, localizadas na região Centro-Sul do país, foi destinada à produção de etanol. Isso equivale a produção de 199,88 milhões de litros.

A demanda internacional do açúcar, por exemplo, aumentou muito no mercado externo em função da crise causada pela pandemia de coronavírus. Com o aumento da demanda, os preços também subiram e se tornaram mais atraentes para a indústria sucroenergética brasileira.

Mas será que esse cenário deve continuar?

De acordo com Mário Ferreira Campos, diretor da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (SIAMIG), o setor sucroenergético brasileiro encerrou a safra 20/21 com a maior produtividade da história.

Ao todo, o Brasil produziu 42,06 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. No entanto, a expectativa é que a próxima safra seja menor.

“Para a safra 2021/22, nós estamos esperando uma queda na produção no Brasil em função da estiagem que nós tivemos durante o ano de 2020. Isso, obviamente, vai reduzir a produção de açúcar a nível de Brasil”, explicou Mário Ferreira para o Programa Impulso News.

Para Eduardo Leão, Diretor Executivo da UNICA, a expectativa é que o açúcar continue mais rentável do que o etanol nos próximos anos. Por isso, ele aconselha que os produtores maximizem a produção de açúcar para a próxima safra.

Para Eduardo Leão, Diretor Executivo da UNICA, a expectativa é que o açúcar continue mais rentável do que o etanol nos próximos anos. Por isso, ele aconselha que os produtores maximizem a produção de açúcar para a próxima safra.

Perspectivas do mercado sucroenergético até 2030

Com relação ao panorama do setor sucroenergético brasileiro até 2030, as projeções são um pouco diferentes.

De acordo com um relatório produzido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), o debate político resultante entre o conflito “combustíveis x alimentos” deve continuar limitando o crescimento do consumo de etanol de primeira geração, pelo menos no mercado externo, especialmente na Europa.

Em compensação, a demanda por esse combustível no mercado interno deve continuar aumentando. A expectativa é que, até 2030, o aumento da demanda por combustíveis exija que o Brasil importe mais de 20 bilhões de litros de gasolina.

Para evitar essa importação, será necessário que a produção doméstica de etanol aumente em quase 15 bilhões de litros ao longo desta década.

Por consequência, o cultivo de cana-de-açúcar destinado à produção de combustível também deve crescer até 2030.

Como o produtor rural pode se preparar para esse novo cenário?

Segundo Denis Arroyo, Diretor Executivo da Organização de Associações dos Produtores de Cana do Brasil (ORPLANA), os produtores de cana-de-açúcar podem utilizar algumas estratégias para melhorar a produção e se preparar para o futuro.

A primeira delas não está relacionada exatamente ao plantio, mas ao investimento de tecnologia no setor. Para Arrayo, o melhoramento genético dos cultivares também contribui para o aumento da produtividade da lavoura. Por isso, o investimento nessas variedades é muito benéfico ao agricultor.

A segunda estratégia está relacionada a novas práticas de produtividade e inovações no cultivo e colheita da cana-de-açúcar. Nesse caso, a inovação acontece especialmente no processo pós-mecanização, como na redução do impacto negativo do pisoteio nas linhas de cana.

Ainda segundo Denis Arroyo, também é importante que o produtor fique atento à agrotecnologia, ou seja, na aplicação de tecnologia para o acompanhamento da lavoura.

No caso da cana-de-açúcar, por exemplo, o manuseio da palha é uma ótima forma de beneficiar a produção, já que auxilia na melhora da microbiologia do solo, bem como no controle de umidade e temperatura.

Para completar, também é importante que o produtor respeite o tempo de colheita e plantio de cana-de-açúcar.

“Durante algum tempo a gente se perdeu nesse sentido, mas é super favorável respeitar o tempo de fisiologia da planta”, completa Denis Arroyo durante entrevista ao Programa Impulso News.

A importância das associações

Contudo, implementar essas estratégias e não acompanhar as demandas das indústrias do mercado sucroenergético pode prejudicar o agricultor. Por isso, a participação em associações de produtores de cana-de-açúcar continua sendo importante para entender e se adaptar ao setor.

De acordo com Rafael Bordonal, Superintendente da Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba (SOCICANA), a associação desempenha um papel importante na coordenação dos produtores.

Segundo o Superintendente, os agricultores que atuam no setor sucroenergético estão distribuídos por regiões diferentes, realizam o plantio da cana em áreas com tamanhos variados e, consequentemente, possuem necessidades diferentes.

Nesse sentido, a associação é capaz de agrupar todos esses produtores, entender suas demandas e dar voz a esses agricultores, beneficiando toda a cadeia produtiva.

Outros destaques do Programa Impulso News

Além de uma visão ampla do setor sucroenergético, o programa também apresenta a Agenda da Semana, com as principais informações sobre o mundo do agronegócio.

No quadro Fala, Doutor Agro!, o professor Marcos Fava Neves comenta sobre as mudanças no mercado de commodities, enquanto no quadro Impulso Responde, Thiago Junqueira responde às dúvidas enviadas por você, agricultor.

Para completar, o programa apresenta uma reportagem especial, com a história de João Pierobon, produtor rural de Piracicaba, São Paulo, que conta como se tornou um agro influencer no Youtube. Essa é uma excelente história para entender um pouco sobre a nova geração do agronegócio.

Então, não deixe de conferir o vídeo!

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