Blog do Agro

Crédito rural e clima: o que esperar para a próxima safra?

Alexandre Mendonça de Barros avalia que, apesar das dificuldades no crédito rural, a safra 2025 pode ser promissora, com ajuda do clima
11 de setembro de 2025 /// 3 minutos de leitura

O agronegócio brasileiro enfrenta um momento desafiador no acesso ao crédito rural, mesmo em um cenário de custos de produção relativamente estáveis. Segundo o analista de mercado Alexandre Mendonça de Barros, a principal pressão não está nos insumos, mas nos juros altos e nas recentes mudanças contábeis do sistema financeiro.

“Eu não estou vendo os custos de produção subirem, o custo total de insumos não mudou. O que mudou foi o câmbio”, afirmou Mendonça de Barros, destacando que os preços dos insumos se mantêm, mas o ambiente financeiro se tornou mais restritivo.

Juros altos e crédito limitado

O cenário de crédito rural para esta safra está sendo moldado por dois fatores principais: a taxa Selic elevada, atualmente em 15%, e a menor disponibilidade de recursos nos bancos. Esse contexto tem exigido maior planejamento dos produtores na hora de adquirir insumos e firmar contratos de arrendamento.

“Antes de falar da disponibilidade de crédito, precisamos falar dos juros. A Selic está em 15% e há um volume de recursos restrito. Tem que colocar na conta o arrendamento, todos os insumos, mas os juros subiram.”

Mudança contábil e impactos no crédito rural

Além do custo do capital, uma alteração no sistema contábil dos bancos brasileiros, implementada em janeiro deste ano, está impactando diretamente a liberação de crédito para o setor agropecuário. A nova regra exige provisionamento significativo para créditos em atraso de 90 dias, o que reduz a flexibilidade do sistema bancário, algo especialmente sensível ao agronegócio, que opera com ciclos de pagamento mais longos.

“Essa mudança contábil relevante exige um provisionamento razoavelmente grande para atrasos de 90 dias, e no agronegócio isso é comum de acontecer”, explicou Mendonça de Barros. “Antes, existia uma flexibilidade para lidar com isso. Isso limita o volume de crédito que roda no sistema.”

O analista aponta que esse novo cenário se soma ao aumento de casos de recuperação judicial no setor, criando um ambiente de maior cautela entre financiadores e produtores.

“Para mim, esse é o grande desafio do Brasil: a mistura de juros muito altos com essas mudanças contábeis, além das RJs (recuperações judiciais) que já vinham acontecendo”, alertou.

Apesar das dificuldades, ele não acredita em uma retração significativa na área plantada para a próxima safra. Segundo Mendonça de Barros, o sistema tende a se ajustar.

Perspectivas climáticas favorecem produção

Apesar dos desafios no crédito rural, as condições climáticas para a safra 2025/26 são animadoras, na análise de Mendonça de Barros. Ele valia que o Brasil deve registrar uma temporada próxima da neutralidade climática, com um calendário agrícola mais alinhado ao histórico.

“A maior probabilidade é um cenário mais perto da neutralidade. Eu acho que é um ano mais próximo do normal, mas isso não quer dizer que não vai haver desvios”, afirmou.

Com um plantio menos atrasado, especialmente em relação às últimas duas safras, a colheita da soja poderá ocorrer já próximo ao Natal, o que favorece o calendário do milho safrinha, por sua vez. A estimativa de produção brasileira de grãos é otimista, segundo ele, podendo chegar a 175 milhões de toneladas, com alguns analistas já falando em até 180 milhões.

Além da soja e do milho, outros cultivos como café, laranja e cana-de-açúcar também devem se beneficiar das chuvas nas floradas. “Por enquanto, a sinalização é a de uma safra de soja e milho com potencial para ser muito boa no Brasil todo”, concluiu o analista de mercado.

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