Como o clima está impactando a safra do Hemisfério Norte?
Entenda como as condições climáticas vêm afetando a safra americana, especialmente as lavouras de milho e lavouras de soja nos Estados Unidos, e quais são os reflexos no mercado de grãos.O grande destaque da safra americana tem sido o clima, marcado pelos efeitos do El Niño, que vem impactando diretamente as lavouras de milho e lavouras de soja nos Estados Unidos.
Em princípio, a fase de plantio nos EUA registrou um dos melhores desempenhos da última década para milho e soja. Esse bom começo levou os fundos de investimento a venderem os grãos, derrubando os preços em Chicago. No entanto, após o plantio, ficou evidente que a seca prejudicava a fase de emergência das plantas. Mendonça de Barros destaca que relatórios do governo americano mostravam uma piora constante nas condições das lavouras, semelhante ao ocorrido em 2012, quando o país enfrentou a pior safra em décadas.
"Estamos discutindo a emergência das plantas, que é o começo de tudo. Além disso, não é usual haver problemas de umidade nos Estados Unidos porque os solos têm alta capacidade de retenção de água, mas esse ano foi diferente", acrescenta.
Com esse cenário, os preços voltaram a subir, pois os fundos que haviam vendido milho e diminuído as posições em soja começaram a recomprar contratos à medida que a percepção da safra americana piorava.
"Nas últimas semanas, as chuvas finalmente chegaram ao Meio-Oeste americano, não de uma maneira generalizada, mas isso acalmou os mercados. Veja a complexidade atual do mercado", reforça o analista.
Essa instabilidade preocupa porque, ao contrário do Brasil, o Hemisfério Norte não conta com múltiplas safras nem estoques grandes. Assim, pequenas variações climáticas podem provocar grandes impactos na produtividade.
Além disso, um relatório recente do governo americano revisou a área de lavouras de milho em 800 mil hectares a mais, enquanto reduziu em 1,7 milhão de hectares a área de soja. Essa mudança de oferta favoreceu os preços da soja em detrimento do milho, alterando as expectativas para o mercado de grãos no segundo semestre.
Como fica o balanço da soja e milho na safra americana?
De acordo com Alexandre Mendonça de Barros, a safra americana de soja, inicialmente projetada em 123 milhões de toneladas, foi revisada para 117 milhões.
"Considerando uma produtividade recorde, que não parece que vai acontecer pelos danos ocorridos nas lavouras, uma queda de 6 milhões de toneladas é muito significativa, de tal maneira que os estoques previstos para o fim da safra, em agosto do ano que vem, ficaram em 4 milhões de toneladas e não mais em 10 milhões, como projetado inicialmente", explica o analista.
Na prática, esse cenário traz oportunidades para os produtores brasileiros que iniciam o plantio de soja no segundo semestre. A expectativa é que os Estados Unidos exportem menos do que os 54 milhões de toneladas inicialmente previstos, abrindo espaço para a soja brasileira no mercado de grãos. "Não foi à toa que os preços da oleaginosa, tanto no mercado mais curto como no mercado futuro, voltaram a subir", reforça.
Para o milho, a situação é diferente. Apesar da instabilidade climática, os EUA mantêm uma produção expressiva do cereal. O governo americano chegou a elevar a estimativa da safra de milho para quase 400 milhões de toneladas — ante 349 milhões no ano passado. No entanto, Mendonça de Barros alerta que esse número ainda pode ser revisado para baixo, com uma possível queda de 15 a 20 milhões de toneladas, caso as condições das lavouras de milho continuem desafiadoras.
Projeções para o mercado de grãos
O analista de mercado alerta que a volatilidade deve permanecer elevada nas próximas semanas, impulsionada principalmente pelas condições climáticas. No entanto, esse cenário pode representar uma janela de oportunidades para os produtores brasileiros no mercado de grãos.
“Nossos produtores devem aproveitar esses momentos de repique. Na minha visão, voltaremos a ter uma rentabilidade interessante na próxima safra, perto da normalidade, principalmente por causa da queda nos custos de produção", destaca o especialista.
Ele reforça ainda a importância de acompanhar os reflexos da seca na Ásia, que podem impactar a produção agrícola e a safra americana. Segundo os meteorologistas, o auge dos efeitos do El Niño ainda estão por vir e tendem a se intensificar por volta de setembro, influenciando diretamente as lavouras de milho e lavouras de soja em diferentes regiões.
"A mensagem final, então, é que o mercado de clima tem dado uma oportunidade de elevações de preços, ao mesmo tempo, a redução de área de soja nos Estados Unidos provocou um aperto maior no mercado americano, o que abre mais espaço para o mundo vir ao Brasil se abastecer com a nossa soja", conclui o analista.