Qual será o impacto do cenário internacional na safra de verão do Brasil?
Especialistas analisam o mercado global e compartilham suas perspectivas para o agronegócio brasileiro no próximo ciclo da safra Brasil.No episódio de estreia do novo formato do Impulso Cast, o podcast do agricultor brasileiro, o jornalista e apresentador Dony De Nuccio conduz uma conversa com o economista Samy Dana e com Danusa Souza, Gerente de Inteligência de Mercado na Bayer Brasil. Os convidados analisam o mercado global e compartilham perspectivas para o agronegócio brasileiro nas próximas safras.
O que esperar da safra de verão no Brasil?
O mundo vive um ciclo inédito, marcado por uma nova configuração das grandes economias. Diante de um cenário internacional em constante transformação, é preciso entender o que o produtor pode esperar para a safra de verão no Brasil.
Em um contexto atípico, com juros elevados e inflação em alta, ainda existe o risco de recessão na economia americana. No entanto, segundo Samy Dana, uma possível recessão global, mesmo originada nos Estados Unidos, não deve gerar grandes impactos no agronegócio brasileiro, já que a China continua sendo a maior importadora das commodities agrícolas do país."Uma recessão nunca é boa, mas dadas as proporções, não seria tão impactante para o agro como em outros setores", avalia o economista.
Danusa Souza chama atenção para o fato de que os estoques de grãos seguem apertados em todo o mundo, o que torna pouco provável uma queda expressiva nos preços. "Ainda está se demandando muito mais do que o mundo está conseguindo produzir", destaca a especialista.
Outro ponto levantado por Danusa é o fenômeno climático La Niña, que provocou grandes perdas, especialmente no Sul do Brasil e na Argentina, afetando a oferta de alimentos e pressionando ainda mais os preços. "Infelizmente, para este ano, alguns meteorologistas falam sobre a possibilidade de continuidade da La Niña na safra verão. Inclusive, a safra americana está sentindo os efeitos dela também. O algodão, por exemplo, foi muito prejudicado por lá", conta a Gerente de Inteligência de Mercado na Bayer.
Diante desse quadro, Samy reforça que dificilmente haverá um choque de oferta capaz de elevar os estoques a níveis que derrubem os preços, reforçando a importância da boa gestão do agronegócio para aproveitar as oportunidades da safra Brasil.
O papel estratégico do Brasil na safra de verão
O Brasil ocupa uma posição de destaque no mercado global com forte participação na exportação de grãos, carnes, café, laranja e açúcar. Segundo Danusa Souza, Gerente de Inteligência de Mercado da Bayer, a postura neutra do país é um diferencial importante para o agronegócio brasileiro, pois permite parcerias comerciais com diversas nações. "O Brasil tem essa capacidade de atender a China, por exemplo, porque não é qualquer volume que atende o país asiático. O Brasil é quem está mais preparado para atender o potencial de importação chinês", destaca.
Recentemente, a China fechou um acordo para importar mais milho brasileiro, incluindo a safrinha 2022. "Dependendo do apetite chinês, poderemos ver uma mudança na dinâmica de preço do milho ainda este ano, com expectativa de melhora para a safrinha 2023", avalia a gerente da Bayer.
Falando em soja, a expectativa para a safra de verão é de expansão de área com maior uso de tecnologia, impulsionada pela boa rentabilidade do mercado. Apesar dos juros elevados para financiamentos e do aumento dos custos de produção, os preços devem permanecer em patamares atrativos.
Samy destaca que, além do potencial produtivo, o Brasil também exporta tecnologia para a cultura da soja. "Ou seja, além das características geográficas que nos favorecem, temos uma tecnologia que nos coloca à frente", afirma.
Danusa complementa ressaltando outro diferencial: o clima brasileiro, que permite realizar duas ou até três safras de soja no mesmo ano. "Por isso, quando falamos em expansão de área, não é necessariamente uma área nova, mas uma segunda safra ou a área de cana que precisa fazer rotação de cultura na época do corte. Outros países não conseguem fazer duas safras, então, este é um grande diferencial brasileiro", conclui.
Perspectivas sobre o comportamento do produtor
Danusa destaca que os produtores brasileiros já negociaram cerca de 85% dos insumos para a safra 2022/23 de soja, milho e algodão. Em contrapartida, apenas 22% dos grãos foram comercializados até o momento, número bem inferior aos 60% registrados no mesmo período do ciclo anterior.
Segundo Samy Dana, esse cenário deixa muitos agricultores expostos às oscilações do mercado global. “Alguns ficam muito preocupados com o câmbio, principalmente em ano eleitoral que naturalmente tem seus desafios e oscilações. Uma possível estratégia é fazer o hedge, buscando contratos futuros para estabilizar o preço", recomenda o economista.
Pontos de atenção para a safra de verão no Brasil:
Custos de produção e juros: monitorar aumentos que podem afetar a margem de lucro;
Volatilidade do mercado: acompanhar as mudanças no cenário econômico e geopolítico;
Variações no câmbio: planejar para proteger a rentabilidade diante das oscilações da moeda;
Fatores climáticos: manter atenção ao clima, que impacta diretamente a produtividade do agronegócio brasileiro.
Como ficam os custos de produção na safra de verão?
Os custos de produção continuam sendo um dos principais desafios para o produtor brasileiro, especialmente na safra de verão. O Brasil importa quase 80% dos fertilizantes que consome, além de grande parte dos defensivos agrícolas. Segundo dados do Rabobank, o preço dos fertilizantes para a soja subiu 86% da safra passada para a atual. Quando comparado aos últimos cinco ciclos, o aumento chega a 162%.
Danusa Souza, gerente da Bayer, explica que esses custos cresceram de forma geral por serem dolarizados. No entanto, os preços das commodities valorizaram mais do que os custos nos últimos anos, garantindo maior competitividade ao agronegócio brasileiro. "Nas duas últimas safras, no início da pandemia, quando houve a primeira desvalorização cambial de 40%, os custos não subiram na mesma velocidade. O produtor aproveitou o aumento da taxa de câmbio e do preço, dessa forma, ele conseguiu ter margens acima do histórico nos últimos dois ciclos", destaca.
Para Danusa e o economista Samy Dana, a recomendação é clara: o produtor deve acompanhar de perto o mercado global, o câmbio e os preços das commodities para aproveitar janelas de oportunidade. Com sua posição estratégica no comércio internacional, o Brasil segue bem posicionado para ampliar exportações e fortalecer sua participação no cenário do agronegócio.
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