Plantio de soja e milho no Brasil: perspectivas da safra!
O analista de mercado Alexandre de Barros aborda as perspectivas para o mercado de grãos na próxima safra e os fatores que devem impactar os preços.O clima é um dos principais pontos de atenção no planejamento da safra. Por isso, a previsão de chegada do fenômeno La Niña no Brasil tem gerado apreensão entre os produtores. Contudo, de acordo com Alexandre Mendonça de Barros, analista de mercado especializado em agronegócio, as últimas informações são positivas para o cenário climático no próximo ciclo, já que os meteorologistas indicam que o fenômeno deve se manter em condição neutra.
“Os relatórios mais recentes, considerando os modelos americano e europeu, sugerem uma La Niña praticamente neutra. Além disso, os mapas de tendência de resfriamento das águas do Oceano Pacífico apontam para uma intensidade muito baixa. Com isso, devemos observar uma volatilidade climática próxima da média”, explica o especialista.
Em relação aos efeitos do clima no plantio da safra brasileira, o mês de setembro registrou chuvas abaixo do esperado em diversas regiões do país. A partir de outubro, entretanto, a expectativa é de avanço e regularização das chuvas, sem grandes impactos no calendário de semeadura. “Lembrando que tudo relacionado ao clima é probabilístico e temos que acompanhar atentos”, reforça Mendonça de Barros.
Estimativas para a safra global de grãos
A previsão indica que a próxima safra de soja do Brasil e da Argentina será robusta, fator que ajuda a explicar a atual queda nos preços da oleaginosa.
Além disso, os Estados Unidos também devem colher uma safra expressiva. As estimativas apontam para cerca de 125 milhões de toneladas de soja, contra 113 milhões no ciclo anterior. Esse aumento representa um cenário de maior oferta global e, consequentemente, elevação dos estoques.
Em relação à safra de milho, segundo o analista Alexandre Mendonça de Barros, os Estados Unidos devem colher aproximadamente 385 milhões de toneladas do cereal, volume semelhante ao recorde registrado no ciclo passado.
“O segundo maior produtor mundial, a China, projeta uma colheita acima de 290 milhões de toneladas de milho. Já a safra europeia deve ficar um pouco abaixo do que o USDA tem projetado, girando em torno de 60 milhões de toneladas. No quadro internacional, contudo, podemos considerar que teremos uma boa safra”, avalia o especialista.
Como devem ficar os preços da soja e do milho?
Muitos produtores têm se perguntado por que a soja tem pressionado mais os preços do que o milho no mercado internacional. Segundo o analista Alexandre Mendonça de Barros, isso ocorre devido à alta oferta da oleaginosa prevista para a próxima safra.
“Essa leitura mais construtiva do clima na América do Sul soma-se à expansão da área de plantio de soja no Brasil e, possivelmente, também na Argentina. Por outro lado, temos observado uma queda na intenção de plantio de milho, motivada por fatores como pragas que assolam as lavouras e maior risco climático. Isso porque as variedades de soja estão mais aptas a resistir a eventuais secas, enquanto as variedades de milho não têm tanta flexibilidade. Além disso, o cereal exige mais capital do que a soja.”, explica.
Esse cenário justifica, na visão dele, a retração do plantio de milho da primeira safra no Sul do país e a consequente expansão da área destinada à soja. Assim, o balanço global do milho tende a ficar mais apertado do que o da oleaginosa, mesmo considerando boas perspectivas de produção na América do Sul.
Com a provável redução da área de milho plantio de primeira safra no Brasil e na Argentina, o potencial exportador da região também diminui. “No caso do milho, acredito que os preços tendem a subir mais. Estou impressionado porque acabamos de colher a safrinha e, ainda assim, os preços cederam muito pouco. Além do mercado internacional mais restrito que o da soja, no cenário interno há forte demanda de milho para a produção de etanol, somada à boa rentabilidade do setor de carnes e a uma safrinha menor do que a do ano passado. Caso realmente haja retração no próximo ciclo, o quadro de preços do milho será mais positivo até o final deste ano e início do próximo”, avalia.
Por fim, Mendonça de Barros ressalta que a taxa de câmbio também tem contribuído para sustentar os preços das commodities agrícolas em reais, cenário que deve se manter pelos próximos meses.