Blog do Agro

Por que a mancha-alvo virou o maior desafio na soja e no algodão?

Doença registra crescimento acelerado nas lavouras e exige manejo integrado, tecnologias modernas e atenção redobrada dos produtores
07 de julho de 2025 /// 3 minutos de leitura

A mancha-alvo, causada pelo fungo Corynespora cassiicola, está assumindo papel de protagonista nos desafios fitossanitários da soja e do algodão no Brasil.

De acordo com dados do setor, a área tratada contra a doença cresceu 33% ao ano entre as safras 2018/2019 e 2023/2024, ritmo superior ao registrado por problemas tradicionais como ferrugem asiática, mofo branco e antracnose.

Segundo Eder Moreira, diretor da Fitolab Pesquisa e Desenvolvimento Agrícola, esse avanço está diretamente ligado à adoção de cultivares mais produtivas, porém mais suscetíveis. “Estamos utilizando materiais geneticamente modificados para alta produtividade, mas que também são mais vulneráveis à mancha-alvo. Além disso, o fungo se beneficia de plantas daninhas, o que amplia ainda mais sua disseminação”, afirma.

A doença, que antes era associada ao final do ciclo da lavoura, agora se manifesta mais cedo e de forma mais agressiva.

Mudança de perfil e comportamento da doença

Para Nédio Tormen, diretor técnico da Staphyt Brasil, o comportamento da mancha-alvo mudou significativamente ao longo dos últimos 15 anos. “Era uma doença esporádica na região Centro-Oeste. A cada 100 cultivares de soja, 10 apresentavam sintomas. Na safra atual, se testarmos 100 cultivares de, provavelmente mais de 90 terão sintomas.”

Segundo ele, isso mostra uma mudança significativa na pressão da doença e, possivelmente, até na própria população do fungo.

Já Gerson Dalla Corte, líder de fungicidas da Bayer, também chama a atenção para a expansão da doença para estados do Sul, como Paraná, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.

Os especialistas explicam que condições de alta umidade e precipitação geram maior pressão da mancha-alvo durante o ciclo da cultura da soja e do algodão.

Além disso, o fungo permanece por anos nos restos culturais no solo. Nesse cenário, o fungicida é um seguro para proteção da área foliar e para evitar perdas consideráveis na produtividade. Isso porque, se não manejada, a mancha-alvo pode gerar perdas de até 15 sacas de soja por hectare.

Família Fox: os fungicidas aliados no combate à mancha alvo

Os consórcios de rede têm desempenhado um papel fundamental na avaliação e validação de estratégias de manejo agrícola. Segundo Gerson, esses consórcios se destacam por cobrir as principais regiões produtoras do Brasil e por acompanhar a dinâmica de desempenho dos fungicidas ao longo do tempo.

Os resultados mais recentes indicam uma performance superior dos produtos que contêm protioconazol, seguidos pelas carboxamidas, sendo que as misturas com esses dois modos de ação têm apresentado os melhores resultados no controle da mancha-alvo.

A tecnologia embarcada nos fungicidas também tem se mostrado decisiva para a eficácia no campo. No portfólio da Bayer, líder no segmento, destaca-se a evolução da linha Fox: o Fox, lançado em 2012 como o primeiro à base de protioconazol no mercado nacional, o Fox Xpro, lançado em 2018, e o Fox Supra, introduzido em 2022, todos com resultados consistentes. A mais recente inovação, o Fox Ultra, chega ao mercado em 2025 com uma composição equilibrada que promete alto desempenho.

Diante da constante evolução genética dos patógenos, o monitoramento regional das mutações e sua influência na eficácia dos defensivos também continua sendo essencial para o sucesso das estratégias de manejo.

Manejo integrado: a solução para proteger a lavoura

A unanimidade entre os especialistas é que não existe solução única. “Doenças agressivas como a mancha-alvo exigem manejo integrado”, reforça Nédio.

O controle do fungo começa já na escolha das sementes, uma vez que o patógeno pode estar presente nelas e sobreviver na palhada. O tratamento com fungicidas se mostra essencial nessa etapa inicial. Além disso, a adoção de culturas, especialmente gramíneas, capazes de formar uma cobertura no solo, atua como uma barreira física, reduzindo a transferência do inóculo do solo para a planta.

Outra frente importante de manejo está na aplicação de fungicidas, que, segundo observações em campo, deve ocorrer a partir de 30 a 40 dias após o plantio, período provável de infecção, considerando o ciclo latente do fungo, que leva de 7 a 12 dias para apresentar sintomas visíveis.

A aplicação de defensivos nessa janela crítica pode ter alto impacto no controle da doença. Por fim, o avanço no melhoramento genético das cultivares surge como uma estratégia promissora para o futuro, oferecendo maior resistência ao patógeno e complementando o manejo integrado da mancha-alvo.

Cenário para soja e algodão em 2025

Na visão de Marcos Fava Neves, professor da USP e da Harven Agribusiness School, o foco do produtor deve ser sempre a rentabilidade por hectare. “Mesmo com os preços pressionados, produtores com produtividade alta e menor endividamento seguem com margens positivas.”

Para a safra 2024/25, a expectativa é que o Brasil produza 175 milhões de toneladas de soja, e a produção global alcance 427 milhões. Já para o algodão, a previsão é de 4 milhões de toneladas de pluma no Brasil — crescimento de 7,5% —, enquanto a produção global deve cair 2,3%. “Com menor concorrência e um mercado estável, o Brasil pode ganhar espaço no algodão”, destaca.

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