As perspectivas de mercado para 2022 e os impactos no agronegócio, segundo Alexandre Mendonça de Barros
O professor e palestrante de referência no agronegócio analisa o cenário macroeconômico para o próximo ano e os fatores que vão influenciar o setor.O desempenho da economia brasileira está intimamente ligado ao agronegócio, e fatores como o aumento da demanda global por alimentos, a elevação nos custos de combustíveis e insumos, além dos baixos estoques mundiais, contribuíram para a alta dos preços agrícolas.
Diante desse cenário, o professor Alexandre Mendonça de Barros analisa as perspectivas de mercado para a safra 2022, destacando os principais desafios e oportunidades que o agronegócio brasileiro deve enfrentar, considerando tanto o contexto macroeconômico nacional quanto o internacional.
Olhando para os dados de crescimento mundial
De acordo com Alexandre Mendonça de Barros, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetou um crescimento global vigoroso para 2021, impulsionado pelos estímulos econômicos e pelos avanços na vacinação, que contribuíram para reduzir os efeitos da pandemia.
No entanto, para 2022, o cenário apresenta sinais de desaceleração, embora a demanda global permaneça aquecida. "Provavelmente, conforme avançarmos para metade do ano, vamos perder um pouco de tração porque a grande discussão no mundo hoje é a inflação", explica.
Segundo o economista, praticamente todos os países enfrentam um choque inflacionário expressivo, resultado da desorganização das cadeias produtivas durante a pandemia. O crescimento econômico, impulsionado por fortes estímulos fiscais e monetários — aliados a taxas de juros muito baixas —, acabou gerando escassez de insumos e, consequentemente, alta generalizada dos preços.
"A grande discussão dos melhores macroeconomistas do mundo é se essa inflação é duradoura ou se a resposta na oferta vai acontecer. Obviamente leva um tempo para que o mundo se restabeleça e esse crescimento da oferta vai fazer com que a inflação comece a cair", observa.
As projeções para a safra 2022
Segundo Alexandre Mendonça de Barros, embora a principal tese seja de que a ampliação da oferta global tende a reduzir a inflação, uma elevação das taxas de juros deve ocorrer para forçar essa desaceleração dos preços de forma mais segura.
"Isso vai gerar uma retirada dos fundos para aplicações de renda fixa mais firmes. E num certo sentido, na medida que a economia perder um pouco essa velocidade, é natural que as commodities sofram uma acomodação de preços", explica o professor.
No contexto do agronegócio, essa tendência depende também do desempenho das safras. Uma boa safra 2022 seria essencial para equilibrar os preços e amenizar a pressão inflacionária sobre os custos de produção.
Barros ressalta ainda que a alta nos preços dos insumos agrícolas — como fertilizantes, defensivos e combustíveis — deve se prolongar ao longo de 2022. Ele observa que, no hemisfério norte, as margens de produção de trigo estão praticamente zeradas devido aos custos elevados dos insumos agrícolas, o que acende um sinal de alerta para o mercado global.
"Do ponto de vista financeiro, acreditamos que vai ter uma virada que deve começar a acontecer no ano que vem. O ponto chave é acompanhar a inflação nos Estados Unidos e na Europa para saber o tamanho dessa alta nas taxas de juros. Mas avançando para metade do ano que vem, vamos ver essa elevação da taxa de juros, o que vai desinflar um pouco a compra dos mercados em cima de commodities, e aí vale também para a commodity agrícola . Mesmo assim, devemos seguir, pelo menos na entrada do próximo ano, com preços altos de insumos, o que segura de certa forma os preços agrícolas em patamares mais elevados", avalia Barros.
Fatores que podem ajudar a reverter a alta nos preços
De acordo com Alexandre Mendonça de Barros, alguns movimentos econômicos globais podem contribuir para reverter a alta nos preços dos insumos agrícolas. Segundo ele, a China deve apresentar um ritmo de crescimento mais moderado em 2022, resultado de uma estratégia do governo para conter o avanço da construção civil e reduzir a dependência energética. Caso essa política seja bem-sucedida, haverá uma queda nos custos de energia, um dos principais fatores de pressão sobre os preços agrícolas.
Além disso, Barros destaca que a Rússia tende a alcançar um acordo favorável na oferta de gás natural para a Europa, o que também pode aliviar o cenário energético global e reduzir custos logísticos e de produção.
"Ainda no ano que vem vamos ter essa pressão de custos marcando os mercados mundiais, mas provavelmente em 2023 teremos uma conversão desses fatores com a redução da financeirização, maior oferta dos insumos agrícolas e, assim, uma tendência de acomodação dos preços", conclui.
Essas projeções são especialmente relevantes para o agronegócio brasileiro, que precisa considerar tais fatores no planejamento do Plano Safra 2022, ajustando estratégias de compra, armazenamento e gestão de insumos para garantir competitividade e sustentabilidade nas próximas safras.