Bicudo da Cana-de-Açúcar: quais os impactos e como prevenir seu cultivo
O bicudo da cana-de-açúcar é uma praga de solo que pode causar perdas de até 30 toneladas de cana por ano. Investir no Manejo Integrado de Pragas (MIP) é a melhor solução para prevenir e controlar as infestações no canavial.O bicudo da cana-de-açúcar (Sphenophorus levis) é uma das principais pragas da cultura da cana. Desde o final da década de 1980, a ocorrência tem se intensificado no país, principalmente em canaviais do estado de São Paulo.
Mais de 40 municípios paulistas já reportaram a presença de infestações, que atualmente abrangem as regiões central, sul, nordeste e leste do estado. No entanto, ela também tem sido registrada em outros estados produtores, como Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás.
Além de sua ampla distribuição geográfica, o bicudo é de difícil controle. Por isso, exige a adoção de estratégias específicas de manejo para prevenir e controlar infestações. Caso contrário, há o risco de queda na produtividade da lavoura e aumento nos custos de produção.
Neste artigo, explicaremos como identificar essa praga e quais são as melhores práticas de manejo para proteger o canavial e garantir uma safra bem mais produtiva.
O que é o bicudo da cana-de-açúcar?
O bicudo da cana-de-açúcar (S. levis) é uma das principais pragas que afetam os canaviais no Brasil. Ele pertence à família Curculionidae e passa grande parte de seu ciclo de vida no solo.
Por isso, todas as fases de desenvolvimento desse inseto ocorrem no interior do rizoma, ou seja, no sistema radicular da planta, tornando seu controle muito mais difícil.
Como identificar o bicudo da cana-de-açúcar em sua plantação?
A identificação exige atenção às suas características e aos sintomas causados pela praga em diferentes fases do seu ciclo de vida. Esse ciclo é longo: os machos vivem cerca de 203 dias, e as fêmeas podem atingir 224 dias. Acompanhe a seguir o que acontece em cada uma das etapas:
Oviposição
O ciclo do S. levis começa com a oviposição. Nesse estágio, as fêmeas perfuram os rizomas da planta e depositam seus ovos na base das brotações, abaixo do nível do solo. Cada fêmea pode ovipositar entre 40 e 70 ovos ao longo da vida.
Larvas
Após cerca de 12 dias, as larvas eclodem. Inicialmente, elas apresentam uma coloração branco-leitosa, que se torna amarela com o tempo. Além disso, elas apresentam uma cápsula cefálica castanho-avermelhada.
O desenvolvimento dura aproximadamente 50 dias. Depois disso, elas formam uma câmara com a serragem deixada como resto de sua alimentação nas galerias, onde se transformam em pupas. Esses restos de serragem são um indício importante da sua presença no canavial.
Adultos
Os adultos emergem entre 7 e 15 dias após a pupação. Nessa fase, o ele mede entre 12 e 15 mm, apresenta coloração castanho-escuro, manchas pretas no dorso do tórax e listras longitudinais.
Ele tem hábito noturno, é pouco ágil e tende a ficar imóvel quando manipulado, facilitando sua identificação. Normalmente, os adultos permanecem no solo, escondidos sob torrões, restos vegetais ou entre os perfilhos das plantas.
Quais são os danos causados pelo bicudo da cana-de-açúcar?
Os principais danos causados ocorrem durante sua fase larval, quando elas se alimentam dos rizomas e colmos da cana-de-açúcar. Inicialmente, os sinais de ataque podem ser confundidos com sintomas de estresse hídrico, fitotoxicidade ou aplicação excessiva de vinhaça.
No entanto, o hábito alimentar dessa praga destrói os tecidos da cana, podendo levar as plantas atacadas à morte. Isso pode causar a formação de falhas na brotação das soqueiras e redução do stand da cultura, comprometendo o desenvolvimento da lavoura.
Além disso, ataques recorrentes podem causar perdas cumulativas nos cortes e redução da longevidade do canavial.
Impactos do bicudo na produção de cana
De acordo com dados divulgados pelo Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), em casos graves, as infestações do bicudo podem causar a morte de 50 a 60% dos perfilhos ainda na fase de cana-planta, com cinco a sete meses de crescimento.
Isso pode gerar perdas que variam entre 20 e 30 toneladas de cana por hectare ao ano. Esses prejuízos obrigam os produtores a fazerem reformas precoces nos canaviais, muitas vezes antes do segundo corte, reduzindo ainda mais a rentabilidade da cultura.
Ainda segundo informações do Senar, foi realizado um estudo que avaliou os danos causados por diferentes níveis populacionais de bicudo durante quatro cortes.
A cada 1% de colmos infestados, as perdas na produção agrícola variam de 0,55% a 2,08%, enquanto o TPH (Tonelada de Pol por Hectare) apresenta uma redução de 0,08% a 0,33%.
Esses prejuízos também afetam a margem de contribuição do sistema agroindustrial, que pode sofrer quedas de 1,63% a 13,34%.
Como prevenir e controlar o bicudo da cana-de-açúcar?
A adoção de uma prática isolada não é suficiente para lidar com essa praga de difícil controle. Por isso, a recomendação é investir no Manejo Integrado de Pragas (MIP).
O MIP combina diferentes estratégias para reduzir as condições favoráveis ao aumento da infestação.
No caso do bicudo, a prevenção começa com uma vistoria cuidadosa das mudas de cana antes do plantio. O objetivo é garantir que essas mudas sejam provenientes de áreas livres, evitando sua disseminação na área de plantio.
Além disso, você deve investir no monitoramento de pragas. Essa prática permite identificar a quantidade de insetos presentes e avaliar o potencial de prejuízo econômico.
Como monitorar o bicudo da cana-de-açúcar?
O monitoramento deve ser iniciado logo após a colheita, com foco em soqueiras de cana com 2 a 3 meses.
Durante esse processo, você deve observar os sintomas característicos, como o secamento das folhas mais velhas, que evolui para o secamento das mais novas. Caso sejam identificadas plantas danificadas, elas devem ser arrancadas e avaliadas para confirmar se o bicudo é a causa.
Além disso, você precisa coletar amostras com o auxílio de armadilhas feitas com toletes de cana. Elas devem ser colocadas nas bases das touceiras para capturar os adultos e determinar a incidência.
Analisando os dados obtidos com o monitoramento, você conseguirá identificar onde estão os focos de infestação e calcular o Nível de Controle (NC), que indica o ponto no qual as populações precisam ser controladas para evitar perdas econômicas.
Saiba mais: Nematoides na cana: como combater essa praga e evitar prejuízos
Quais são as melhores práticas de manejo para lidar com o bicudo da cana-de-açúcar?
As melhores práticas para lidar com o bicudo são estratégias que combinam técnicas de manejo cultural, biológico e químico. Conheça esses métodos a seguir:
Destruição de soqueiras
A destruição mecânica das soqueiras deve ser feita no período de plantio, durante a renovação do canavial. Isso expõe as larvas do S. levis aos predadores naturais, causando a redução da população.
Porém, a eficácia dessa estratégia é alta somente no primeiro corte e sua implementação exige um investimento elevado. Além disso, caso as infestações sejam maiores do que 30% dos toletes atacados, o ideal é investir na renovação completa.
Iscas tóxicas
Após a destruição mecânica da soqueira, você precisa manter a área livre de vegetação hospedeira por um período superior a três meses.
As iscas tóxicas podem ser usadas nesse período para monitorar e controlar a presença de insetos na área de plantio, reduzindo a sobrevivência dos adultos remanescentes.
Controle biológico
O controle biológico pode ser feito com produtos à base nematoides entomopatogênicos, como o Steinernema rarum.
Segundo estudos do Instituto Biológico de São Paulo, os nematoides infectam naturalmente os insetos alojados no rizoma ou colmos da planta, reduzindo a ocorrência do bicudo em até 80% nos canaviais.
Controle químico
O controle químico envolve a aplicação de inseticidas. Para isso, você deve utilizar apenas produtos registrados e comprovadamente eficazes para o controle do bicudo da cana-de-açúcar, como o Curbix®.
Ele é um inseticida de contato e ingestão do grupo fenilpirazol, que combate rapidamente as infestações e protege a cultura por mais tempo graças a seu efeito de choque e longo período de controle.
Combinando essas estratégias, você conseguirá proteger o canavial e garantir uma safra bem mais produtiva. Aprenda mais sobre o manejo de pragas da cana-de-açúcar com a Agro Bayer!