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Conheça o ciclo de vida da cigarrinha das raízes

22 de julho de 2022

A cigarrinha das raízes (Mahanarva fimbriolata) é uma praga de grande importância econômica na cultura da cana-de-açúcar: seu ataque resulta em perdas na produtividade, que variam de 15% a 80%, e reduções na qualidade da matéria-prima, que podem chegar até 30%.

Além disso, há o risco de contaminação no processo industrial, devido à deterioração da cana no campo. Estima-se que a praga possa causar perdas de até 36 toneladas por alqueire a cada corte de cana.

No entanto, os maiores prejuízos são causados pelos insetos adultos que, ao sugarem a seiva da planta, transmitem toxinas que causam a queima das folhas.

Outros sintomas provocados pela toxina são o desenvolvimento de estrias amareladas no limbo foliar, bordos enrolados e definhamento do colmo, o que provoca perda no teor de sacarose.

Por isso, é essencial que o produtor de cana-de-açúcar aprenda a identificar a presença da cigarrinha da raiz no canavial e saiba como controlar essa praga.

Quer saber como? Então confira os próximos tópicos!

Como identificar a cigarrinha das raízes?

Para identificar a presença dessa praga na lavoura, o produtor precisa monitorar o desenvolvimento de uma espuma esbranquiçada, com uma aparência que lembra uma espuma de sabão bem densa.

Essa espuma é produzida pelas ninfas da cigarrinha, que ficam alojadas na base das touceiras, onde esses insetos se protegem e se alimentam até atingir a idade adulta.

Além de atingir a base dos canaviais, a Mahanarva fimbriolata também vive em outras gramíneas e age da mesma forma que nos canaviais, ou seja, também produzem essa espuma. Porém, essa praga só consegue se desenvolver plenamente em condições climáticas favoráveis.

Essa espécie de cigarrinha ocorre, sobretudo, em período úmido, porque a falta de umidade prejudica a formação da espuma, o que leva à morte das ninfas.Por isso, a infestação do canavial coincide com o início do período chuvoso.

Em função dessa preferência ambiental, a praga é encontrada, praticamente, em todas as regiões canavieiras do Brasil. Porém, no estado de São Paulo ela se tornou especialmente relevante em função do aumento nas áreas de colheita de cana crua.

Neste sistema, o acúmulo de palha contribui para manter a umidade do solo, o que favorece o aumento da população deste inseto, que vive, aproximadamente, 80 dias.

Diante disso, o produtor deve ficar atento ao aparecimento da espuma e de outros sinais relacionados ao ciclo de vida da Mahanarva fimbriolata.

Ficha técnica

Cigarrinha das raízes (Mahanarva fimbriolata)

  • Praga que afeta produção sucroenergética
  • Incidência: principalmente região Sudeste
  • Período de vida: 80 dias
  • Oviposição: 340 ovos (média)
  • Partes afetadas: folhas e colmos
  • Fase em que ocorre o ataque: crescimento vegetativo

Ciclo de vida da cigarrinha das raízes

O ciclo de vida da cigarrinha dura, em média, 80 dias. Nesse período, ela passa por três fases de desenvolvimento: ovo, ninfa e adulto.

O ciclo se inicia quando a fêmea deposita os seus ovos. Ela põe, em média, 340 ovos nas bainhas secas ou sobre o solo, próximo ao colmo da planta (98% dos ovos na linha).

Esses ovos permanecem incubados por cerca de 15 a 20 dias. Porém, durante períodos com baixo volume de chuvas, esses ovos podem entrar em diapausa, ou seja, em parada prolongada do desenvolvimento.

Assim que as condições ambientais voltam a ser favoráveis, os ovos voltam a se tornarem ativos e o inseto continua se desenvolvendo.

Quando os ovos finalmente eclodem, eles geram ninfas que se fixam nas raízes e radicelas da cana-de-açúcar, onde sugam a seiva.

As ninfas permanecem cerca de 20 a 70 dias nesse local, período que depende das condições ambientais, onde secretam a espuma de alta densidade. Depois disso, os insetos passam por 5 mudas até se tornarem adultos.

Nessa fase, eles apresentam entre 11 e 13 mm de comprimento, sendo que as fêmeas são maiores do que os machos.

As fêmeas também apresentam uma coloração mais escura, que tende para o marrom-avermelhado, enquanto os machos conservam uma tonalidade avermelhada e possuem faixas pretas longitudinais em seu corpo.

Comportamento do inseto na fase adulta

Quando adulta, a cigarrinha também desenvolve pernas adaptadas para o salto, o que facilita seu deslocamento. O inseto também apresenta asas, mas geralmente voa apenas para dispersão e, em geral, em curtas distâncias.

Em função dessas características, o inseto consegue se deslocar das raízes para a parte aérea das plantas, onde passa a se alimentar.

Vale lembrar que essas características também ajudam a diferenciar a cigarrinha da raiz de outra espécie bem semelhante: a cigarrinha das folhas (Mahanarva posticata).

Ambas atacam a lavoura de cana-de-açúcar. Porém, a cigarrinha das folhas ocorre principalmente nos canaviais da Região Nordeste e possui um ciclo de vida de apenas 65 dias.

Danos causados pela praga

A cigarrinha começa a provocar prejuízos ainda na fase de ninfa. Nesse período, ela perfura as raízes em busca de alimento, liberando saliva rica em substâncias tóxicas para a planta.

Em função disso, pode ocorrer a necrose dos tecidos radiculares e a desidratação dos vasos condutores (floema e xilema), dificultando o fluxo de água e nutrientes para a parte aérea da planta.

Como consequência, os colmos da cana-de-açúcar podem ficar ocos, desenvolver rugas e rachaduras na superfície externa e sofrer redução da espessura (afinamento).

Já na fase adulta, esse inseto apresenta o aparelho bucal do tipo picador-sugador completamente desenvolvido. Por isso, ele consegue sugar os colmos e até a seiva das folhas da cana, especialmente das mais novas, para se alimentar.

Durante esse processo, os insetos adultos também liberam toxinas que prejudicam o desenvolvimento da planta. Por conta do contato com a saliva tóxica da cigarrinha, as folhas passam a apresentar o sintoma de “queima da cana-de-açúcar”.

Esse sintoma é caracterizado pelo desenvolvimento de manchas amareladas nas folhas. Com o tempo, essas manchas se tornam avermelhadas e, em seguida, opacas.

Como consequência, a planta sofre uma redução da sua capacidade fotossintética, o que provoca a diminuição do nível de sacarose do colmo.

Além disso, os tecidos vegetais contaminados com a toxina do inseto ficam contaminados por diversos microrganismos.

Por consequência, esses tecidos são deteriorados e passam a apresentar uma coloração escura e um aspecto aquoso. Isso prejudica o crescimento de toda a planta, desde o colmo e dos entrenós até às raízes subterrâneas.

E como esses danos podem prejudicar o produtor? Todos os problemas relatados acima se refletem em perdas significativas na produção de cana.

Entenda abaixo.

Perdas causadas pela cigarrinha das raízes

A infestação de cigarrinha no canavial pode provocar perdas de produtividade que chegam a 80%.

Isso ocorre porque os danos causados durante a alimentação do inseto provocam uma série de problemas não só no desenvolvimento da cana, mas também no processamento da colheita.

Dentre esses problemas, podemos destacar:

  • Redução de até 30% no teor de sacarose da cana-de-açúcar;
  • Diminuição do valor de Brix;
  • Aumento do teor de compostos fenólicos, prejudicando o processo fermentativo para a produção de etanol e podem alterar a cor do açúcar.
  • Crescimento do teor de fibras nos colmos;
  • Entrenós mais curtos, brotação de gemas laterais, murchamento e aumento dos colmos mortos, problemas que diminuem a capacidade de moagem da cana;
  • Alta do teor de contaminantes, o que dificulta a recuperação do açúcar e inibe a fermentação.

Como fazer o controle da cigarrinha das raízes?

O primeiro passo para eliminar a praga do canavial é investir no monitoramento constante da lavoura. O ideal é que o produtor comece a monitorar a lavoura no início do período chuvoso, o que possibilita o acompanhamento do desenvolvimento dos insetos.

Para saber quando iniciar as medidas de controle, o produtor pode ter como base a quantidade de insetos identificados no monitoramento. O nível de controle (NC) é atingido quando são identificadas 5 ninfas/metro e 0,5 a 0,75 adultos/cana.

Porém, a identificação a partir de 10 ninfas/metro linear de sulco e 1 adulto/cana, já indica que a infestação atingiu o nível de dano econômico (NDE).

Vale lembrar que o nível de dano provocado pela cigarrinha-da-raiz também varia de acordo com a variedade da cana-de-açúcar.

De acordo com pesquisadores do Instituto Biológico de São Paulo, essa praga prejudica principalmente variedades como RB 72454, RB 825336, RB 835486, SP 801842 e IAC 822396.

Além disso, embora ainda não existam dados conclusivos, as variedades SP 80 1842, SP 70 1816, RB 85 5336 e RB 85 5536 também se mostraram em campo altamente suscetíveis ao ataque da praga.

Por isso, produtores que cultivam essas variedades precisam reforçar o processo de monitoramento e, se necessário, adotar algumas das seguintes estratégias de controle:

Controle cultural

O controle cultural é fundamental dentro de um programa de Manejo Integrado de Pragas (MIP).

Suas ações devem ser direcionadas à modificações no ambiente, nesse caso, no canavial, que tornem o local menos atraente para as cigarrinhas.

Para isso, é importante seguir as seguintes recomendações:

  • Retirar toda a palhada, deixando o solo exposto. Isso aumenta a temperatura do solo e reduz a umidade do local, dificultando a evolução dos ovos para diapausa;
  • Destruir a palhada durante o preparo do solo. Esse é um método considerado eficiente para diminuir o número de ovos de cigarrinha no solo;
  • Investir na nutrição da cultura, com processos como calagem, adubação e fosfatagem. Isso permite o desenvolvimento do sistema radicular da cana, melhorando sua resistência à falta de água e controle de pragas;
  • Evitar o plantio direto nas áreas com histórico de infestações, já que existem chances do local já estar contaminado;
  • Investir no plantio de variedades resistentes à cigarrinha.

Controle Biológico

O controle biológico da praga pode ser feito a partir da introdução dos inimigos naturais da cigarrinha das raízes. Geralmente, esse tipo de controle é realizado com a aplicação do fungo entomopatogênico Metarhizium anisopliae, também conhecido como fungo-verde.

Quando aplicado da forma correta, isto é, considerando as condições ambientais ideais, a qualidade do fungo e a dosagem, esse é um método eficiente para matar a cigarrinha-da-raiz.

Além desse fungo, também há registro do uso do microhimenóptero Anagrus urichi, um parasitoide de ovos, e da mosca Salpingogaster nigra, que é um predador de ninfas.

Vale lembrar que a utilização desse do controle biológico também deve integrar uma estratégia de manejo da praga e deve ser realizada com a supervisão técnica adequada.

Controle Químico

O controle químico é o método mais utilizado para eliminar o problema da cigarrinha, especialmente em grandes áreas de plantio.

Para isso, o produtor deve investir em inseticidas específicos para o combate dessa praga na cana-de-açúcar, como o inseticida Curbix.

Desenvolvido pela Bayer, o Curbix é um inseticida de contato e ingestão à base de Etiprole que auxilia no controle da cigarrinha das raízes.

Esse produto se diferencia por apresentar rápido efeito de choque, elevada eficácia, maior período de controle, entre outras características

Por ser um inseticida com baixa solubilidade e boa absorção no solo, o Curbix também oferece uma ação residual mais duradoura.

Conheça o inseticida Curbix!