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Danos e manejo de filoxera na videira

A filoxera quase causou a extinção dos vinhedos no século XIX e ainda pode causar danos graves ao desenvolvimento das videiras. Estratégias de monitoramento e controle são fundamentais para o manejo dessa praga17 de julho de 2022 /// 7 minutos de leitura

As cochonilhas, os ácaros e a mosca-das-frutas são consideradas algumas das principais pragas que atacam as videiras. Porém, além dessas pragas, existe outro inseto capaz de provocar ainda mais prejuízos ao agricultor: a filoxera.

A filoxera (Daktulosphaira vitifoliae) é um pulgão sugador que pode causar danos severos na cultura da videira. Isso ocorre em função do comportamento e do ciclo de vida desse inseto.

Afinal, ele pode se alimentar da parte aérea ou das raízes das plantas. Quando a praga ataca as folhas e ramos (forma galícola), prejudica a capacidade fotossintética da videira e gera outros problemas no seu desenvolvimento.

Porém, os maiores prejuízos são observados quando o inseto ataca raízes (forma radícola), principalmente em variedades suscetíveis cultivadas, como o pé-franco.

Em função desse comportamento agressivo, a infestação de filoxera já provocou problemas graves na cadeia de produção de vinhos, como a quase extinção dos vinhedos europeus no século XIX.

Naquela época, a devastação causada pela praga foi tão grande que sua identificação literalmente transformou os vinhedos no mundo.

Embora o risco oferecido por essa praga já não seja tão grande em função do uso de novas tecnologias e técnicas de cultivo, o controle desse inseto ainda é um desafio. Por isso, sua presença no vinhedo pode prejudicar a produção de uvas e reduzir a rentabilidade do produtor.

Para evitar esses problemas, você precisa entender como identificar e como fazer o manejo da filoxera da forma correta.

Porém, antes de entrar nesses detalhes, vamos viajar na história para entender a origem e o poder de destruição dessa praga.


Filoxera: a praga que mudou a história

A filoxera foi identificada pela primeira vez em 1856, no nordeste dos Estados Unidos. O problema começou em meados do século XIX, quando os agricultores americanos começaram a cultivar videiras no Novo Mundo.

A vinha cultivada foi a vinha européia (Vitis vinifera), única espécie de uva utilizada para a produção de vinhos finos. Portanto, essa era a espécie mais cultivada nos vinhedos.

Porém, inexplicavelmente, todas as tentativas de plantio dessa espécie na América falharam. Provavelmente, isso ocorreu em função da filoxera e do oídio, outra praga agressiva que também ataca as vinhas.

De alguma forma, essas plantas contaminadas foram levadas à Europa. O primeiro surto da praga foi identificado em 1863 na cidade de Pujaut, na França, e em Hammersmith, na Inglaterra.

Desde então, a praga se espalhou rapidamente. Em quinze anos, 40% dos vinhedos europeus foram comprometidos.

Até o fim do século XIX, o pulgão já havia sido detectado em quase todos os continentes, criando uma pandemia que durou quase 40 anos.

Os efeitos dessas infestações podem ser observados até hoje. Ainda existem vinhedos abandonados por conta da presença desse pulgão em vários países europeus.

O desespero para conter a praga era tão grande que muitos produtores chegaram a arrancar os pés contaminados pela raiz, na tentativa de salvar o restante do vinhedo.

Porém, o que salvou as videiras da extinção foi o desenvolvimento de uma variedade mais resistente, obtida a partir do enxerto da vinha europeia na vinha americana.

A adoção de medidas de isolamento fitossanitário e cuidados no manejo das videiras também contribuíram para a redução do problema.

Porém, a filoxera ainda não foi extinta. No Brasil, essa praga já foi identificada em quase todas as regiões produtoras. Por isso, é fundamental que o produtor aprenda como identificar e proteger seu vinhedo das infestações.


Como identificar a filoxera?

A filoxera (Daktulosphaira vitifoliae) é um inseto muito pequeno, capaz de atingir entre 0,3 e 3,0 mm de comprimento ao longo do seu ciclo de vida.No período de inverno, os pulgões adultos depositam ovos sobre a ritidoma (casca morta). Porém, esses ovos só eclodem na primavera, permitindo o surgimento das ninfas, que atacam as folhas e ramos, e formam galhas sobre elas (Figura 1).

As fêmeas ovipositam no interior das galhas, dando origem a novas fêmeas. Essas fêmeas galícolas são capazes de depositar cerca de 500 a 600 ovos dentro das galhas o que resulta em várias gerações do pulgão por ano.

Por conta desse modo e velocidade de reprodução, a planta começa a apresentar vários sintomas de infestação, possibilitando a identificação da praga.

Nas raízes, os pulgões provocam o desenvolvimento de nodosidades, estruturas parecidas com ganchos próximos das radicelas. Elas são resultantes do intumescimento dos tecidos das radicelas, que surgem em função da sucção contínua do inseto.

Além disso, a infestação também origina tuberosidades, pequenas estruturas que se desenvolvem nas partes lignificadas das raízes.

Já na parte aérea, a principal forma de identificação ocorre através das galhas, que são estruturas pequenas que se desenvolvem sobre a folha e abrigam as ninfas e ovos do pulgão.

Além do desenvolvimento dessas estruturas, os danos causados pelo ataque do inseto ajudam não só a identificar a presença da praga, mas permitem entender a extensão dos prejuízos que ela pode provocar.


Quais danos essa praga provoca na lavoura?

Os danos da filoxera galícola são observados nas folhas de cultivares de porta-enxertos sensíveis.

O ataque impede o desenvolvimento de novas brotações e reduz a atividade fotossintética, podendo paralisar o desenvolvimento da planta. Além disso, a praga torna mais frágil o sistema fisiológico da videira contaminada.

Como consequência, ela se torna mais vulnerável ao ataque de outras pragas e microrganismos, bem como a alterações climáticas e ambientais.

Esse tipo de dano é especialmente importante em viveiros, quando o ataque ocorre nos ramos que serão utilizados como porta-enxertos.

Quando o ataque ocorre na raiz, as nodosidades e tuberosidades reduzem a capacidade de absorção de nutrientes, além de servir como porta de entrada para fungos causadores de podridões radiculares.

Como consequência, o desenvolvimento é prejudicado, podendo ocorrer morte de plantas.


Como combater a filoxera?

Investir no monitoramento do vinhedo é o primeiro passo para evitar a disseminação da praga. Para isso, é importante observar o desenvolvimento de galhas na parte aérea das vinhas, especialmente das brotações novas.

Também é fundamental fazer a coleta de raízes, principalmente daquelas com nodosidades e solicitar que um profissional ou laboratório especializado consiga identificar a origem desses sintomas.

Além disso, é importante que o produtor invista em algumas estratégias de manejo para controlar a praga.


Estratégias de controle

De acordo com a Embrapa, as principais estratégias utilizadas no controle de filoxera na videira são o uso de porta-enxertos resistentes e o controle químico.

Esse tipo de controle deve ser realizado com o uso de inseticidas em plantas matrizes de porta-enxertos. Atualmente, existe apenas um produto com registro para controle de filoxera na videira, que é o flupiradifurona (butenolida), princípio ativo do inseticida Sivanto Prime .

As aplicações do inseticida devem ser iniciadas no início da infestação, quando for constatada a presença dos primeiros sintomas de galhas nas folhas.

O monitoramento deverá ser frequente e criterioso, visto que o atraso nas aplicações pode refletir em queda de eficácia de controle por parte do inseticida.

Em situações de reinfestação e alta pressão de ataque, as aplicações devem ser repetidas em intervalos semanais. Vale lembrar que as maiores doses devem ser utilizadas em situações de maior pressão ou em áreas com histórico de ocorrência da praga.

Acompanhe mais informações sobre o manejo de pragas!

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