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As perspectivas de mercado para 2022 e os impactos no agronegócio, segundo Alexandre Mendonça de Barros

O professor e palestrante de referência no agronegócio analisa o cenário macroeconômico para o próximo ano e os fatores que vão influenciar o setor.25 de julho de 2022 /// 5 minutos de leitura

O desempenho da economia brasileira está intimamente ligado ao agronegócio, e fatores como a alta demanda por alimentos, alta nos custos de combustível e insumos, além de baixos estoques, levaram à alta de preços globais, impactando o setor. Diante desse cenário, o professor Alexandre Mendonça de Barros analisa as perspectivas de mercado para 2022 e o que esperar para o agro mediante a macroeconomia brasileira e mundial.

Olhando para os dados de crescimento mundial

De acordo com Barros, o Fundo Monetário Internacional (FMI) está projetando um crescimento vigoroso para 2021 em todo o mundo. Esse crescimento é puxado por estímulos econômicos e pelos bons resultados da vacinação, que tem ajudado a diminuir os efeitos da pandemia.

Entretanto, em 2022, apesar da demanda seguir relativamente aquecida, começa uma desaceleração desse crescimento. "Provavelmente, conforme avançarmos para metade do ano, vamos perder um pouco de tração porque a grande discussão no mundo hoje é a inflação", explica.

Barros comenta que todos os países estão vivendo um choque inflacionário muito grande, principalmente em decorrência da desorganização das cadeias produtivas devido à pandemia. O crescimento econômico veio, puxado por estímulos fortíssimos e uma taxa de juros baixa, o que resultou na falta de insumos, gerando o ciclo inflacionário alto.

"A grande discussão dos melhores macroeconomistas do mundo é se essa inflação é duradoura ou se a resposta na oferta vai acontecer. Obviamente leva um tempo para que o mundo se restabeleça e esse crescimento da oferta vai fazer com que a inflação comece a cair", observa.

As projeções para os insumos agrícolas em 2022

Embora a tese principal seja de que a oferta virá e empurrará a inflação de volta para baixo, alguma elevação da taxa de juros deve acontecer para forçar essa queda de uma maneira mais segura, analisa o professor.

"Isso vai gerar uma retirada dos fundos para aplicações de renda fixa mais firmes. E num certo sentido, na medida que a economia perder um pouco essa velocidade, é natural que as commodities sofram uma acomodação de preços", acrescenta.

No caso da agricultura, é preciso contar também com uma boa safra para que essa acomodação de preços aconteça.

Barros ressalta ainda que a alta nos preços dos insumos agrícolas deve se estender até o próximo ano. Há ainda um debate atual sobre as margens de produção de trigo durante o inverno do hemisfério norte, que estão praticamente zeradas dados os elevados custos de fertilizantes e insumos em geral.

"Do ponto de vista financeiro, acreditamos que vai ter uma virada que deve começar a acontecer no ano que vem. O ponto chave é acompanhar a inflação nos Estados Unidos e na Europa para saber o tamanho dessa alta nas taxas de juros. Mas avançando para metade do ano que vem, vamos ver essa elevação da taxa de juros, o que vai desinflar um pouco a compra dos mercados em cima de commodities, e aí vale também para a commodity agrícola . Mesmo assim, devemos seguir, pelo menos na entrada do próximo ano, com preços altos de insumos, o que segura de certa forma os preços agrícolas em patamares mais elevados", avalia.

Fatores que podem ajudar a reverter a alta nos preços

Alguns movimentos, de acordo com Barros, devem ajudar a reverter a alta dos preços. Em sua análise, ele conta que a China vai crescer em menor velocidade no próximo ano. O governo chinês planeja segurar a construção civil para desacelerar a economia e depender menos da energia. Se isso for bem sucedido, vai surtir uma queda na curva dos custos de energia. Ainda segundo ele, a Rússia também deve chegar a um bom termo na oferta de gás para a Europa. Esses fatores podem levar os insumos a perder um pouco de tração à medida que a oferta for corrigida.

"Ainda no ano que vem vamos ter essa pressão de custos marcando os mercados mundiais, mas provavelmente em 2023 teremos uma conversão desses fatores com a redução da financeirização, maior oferta dos insumos agrícolas e, assim, uma tendência de acomodação dos preços", conclui.

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