Blog do Agro

Plantio da safra de soja e milho no Brasil

O analista de mercado Alexandre Mendonça de Barros fala sobre as perspectivas para o mercado de grãos na próxima safra e os fatores que devem impactar os preços24 de setembro de 2024 /// 11 minutos de leitura

O clima é um grande ponto de atenção no planejamento da safra, por isso, a previsão da chegada do La Niña no Brasil tem causado apreensão entre os produtores. Contudo, de acordo com Alexandre Mendonça de Barros, analista de mercado especializado em agronegócio, as últimas notícias são positivas para o cenário climático no próximo ciclo. Isso porque, de acordo com meteorologistas, o fenômeno La Niña tende a ser neutro.

"Os últimos relatórios, considerando os modelos americano e europeu, sugerem que se trata de uma La Niña quase neutra.

Olhando também para os mapas de tendência de resfriamento das águas do Oceano Pacífico, eles apontam para um resfriamento muito baixo. Com isso, devemos ter uma volatilidade climática ao redor da média", explica.

Sobre os efeitos do clima no plantio da safra brasileira, o mês de setembro tem registrado chuvas abaixo do esperado no país. A partir de outubro, no entanto, as chuvas devem avançar e se generalizar por todas as regiões, sem grandes impactos no calendário de semeadura. "Lembrando que tudo relacionado ao clima é probabilístico e temos que acompanhar atentos", destaca Mendonça de Barros.


Estimativas para a safra global de grãos

A previsão é de que a próxima safra de soja do Brasil e da Argentina sejam grandes, o que explica a queda nos preços da oleaginosa.

Soma-se a isso o fato de que os Estados Unidos também devem produzir uma safra expressiva. As estimativas indicam que os americanos vão colher cerca de 125 milhões de toneladas de soja, contra 113 milhões de toneladas no ano passado. Portanto, trata-se de um cenário com maior oferta e aumento dos estoques.

Em relação à safra de milho, segundo Mendonça de Barros, os Estados Unidos devem colher 385 milhões de toneladas do cereal, número similar à produtividade recorde do ciclo passado.

"Além disso, o segundo maior produtor de milho do mundo, que é a China, aponta para uma safra acima de 290 milhões de toneladas.

Acredito que a safra europeia deve ser um pouco menor do que o USDA tem projetado, em torno de 60 milhões de toneladas de milho. Mas quando olhamos para o quadro internacional, podemos dizer que é uma boa safra."


Como devem ficar os preços da soja e do milho?

Muitos produtores têm se perguntado por que a soja está pesando mais do que o milho no mercado internacional. O analista conta que isso se deve justamente à alta oferta da oleaginosa prevista na próxima safra. "Essa leitura mais construtiva do clima na América do Sul se soma a uma visão de expansão de área de soja no Brasil e talvez um pouco também na Argentina. Temos detectado ainda uma queda na intenção de plantio de milho por um conjunto de razões, como pragas que assolaram as lavouras e risco climático maior, já que nossas variedades de soja estão mais aptas a resistir a eventuais secas, enquanto as variedades de milho não têm tanta flexibilidade. Além disso, o cereal exige mais capital do que a soja."

Isso explica, na visão dele, um recuo na tendência de plantio de milho primeira safra no Sul do país, com expansão da área de soja.

Com isso, na análise do especialista, o balanço de milho no mercado mundial deve ficar mais apertado do que o da oleaginosa, mesmo considerando safras positivas na América do Sul.

Com a provável redução na área de milho primeira safra em ambos os países, o potencial exportador da América do Sul também é menor. "No caso do milho, eu acredito que os preços tendem a subir mais. Estou impressionado porque acabamos de colher a safrinha e os preços cederam muito pouco. Além do mercado internacional, bem mais apertado do que o de soja, internamente temos uma demanda de milho muito forte para o etanol, estamos em um momento excepcional de rentabilidade do setor brasileiro de carnes e tivemos uma safrinha menor do que a do ano passado. Se realmente houver retração na próxima safra, o cenário de preços do milho será mais construtivo até o final do ano e começo do próximo."

Por fim, Alexandre Mendonça de Barros reforça que a taxa de câmbio também tem ajudado a segurar os preços das commodities agrícolas em reais, cenário que deve permanecer pelos próximos meses.

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