Alexandre Mendonça de Barros analisa o fechamento da safra no Hemisfério Norte
Com safra de grãos abaixo do esperado nos EUA e na Europa, saiba quais são os impactos no cenário internacional e as perspectivas para o agronegócio brasileiroCom a safra de grãos abaixo do esperado no Hemisfério Norte, o analista de mercado Alexandre Mendonça de Barros avalia os impactos no cenário internacional e as perspectivas para os produtores brasileiros.
Ele destaca que dados mais recentes sugerem uma quebra maior na safra dos Estados Unidos e da Europa, em comparação com os números projetados no início do plantio nessas regiões.
"No caso da Europa, a seca foi extrema e prejudicou principalmente a safra de milho. Os europeus costumam colher 71 milhões de toneladas de milho e os números atuais são de 55 milhões a 52 milhões de toneladas", comenta. Nesse cenário, o Brasil já exporta duas vezes mais milho para suprir a falta do produto.
Os efeitos da quebra de safra na Ucrânia
Outro ponto destacado pelo analista é a redução na safra de trigo na Ucrânia, com uma quebra de 12 milhões de toneladas.
A produção de milho no país europeu também foi negativa por conta da menor área plantada em razão dos conflitos com a Rússia.
"Para complicar o quadro, há a guerra. A mensagem principal é que a Europa vai precisar importar mais milho, o que deve afetar sua produção de carnes. Além disso, o frio e o alto custo de energia devem induzir uma exportação de carnes do Brasil", afirma.
Projeções para a agricultura dos EUA
Nos Estados Unidos, a situação das pastagens tem afetado o abate de gado. O cenário do algodão do país também é negativo e a área colhida deve cair significativamente, de acordo com Mendonça.
Sobre o milho e a soja, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), indicava uma safra grande, porém, os números do fechamento sugerem uma quebra considerável.
"No caso da soja, estimava-se 123 milhões de toneladas, mas o último relatório sugere 117 milhões. A implicação prática disso é que as exportações americanas vão cair. Estima-se uma queda de 56 milhões de toneladas, mas acredito que será maior porque os estoques de soja previstos para o ano que vem, pelo governo americano, são de apenas 2 milhões de toneladas. Isso significa que haverá uma pressão sobre a compra dos estoques brasileiros de soja", avalia o especialista.
Houve, ainda, redução na produção de milho nos EUA: no ano passado, foram 384 milhões de toneladas, enquanto em 2022 a última projeção indicava 353 milhões. "O governo americano está com uma visão negativa quanto à produção de carnes no próximo ano. Vários analistas do mercado internacional sugerem que a desaceleração econômica do mundo vai induzir uma queda no consumo de carnes e, com isso, uma diminuição no consumo de milho para ração", observa Mendonça.
No caso americano, a previsão é de uma redução de 10 a 12 milhões de toneladas no consumo de milho para ração no país. "Mas se essa hipótese estiver errada, as exportações americanas serão ainda menores do que os 55 milhões previstos no último relatório. Particularmente, acho mais provável que o consumo de ração não caia tanto, o que vai apertar ainda mais os estoques finais nos Estados Unidos e reduzir as exportações."
Como o cenário internacional pode impactar o agro brasileiro?
Para o planejamento da próxima safra brasileira, Mendonça destaca que os produtores precisam estar atentos a dois pontos: uma safra global menor do que a prevista e, ainda, se haverá desaceleração no consumo de alimentos a ponto de afetar os volumes de importação. "Eu não estou muito comprado nessa tese, mas muita gente acredita que haverá essa desaceleração", acrescenta. Mendonça acredita que a China deve abandonar a estratégia de lockdown para contenção da covid e adotar a estratégia da vacinação, com mais flexibilização, o que pode aquecer a demanda por alimentos.
Portanto, no planejamento da próxima safra, os produtores brasileiros devem ficar atentos ao fato de que há uma safra menor no Hemisfério Norte, o que contribui para a agricultura brasileira no mercado internacional. Por outro lado, há dúvidas quanto à demanda futura por alimentos.
"Particularmente, não consigo ver um cenário tão negativo, mas é importante ter consciência de que essa opinião não é unânime e no mercado internacional há um pessimismo maior. Vamos ficar atentos aos movimentos: as oportunidades de bons preços vão aparecer, mas o mercado provavelmente estará com alta volatilidade," finaliza.