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Sphenophorus: a praga mais preocupante dos canaviais

Entenda como essa praga ataca a cana-de-açúcar, reduzindo agressivamente a produtividade. Confira ainda como fazer o manejo integrado da lavoura.
02 de abril de 2024 /// 18 minutos de leitura

O Sphenophorus levis merece cuidado e muita atenção dos produtores de cana-de-açúcar. As perdas causadas por essa praga podem chegar a 30 toneladas de cana por hectare ao ano, o que representa quase 40% de uma produção média da cultura. Além disso, a cana perde qualidade e tem sua longevidade prejudicada.

"Trata-se de uma praga extremamente agressiva, que causa danos significativos na cultura. Mas ela tem uma evolução lenta na lavoura, o que é um problema para o produtor porque ele perde a dimensão que a infestação pode assumir de uma safra para outra", aponta Newton Macedo, professor na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e diretor na Araújo & Macedo Consultoria.

Entre as principais pragas da cana-de-açúcar, o Sphenophorus é o que mais evoluiu nos últimos cinco anos. Ele representa um crescimento de cerca de 22%. Já a broca-da-cana, que vem em segundo lugar, cresceu aproximadamente 12% no mesmo período. Newton destaca ainda que, nos últimos dois anos, o crescimento do Sphenophorus levis nos canaviais, em termos de área tratada, continuou aumentando, enquanto, no caso da broca, a população se manteve estabilizada.

Para ele, esse é um grave indicativo de que o Sphenophorus tem potencial para atingir níveis muito mais prejudiciais à cultura, podendo levar ao colapso de algumas plantações, como já ocorreu em alguns casos. "Dos 10 milhões de hectares de cana-de-açúcar cultivados no Brasil atualmente, 3,5 milhões já estão infectados. Então, a praga está presente em 35% dos canaviais. Em 2017, esse número era de 1,2 milhão. É uma situação preocupante", alerta Paulo Donadoni, Líder de Desenvolvimento do Mercado Cana na Bayer.


Como essa praga ataca?

O ataque do Sphenophorus começa na base da touceira da cana. A fêmea raspa a touceira e deposita seus ovos dentro da planta. Depois, essas larvas eclodem e começam a formar galerias internas que, por sua vez, reduzem o perfilhamento do canavial. Os poucos perfilhos que sobrevivem ficam fracos, afetando o peso da planta e a produção de açúcar. "Além de perder produção por hectare, o produtor canavieiro vai ser impactado na qualidade da produção em polpa que está entregando para a usina", acrescenta o profissional da Bayer.


Portanto, é a larva do Sphenophorus que provoca o maior estrago na cana ao consumir a parte interna do perfilho, formando galerias que inibem a translocação de nutrientes e de água, principais responsáveis pela formação de biomassa na planta da cana-de-açúcar.


Sphenophorus x Metamasius: os bicudos da cana

A cana-de-açúcar está sujeita a dois tipos de bicudo. Um deles é classificado cientificamente como Metamasius hemipterus, que é um inseto de pouca importância econômica e costuma aparecer por conta de lesões na planta, diferentemente do Sphenophorus levis, que coloniza a planta e provoca danos econômicos sérios.

O Sphenophorus adulto tem cerca de 1,5 cm de comprimento, cor escura e listras na parte superior. Já o Metamasius tem coloração mais alaranjada e é um inseto um pouco maior. Outra diferença é que o Sphenophorus produz serragem ao se alimentar do colmo da cana, enquanto o Metamasius produz fibras, semelhantes a um casulo.

Newton explica, ainda, que existem dois grandes grupos de insetos na natureza: os estrategistas R, que sobrevivem pela quantidade de descendentes que produzem a cada ano, e os estrategistas K, que não produzem uma grande quantidade de descendentes, mas protegem sua prole. No caso da cana-de-açúcar, pragas como a broca, a cigarrinha, o elasmo, o pulgão, entre outras, são enquadradas no grupo dos estrategistas R. Já no grupo dos estrategistas K, os exemplos clássicos na cana são as formigas, os cupins, o Metamasius e o Sphenophorus.


"O Sphenophorus levis deposita seus ovos na base do colmo da cana, ou seja, as larvas se desenvolvem em um ambiente bastante protegido. O estágio larval dura 60 dias, depois, os adultos nascem e sobrevivem naquele ambiente por mais 200 dias. Isso significa que é possível encontrar três gerações da praga na mesma touceira, o que propicia um escape nos métodos de controle", explica o consultor e professor da Ufscar sobre a capacidade que essa praga tem de, em pouco tempo, repor a população original.

É por isso também que o Sphenophorus consegue reduzir a longevidade do canavial ao se manter de um corte de cana para o outro. A cultura não consegue atingir produtividades médias a longo prazo e, assim, a produção declina rapidamente.


Características e histórico do Sphenophorus

O sinal da presença do Sphenophorus se manifesta por meio de uma clorose foliar na cana, provocando ressecamento de fora para dentro e das folhas mais velhas para as mais novas. Nesse processo, a gema apical é a última a secar.

Essa praga apareceu nos canaviais paulistas nos anos 1970, mais precisamente em Piracicaba. Nas décadas seguintes, acabou se disseminando por conta da expansão canavieira e da colheita mecanizada, já que os maquinários também podem ser contaminados. Lembrando que a larva é a responsável pelos prejuízos, mas o inseto adulto é quem faz a disseminação.

"O ciclo de vida do Sphenophorus dificulta o manejo agronômico porque você tem que combater o adulto e a larva. É preciso estabelecer o manejo integrado e aplicar um defensivo capaz de atingir a praga nos dois estágios de vida", ressalta o líder da Bayer.


Monitorando a infestação

A larva do Sphenophorus costuma aparecer nas estações mais secas do ano, quando ela eclode e vai consumindo a base do rizoma. Já o adulto dá as caras durante o verão, na época mais chuvosa. Contudo, diferentemente de outras pragas da cana que podem ser identificadas com tecnologia automatizada, o monitoramento do Sphenophorus é feito manualmente.

"O que ajuda um pouco é o acompanhamento do desenvolvimento da cultura por meio de Climate Fieldview™, porque é possível observar a presença de alguma anomalia. Mesmo assim, é preciso atuar in loco para confirmar qual é a praga e fazer a contagem para saber a intensidade da infestação. É um processo custoso e demorado", diz Paulo.

Para medir o nível da infestação, utiliza-se como padrão uma touceira de canapor hectare, distribuída de forma aleatória, mas percorrendo toda a área por ziguezague, a fim de obter uma boa amostragem. O produtor precisa arrancar a touceira e contar o número de perfilhos, que devem ser abertos longitudinalmente para verificar a presença de galerias dentro dele.

Newton explica que, para simplificar esse processo e reduzir custos operacionais, não é feita a contagem de larvas nem de adultos, mas de tocos com ou sem a presença da praga. "Isso porque existe uma boa correlação entre a porcentagem de tocos atacados e as perdas que o produtor terá no corte subsequente. Com isso, temos uma projeção da redução da produtividade no próximo ciclo ou no atual", explica o consultor. Assim, é possível determinar também se será necessário fazer a reforma do canavial ou investir no manejo.


Sphenophorus zero: como manejar a praga

O conceito de Sphenophorus zero, explica Newton, tem o objetivo de bloquear a continuidade de gerações da praga no canavial. Para isso, é aplicada a técnica de manejo integrado de controle, que envolve, em um primeiro passo, a destruição da soqueira da cana no momento de renovar o canavial e a eliminação de plantas tigueras que servem de abrigo para o Sphenophorus levis.

Nessa etapa, são utilizados equipamentos como o eliminador de soqueiras ou grades, operação que ajuda a reduzir em até 90% a presença das larvas. Para eliminar os insetos adultos, é necessário também aplicar o inseticida em PPI (Pré-Plantio Incorporado). "Deve ser feita a aplicação de uminseticida químico ou biológico e o produto deve ser depositado o mais próximo possível de onde estão localizadas as larvas e os adultos. Por isso, a aplicação em barra, que normalmente se vê nas lavouras, não funciona nesse caso", esclarece Paulo. No caso do Sphenophorus, é preciso aplicar um jato dirigido na base da touceira da cana ou seja, na linha de cultivo.

O líder da Bayer conta, ainda, sobre outra solução desenvolvida no Brasil que tem ajudado no combate a essa praga: a aplicação localizada de vinhaça. "A vinhaça é rica em potássio e normalmente volta para a lavoura em forma de aspersão. Mas nesse caso, o produtor aproveita a operação para fazer a aplicação localizada, a fim de depositá-la ao longo da linha de cultivo e potencializar o controle."

Para combater essa praga, a Bayer também conta com o inseticida Curbix®, que oferece proteção contra as duas formas biológicas do Sphenophorus, além de modo ação de controle prolongado.


Perspectivas para a safra de cana 24/25

De acordo com o professor e especialista em agronegócio, Marcos Fava Neves, as estimativas para produção da safra de cana 2024/25 são de 600 milhões de toneladas, um pouco menores do que o ciclo atual. O ponto de atenção para a próxima safra, que tem início no dia 01 de abril, é a incidência do clima, que pode influenciar nos resultados.


Sobre o preço do açúcar, o Doutor Agro pontua que permanece em um bom nível, porque há déficit de açúcar no mercado global. O crescimento no consumo de etanol também deve se traduzir nos preços.

"Agora é preciso ficar de olho no El Niño e na La Niña, que ajuda o clima dos países concorrentes na produção de cana. É preciso também acompanhar o preço do petróleo para ver a competitividade do etanol. Mas acredito que teremos uma boa safra, com o valor do ATR apenas um pouco mais baixo do registrado neste último ciclo", conclui.

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