Perspectivas para os mercados agrícolas em 2023
Confira o que está movimentando o mercado de grãos globalmente e entenda os fatores que explicam a recente queda nas cotações da soja no mercado agrícola brasileiro.A evolução do plantio da soja e do milho nos Estados Unidos é o principal destaque no atual cenário dos mercados agrícolas e do mercado de grãos. O avanço no ritmo das operações tem gerado expectativas positivas para a safra americana.
"A evolução do plantio de soja até o começo de maio foi excepcional, talvez o melhor ano de plantio. No milho, o plantio também está em linha com os melhores momentos dos últimos anos", ressalta Alexandre Mendonça de Barros.
Segundo o especialista, as curvas de preço da soja desde novembro do ano passado apresentam variação muito pequena, reforçando as previsões iniciais.
Ainda sobre a soja, ele observa que a mega safra brasileira compensou a forte quebra registrada na Argentina, que colheu cerca de 30 milhões de toneladas a menos do que o esperado. A mesma leitura se aplica ao mercado de milho, que segue influenciado pelo bom desempenho das lavouras brasileiras.
Por que os preços caíram tanto no Brasil?
Segundo Mendonça de Barros, a principal explicação para esse cenário é a forte queda nos prêmios, ou seja, a diferença entre os preços pagos nos portos brasileiros e as cotações de Chicago no mercado de grãos.
"Nas últimas safras, vimos prêmios positivos rodando na maior parte do ano, inclusive em período de colheita. No ano passado, quando a safra quebrou, estimava-se colher 145 milhões de toneladas de soja, mas foram colhidas 125 milhões. O mercado internacional sentiu esse efeito e não houve uma pressão sobre os portos brasileiros. Já neste ano, tivemos uma safra que foi muito pouco vendida. Além disso, veio uma safra gigante no Brasil, e essa combinação de fatores gerou uma forte pressão logística no momento da colheita."
Para o analista de mercado, a grande discussão agora gira em torno da capacidade de armazenagem no Brasil.
Atualmente, a capacidade de armazenagem de grãos no país é estimada em 189 milhões de toneladas. O volume de soja e milho colhidos apenas no Mato Grosso, por exemplo, totaliza mais de 90 milhões de toneladas.
"Vários estados brasileiros têm um déficit de armazenagem diante dessa combinação da safra de soja e da safrinha de milho. Com isso, os prêmios no Brasil começaram a ficar fortemente negativos", acrescenta.
Essa pressão derrubou a cotação do mercado agrícola da soja em reais, algo que não ocorreu em anos anteriores, porque houve quebras de safra em decorrência principalmente dos efeitos da La Niña.
Na visão do analista, à medida que as exportações avancem, os prêmios tendem a se recuperar no segundo semestre, o que deve favorecer a alta dos preços da soja no mercado de produtos agrícolas.
Como o clima vai determinar os mercados agrícolas em 2023?
Na avaliação de Alexandre Mendonça de Barros, a influência do El Niño sobre o clima será um dos principais fatores para o desempenho dos mercados agrícolas no segundo semestre de 2023.
Enquanto Brasil, Argentina e Estados Unidos têm perspectiva de boas safras devido à previsão de chuvas mais regulares, países como Austrália, norte da China, Índia e sudoeste asiático podem sofrer com a seca provocada pelo fenômeno, afetando as safras de café, óleo de palma e diversos grãos.
De acordo com o analista de mercado agrícola, os principais modelos climáticos indicam que a temperatura do Oceano Pacífico ficará acima da média histórica, sugerindo efeitos mais intensos do El Niño.
"Essas regiões são relevantes produtoras de arroz, trigo e milho, com isso, qualquer quebra de safra na Ásia contamina os mercados de grãos globalmente e afeta a precificação futura", explica.
Diante desse cenário, o clima se torna um elemento decisivo para a economia agrícola mundial e para o equilíbrio da oferta de grãos nos próximos meses, exigindo atenção redobrada de produtores e investidores do mercado de produtos agrícolas.