Blog do Agro

Alexandre Mendonça de Barros explica a importância da relação Brasil, China e EUA para o agro

Professor fala sobre a relação entre Brasil, China e Estados Unidos e sua importância para o agronegócio brasileiro, em especial no mercado de grãos, como milho e soja.21 de julho de 2022

O Impulso Papo & Prosa aborda o mercado de grãos, o impacto das transformações ambientais, as relações entre China, Brasil e EUA, e os relatórios de intenção de plantio de milho e de soja nos EUA. Como isso pode impactar o mercado brasileiro e qual a relevância para você, produtor nacional de grãos? Acompanhe!

A China é a maior agricultura do mundo e, ao atuar na indústria de fertilizantes, químicos e sementes, estimulou a sua produção interna, obtendo grande êxito. No entanto, o professor Alexandre Mendonça de Barros explica que, com o crescimento repentino da população do país na década de 90, o governo percebeu que não conseguiria produzir todos os grãos necessários para sustentar a produção de proteína animal do país. Com isso, foi tomada a decisão de focar em alimentos-base da nutrição chinesa, como arroz, trigo e milho.

Relação Brasil e China: Comércio de grãos

Desta forma, Brasil, Estados Unidos e Argentina produzem a soja que os chineses precisam. E foi a partir daí, na década de 90, que a agricultura e o cerrado brasileiros explodiram, com uma transformação radical.

Nos últimos 10 anos houve crescimento na demanda de carne vermelha por parte da China, e o Brasil tornou-se um grande fornecedor. O sonho chinês de ser autossuficiente na produção de alimentos não se sustentou, levando a China a buscar parceiros confiáveis para a importação de alimentos.

Mercado de grãos na China: Impactos ambientais.

Outro aspecto vivido neste momento de pandemia é a percepção de uma disfunção no sistema alimentar chinês, em que o consumo de carne de animais silvestres não é mais possível devido ao risco sanitário. Isso passa, então, a ser uma questão ambiental que conecta os elos da importância do meio ambiente para o sistema nutricional e alimentar do mundo como um todo.

Exatamente no momento que a China acelerava o seu processo de dependência do mercado internacional de grãos, também adotou uma política agressiva de biocombustíveis, especialmente de etanol de milho.

No entanto, com a eleição do presidente Joe Biden e o contexto ambiental dos Estados Unidos caminhando para um possível cenário de valorização, nota-se maior número de refinarias no país produzindo biodiesel e aumentando o uso de óleos vegetais, gerando uma possibilidade de intensificação no consumo de biocombustíveis. Isso, mais uma vez, pressiona a demanda de grãos que já está alavancada pelo movimento de maior transformação de proteína animal chinesa.

Esse fato mostra que o Brasil é uma central para a resolução dos problemas, pois ao olharmos para a área geográfica mundial, não há mais terras a serem exploradas na Europa Ocidental, todas as áreas agricultáveis da Ásia já são utilizadas, e EUA e Canadá também já ocuparam suas áreas.

Para Mendonça, estamos entrando em equilíbrio mundial, especialmente num momento pós-pandemia em que o consumo tende a crescer desenfreadamente, somado a isso, há um impulso para ampliar o sistema de produção, o que está ocorrendo no Brasil.

Mercado de grãos no Brasil: Celeiro do mundo.

Evidentemente, o mundo inteiro olha para o Brasil, que tem o papel central de ampliar o seu sistema produtivo com muita tecnologia, respeito às normas ambientais e à questão sanitária, e cuidado no sistema alimentar porque o país contribuirá cada vez mais com a alimentação de grande parcela do globo.

Recentemente, o governo americano divulgou o seu relatório de intenção de plantio, mostrando que os estoques finais de soja e milho estão caindo cada vez mais. A cada novo relatório as exportações foram elevadas, especialmente as de soja, mas o fato novo é o mercado de milho.

Os americanos perceberam que os chineses estavam comprando mais milho e, com isso, temos a percepção, no mercado global, de que viveremos um momento de grande aperto.

Mercado de grãos nos EUA: Influência no cenário Brasil e China

Uma tabela, com dados do USDA e da MB Agro, resume o balanço da soja nos EUA, que afeta os preços internacionais. A intenção de plantio para o próximo ano aponta uma área plantada de 35,4 milhões de hectares com uma produtividade de 3,4 t/ha. No entanto, o clima nos EUA não está muito bom, e essa volatilidade climática mostra, mais uma vez, a importância e o impacto do meio ambiente para os números, decisões e preços da cadeia produtiva mundial.

Imaginando uma boa produtividade, os EUA têm condições de colher 120 milhões de toneladas de soja. No entanto, do ponto de vista de consumo e exportação, a previsão é de manutenção do que está acontecendo, ou seja, 122 milhões de toneladas e estoques finais de apenas 1,7 milhão de toneladas.

Mendonça acredita que a exportação americana possa ser mais forte, bem como o consumo interno devido ao biodiesel que requer óleo de soja, levando a estoques nulos e que impactam a exportação de soja do Brasil.

No milho, os americanos preveem uma área, para a safra 21/22, de 37,1 milhões de hectares e produtividade de 11,3 t/ha. O potencial da safra é de 381 milhões de toneladas, projetando uma exportação de 67 milhões de toneladas, consumo de 321 milhões e mais 138 milhões de toneladas para o etanol. A previsão para o estoque de passagem é de 27 milhões de toneladas, mas pode ser menor.

A preocupação com a questão ambiental gera pressão sobre os mercados mundiais de grãos, seja pela incerteza do movimento climático, seja pela demanda adicional de combustível. Não é por outra razão que os preços da soja e do milho subiram agressivamente no mercado mundial.

Isto mostra a íntima relação entre a transformação no sistema de produção chinês, que demanda mais milho e soja tanto dos EUA quanto do Brasil e enxuga os estoques de passagem em níveis sem precedentes, indicando que é preciso olhar com atenção as transformações do meio ambiente e seus efeitos sobre todos os mercados agrícolas.

Nesse contexto, o Brasil ganha importância na equação. Já na próxima safra devemos acelerar a produção para fechar o equilíbrio apertado do mercado internacional. Talvez leve dois ou três anos para corrigirmos os estoques baixos com a demanda crescente. Estamos num mundo interligado e interconectado, com a relação entre a agricultura e o meio ambiente cada vez maior.

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