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Qual será o impacto do cenário internacional na safra verão do Brasil?

Especialistas analisam o mercado global e contam quais são suas perspectivas para o agro brasileiro no próximo ciclo05 de março de 2023

No episódio de estreia do novo formato do Impulso Cast, o podcast do agricultor brasileiro, o jornalista e apresentador Dony De Nuccio conduz uma conversa com o economista Samy Dana e com Danusa Souza, Gerente de Inteligência de Mercado na Bayer Brasil. Os convidados fazem uma análise do mercado internacional e falam sobre as perspectivas para o agronegócio brasileiro nas próximas safras. Confira!

O mundo vive um ciclo inédito, com uma nova configuração das grandes economias globais. Considerando o cenário internacional em constante transformação, o que o produtor brasileiro pode esperar para a safra verão? Em um contexto atípico, com juros elevados e inflação em alta, cogita-se, ainda, o risco de recessão da economia americana. No entanto, na avaliação do economista Samy Dana , uma possível recessão global, principalmente originada nos Estados Unidos, não teria tantos reflexos no agro brasileiro, já que a China é a maior importadora das commodities agrícolas do país. "Uma recessão nunca é boa, mas dadas as proporções, não seria tão impactante para o agro como em outros setores", pontua.

Danusa Souza, Gerente de Inteligência de Mercado na Bayer, também chama atenção para o fato de que os estoques de grãos estão apertados em todo o mundo, portanto, é pouco provável que os preços caiam. "Ainda está se demandando muito mais do que o mundo está conseguindo produzir", destaca.

Outro ponto levantado por Danusa é o fenômeno climático La Niña, responsável por causar muitas perdas, especialmente no Sul do Brasil e na Argentina. Isso afetou a oferta de alimentos e colocou ainda mais pressão nos preços. "Infelizmente, para este ano, alguns meteorologistas falam sobre a possibilidade de continuidade da La Niña na safra verão. Inclusive, a safra americana está sentindo os efeitos dela também. O algodão, por exemplo, foi muito prejudicado por lá", conta Danusa.

Para Samy, com todos esses fatores, dificilmente haverá um choque suficiente na oferta para levar os estoques a patamares capazes de derrubar os preços.

O papel estratégico do Brasil

O Brasil tem um papel de destaque na exportação de produtos agrícolas, como grãos , carnes, café, laranja e açúcar. Danusa destaca também a posição neutra do país, que o torna parceiro de diversos outros países. Isso, segundo ela, é muito importante na nova geopolítica mundial. "O Brasil tem essa capacidade de atender a China, por exemplo, porque não é qualquer volume que atende o país asiático. O Brasil é quem está mais preparado para atender o potencial de importação chinês", destaca.

Recentemente, a China também fechou acordo para importar mais milho do Brasil, incluindo a safrinha 2022. "Dependendo do apetite chinês, poderemos ver uma mudança na dinâmica de preço do milho ainda este ano, com expectativa de melhora para a safrinha 2023", avalia a gerente da Bayer.

Falando de soja para a safra verão, a expectativa é de expansão de área em termos de tecnologia, em virtude da rentabilidade positiva que é vista no mercado. Isso porque, apesar dos juros mais altos para financiamentos e do maior custo, os preços devem continuar nos mesmos patamares.

Samy destaca que, além do potencial brasileiro na produção de soja, o país exporta tecnologia nesta cultura. "Ou seja, além das características geográficas que nos favorecem, temos uma tecnologia que nos coloca à frente."

Danusa ainda adiciona outra vantagem: o clima do Brasil que permite fazer duas, até três safras de soja. "Por isso, quando falamos em expansão de área, não é necessariamente uma área nova, mas uma segunda safra ou a área de cana que precisa fazer rotação de cultura na época do corte. Outros países não conseguem fazer duas safras, então, este é um grande diferencial brasileiro."

O comportamento do produtor

Danusa comenta que os produtores brasileiros já negociaram cerca de 85% dos insumos para a safra 2022/23 de soja, milho e algodão. Por outro lado, 22% dos grãos foram comercializados até agora, contra 60% no mesmo período do ciclo passado.

"Os produtores estão expostos. Alguns ficam muito preocupados com o câmbio, principalmente em ano eleitoral que naturalmente tem seus desafios e oscilações. Uma possível estratégia é fazer o hedge, buscando contratos futuros para estabilizar o preço", recomenda Samy.

Pontos para o produtor ficar de olho na safra verão:

  • Custos de produção e juros
  • Volatilidade do mercado
  • Variações no câmbio
  • Fatores climáticos

Como ficam os custos de produção?

Os custos de produção foram um elemento muito importante para o produtor no último ciclo. O Brasil importa quase 80% dos fertilizantes que consome, além de vários defensivos. Segundo dados do Rabobank, o preço dos fertilizantes para a soja cresceu 86% da safra passada para a atual. Na comparação com os últimos cinco ciclos, o aumento foi de 162%.

No entanto, a gerente da Bayer afirma que os custos subiram de forma geral porque são dolarizados, mas os preços das commodities valorizaram mais do que os custos nos últimos anos. "Nas duas últimas safras, no início da pandemia, quando houve a primeira desvalorização cambial de 40%, os custos não subiram na mesma velocidade. O produtor aproveitou o aumento da taxa de câmbio e do preço, dessa forma, ele conseguiu ter margens acima do histórico nos últimos dois ciclos", esclarece Danusa.

Para concluir, tanto Danusa como Samy aconselham o produtor a ficar de olho nas janelas de oportunidades, acompanhando o câmbio e os preços das commodities agrícolas. Com sua posição estratégica no cenário internacional, o Brasil está posicionado para vender e ser um grande exportador.

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