Mofo branco na soja: desafios e estratégias de controle
O mofo-branco na soja é uma das doenças fúngicas mais severas e pode provocar reduções de produtividade de até 70%. Entenda como o mofo branco ataca e adote estratégias de manejo para proteger a lavoura.Com potencial de provocar perdas de até 70% na produtividade da soja, o mofo-branco na soja — causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum — permanece entre as principais ameaças às lavouras brasileiras. Estima-se que a área cultivada com soja infestada pelo patógeno ultrapasse 11 milhões de hectares, representando cerca de 30% do total plantado no país.
Diante desse cenário, entender como controlar o mofo branco na soja exige conhecimento técnico, planejamento estratégico e uso de ferramentas específicas. Segundo Ricardo Brustolin, consultor e pesquisador da Brustolin Consultoria, o primeiro passo do manejo é compreender o ciclo do mofo branco na soja e o comportamento do patógeno.
“O mofo branco se manifesta com um micélio branco e cotonoso que recobre os órgãos da planta, começando pela parte aérea e podendo alcançar as raízes. A doença, causada pelo fungo Sclerotinia, que libera ácidos que degradam os tecidos vegetais, utilizando os nutrientes da planta para sobreviver e se proliferar”, explica Brustolin.
Um dos fatores mais críticos dessa doença é a formação dos escleródios, estruturas de resistência capazes de permanecer viáveis no solo por até dez anos. “Esses escleródios funcionam como verdadeiros bancos de inóculo. Quando encontram condições climáticas favoráveis, germinam e reiniciam o ciclo, dificultando o manejo se não houver um controle contínuo e integrado”, alerta o pesquisador.
Influência do clima e comportamento do mofo-branco na soja nas últimas safras
A ocorrência do mofo-branco na soja é altamente dependente das condições climáticas, especialmente em regiões com altitudes acima de 700 metros, temperaturas amenas e alta umidade durante o florescimento da soja.
“Em regiões com chuvas constantes e temperaturas entre 18 °C e 22 °C no período de florescimento, o risco de infecção é significativamente maior. Quando a infecção ocorre, os escleródios formados permanecem no solo como fonte de inóculo para as próximas safras. Por isso, o controle preventivo do mofo-branco na soja é essencial”, destaca Ximena Vilela, gerente de marketing de fungicidas na Bayer.
Nas últimas safras, o comportamento do mofo branco na soja foi diretamente impactado pelos fenômenos climáticos El Niño e La Niña. “Na safra 2023/24, sob influência do El Niño, registramos baixa incidência no Cerrado devido à estiagem. Já no Sul, apesar do excesso de chuvas, as temperaturas acima da média limitaram a expressão da doença”, explica Gerson Dalla Corte, líder de fungicidas da Bayer do Brasil.
Já na safra 2024/25, com La Niña, o cenário foi diferente: ocorreram perdas significativas em estados com histórico elevado de mofo-branco, como Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Bahia. “A principal mensagem para o agricultor é a importância de conhecer o histórico da área, avaliar o nível de inóculo na lavoura e acompanhar a previsão climática quando a fase crítica da cultura — o início do florescimento — se aproxima. Dessa forma, é possível adotar ferramentas robustas e efetivas”, alerta Gerson.
Ximena reforça que, uma vez confirmada a presença do patógeno na lavoura, o cuidado do produtor deve ser redobrado: “Basta uma chuva no pré-fechamento para que os escleródios germinem e iniciem uma nova infecção.”
Perdas econômicas são expressivas pelo mofo branco na soja
As perdas econômicas causadas pelo mofo-branco na soja podem ser significativas e comprometem seriamente a produtividade e a rentabilidade da lavoura. De acordo com o pesquisador Ricardo Brustolin, com apenas 2% de incidência da doença em uma lavoura com produtividade estimada de 75 sacas por hectare, o prejuízo é de uma saca por hectare.
Em níveis mais elevados de contaminação, entre 10% e 20%, as perdas chegam a 10 sacas por hectare. Brustolin alerta que o conhecimento técnico já disponível deve ser utilizado de forma estratégica pelo produtor:
“Não podemos perder soja para o mofo branco porque o conhecimento está aí. Precisamos manter o manejo integrado no plano de produção”, comenta Brustolin.
A importância do manejo integrado
Uma das principais formas de introdução do mofo-branco na soja em áreas ainda livres da doença ocorre por meio de sementes contaminadas. “O fungo pode estar presente tanto em escleródios misturados ao grão quanto em micélio dentro da semente, o que facilita sua introdução em novas áreas, principalmente quando não há tratamento adequado”, explica Ricardo Brustolin.
Segundo Gerson Dalla Corte, o fluxo intenso de sementes pelo Brasil tem sido um dos principais fatores de disseminação da doença. Por isso, o uso de sementes certificadas e o tratamento de sementes são medidas indispensáveis para prevenir a dispersão do patógeno. Além disso, a limpeza de maquinários agrícolas, que podem transportar o mofo-branco de uma área para outra, é fundamental no controle da doença.
“O primeiro passo é evitar a entrada da doença por meio de sementes e maquinários contaminados. A partir do momento em que há histórico de mofo-branco na lavoura, é essencial continuar usando sementes certificadas, realizar o tratamento de sementes e aplicar o controle biológico para reduzir a população do fungo. No período de florescimento, é necessário fazer a aplicação de fungicidas para mofo-branco na soja no momento correto, na dosagem adequada, e associar essa prática à rotação de culturas não hospedeiras. Ou seja, é necessário preparar o sistema e conviver com a doença de forma estratégica, adotando o manejo integrado”, conclui Ricardo.
Attila: solução da Bayer contra o mofo-branco na soja
Entre os produtos disponíveis para combater o mofo-branco na soja, Ximena Vilela destaca o desempenho do fungicida Attila, “realizamos um levantamento em 130 áreas de produção, distribuídas em 51 municípios, e Attila apresentou um incremento médio de duas sacas de soja por hectare em comparação com os principais concorrentes, além de atingir 78% de vitórias nos testes de campo. Em três safras consecutivas, os ensaios experimentais mostraram ganho médio de 2,5 sacas por hectare com o uso de fungicidas específicos”, explica.
Portanto, o retorno sobre o investimento em fungicidas para mofo-branco na soja é altamente compensador. Segundo Gerson Dalla Corte, “hoje, uma aplicação para controle de mofo-branco custa, em média, R$ 135 por hectare, o equivalente a cerca de 1,2 saca. Sem esse manejo, a perda pode chegar a 40 sacas por hectare, o que significa um retorno de 5 a 10 vezes para cada real investido.”
Os especialistas reforçam que o sucesso no manejo depende da antecipação e da precisão na tomada de decisão. “O melhor momento para aplicar fungicidas é antes do fechamento das linhas de plantio. Essa fase varia conforme a cultivar, por isso, o conhecimento técnico da lavoura é essencial”, afirma Ricardo Brustolin. Ele recomenda iniciar a aplicação com fungicidas sistêmicos potentes e realizar uma segunda aplicação entre 7 e 14 dias, garantindo proteção até o final da floração e aumentando a eficiência no controle do mofo-branco na soja.
Cenário do mercado da soja
No cenário atual do mercado da soja, Marcos Fava Neves, professor e especialista em agronegócio, destaca que o Brasil colheu aproximadamente 170 milhões de toneladas, dentro de uma produção global estimada em 420 milhões para a safra 2023/24. “A boa notícia para o produtor brasileiro é que a área de soja nos Estados Unidos deve ser menor na safra 2024/25, com foco maior no milho. Isso pode favorecer os preços, mas é essencial acompanhar o clima e as tensões geopolíticas, especialmente as relações comerciais entre China e Estados Unidos”, ressalta o especialista.