Blog do Agro

As lições do agronegócio em 2022 e os preparativos para o novo ano

Os aprendizados do agronegócio em 2022 fortalecem o setor e apontam caminhos para um mercado de grãos mais competitivo e inovador no Brasil.
14 de janeiro de 2023 /// 41 minutos de leitura

Balanço do agronegócio em 2022 e lições para 2023


A safra 2021/22 foi marcada por ótimos resultados em produção, preços e rentabilidade, mas também trouxe grandes desafios para o agronegócio no Brasil. O aumento nos custos de produção, a incerteza na disponibilidade de insumos e as adversidades climáticas exigiram estratégias mais precisas dos produtores.

Para analisar o desempenho do agronegócio em 2022, os aprendizados do setor e as perspectivas para o próximo ano no mercado de grãos, o jornalista e apresentador do Impulso Cast, Dony De Nuccio, conversou com Roberta Paffaro, jornalista com mestrado em agronegócio e MBA em economia, e com o professor Marcos Fava Neves, um dos maiores especialistas em agronegócio do país.

Os grandes números do agronegócio em 2022


A safra de grãos 2021/22 alcançou 271 milhões de toneladas, um crescimento de 6% em relação ao ciclo anterior, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

No café, a produção foi de 50,4 milhões de sacas, também 6% maior, enquanto a moagem de cana-de-açúcar chegou a 517 milhões de toneladas até meados de novembro, mantendo o ritmo da temporada passada, de acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA).

Para o professor Marcos Fava Neves, 2022 foi um ano histórico para o agronegócio brasileiro, apesar dos desafios climáticos que afetaram as lavouras. "No geral, a produção e os preços possibilitaram uma renda positiva no campo. Outro destaque são as exportações do agronegócio que tiveram um crescimento fantástico. O agronegócio brasileiro também acabou sendo beneficiado com os reflexos do conflito entre Rússia e Ucrânia, pois permitiu ao Brasil ocupar alguns mercados. Por outro lado, houve estresse com a questão de fornecimento de defensivos e fertilizantes", avalia.

Roberta Paffaro reforça a relevância das exportações como um dos grandes pontos positivos do ano, ressaltando que a demanda por produtos do agronegócio no Brasil segue em alta. "Apesar de todos os desafios que tivemos neste ano, conseguimos superá-los, manter as exportações e abrir novos mercados. Minha perspectiva é muito positiva para o próximo ano", acrescenta.

O mercado de grãos


Na safra 2021/22, a produção de soja registrou queda para cerca de 125 milhões de toneladas, enquanto o milho avançou de 87 milhões para 112 milhões de toneladas.

Segundo Roberta Paffaro, esse comportamento é explicado pelas diferenças de mercado. A soja, fortemente voltada à exportação e com precificação em dólar, permite que os produtores aproveitem as janelas de oportunidade para comercializar a oleaginosa quando o câmbio é mais favorável.

Já o b, muito usado para suprir a demanda interna, principalmente na indústria de alimentos e na produção de biocombustíveis como o etanol de milho, é precificado principalmente no mercado doméstico.

"O milho é precificado internamente, por isso, oscila muito de acordo com a demanda interna. Inclusive, com a China comprando mais, essa janela de exportação pode abrir oportunidade de rentabilidade maior para o produtor. Mas vale lembrar que a localização do produtor é importante porque impacta nos custos com transporte, frete e impostos", explica Roberta.

Ela cita ainda o exemplo de agricultores do Mato Grosso, que vendem milho para indústrias de etanol e depois compram o biocombustível a preços mais competitivos. Essa estratégia, segundo Roberta, é um exemplo de como o agronegócio no Brasil busca soluções criativas para equilibrar custos, especialmente em um ano como 2022, marcado por desafios no mercado de grãos. "Essa nova dinâmica é interessante, mostra como o agro é criativo e como é importante pensar fora da caixa. É possível criar alternativas e trazer novas fontes de negócios para garantir essa rentabilidade", conclui.

Os impactos do aumento nos custos de produção

Um dos principais desafios do agronegócio em 2022 foi a forte alta nos custos de produção, que pressionou as margens dos produtores brasileiros.

O balanço da oferta e demanda de insumos, sobretudo os fertilizantes em decorrência da guerra entre Rússia e Ucrânia, foi responsável por boa parte desse aumento que pesou no bolso dos produtores brasileiros. Os lockdowns que ainda ocorrem na China também influenciaram esse cenário.

Segundo Marcos Fava Neves, os custos elevados de container, a escassez de fretes e o preço do combustível. "Esse é um ponto que me preocupa. Mesmo que esse aumento tenha ocorrido em todas as agriculturas do mundo, é importante tentar reduzir os custos de produção para que o Brasil seja o país com a maior margem na agricultura. Dessa forma, há maior incentivo ao crescimento", ressalta o especialista.

Como melhorar o planejamento e a gestão?

Para enfrentar os desafios do agronegócio em 2022 e fortalecer o agronegócio no Brasil no próximo ciclo, especialistas apontam caminhos para aprimorar o planejamento e o controle da atividade rural.

Segundo o professor Marcos Fava Neves, a gestão de uma propriedade rural deve se apoiar em três pilares: financeiro, operacional e custos.

  • Financeiro: é fundamental cuidar do caixa, manter capital disponível e saber o momento certo de comprar ou vender. "Outro ponto importante nas decisões de investimento é ficar melhor antes de ficar maior para que o crescimento não deteriora as margens, levando a endividamento elevado", alerta;

  • Operacional: a excelência operacional passa por uma gestão eficiente por metro quadrado, uso de tecnologia, inovação e equipes bem treinadas e motivadas;

  • Custos: cada detalhe deve ser registrado e acompanhado de perto. “O produtor deve medir tudo, não deixar vazar nada. É importante que a equipe esteja engajada na mesma cultura, para isso, é necessário compartilhar os resultados também", reforça.

Na comercialização da safra, Roberta Paffaro destaca a importância de conhecer todos os custos e acompanhar o mercado de grãos para identificar as melhores oportunidades de venda. O apoio de um consultor, segundo ela, faz diferença para ampliar a rentabilidade.

"É muito importante usar todas as informações e dados que temos disponíveis hoje em dia para organizar esse pilar do negócio. O produtor precisa se enxergar como um empresário rural, entender esses custos e ferramentas de mercado, complementar a venda e buscar novas possibilidades. A eficiência do agro depende da gestão financeira, então use o mercado a seu favor", conclui Roberta.

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