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Exportações do agro somam 160 bilhões de dólares em 2022

Confira os resultados por categoria e produto e veja, ainda, o desempenho da balança comercial brasileira no setor.
14 de janeiro de 2023 /// 34 minutos de leitura

Quais são as perspectivas para a safra global de grãos em 2023? E como deve ser a produção no Brasil?

Para analisar esses temas que impactam diretamente o agronegócio e a balança comercial brasileira, o jornalista e apresentador do "Impulso Cast", Dony de Nuccio, conversou com Marcos Fava Neves, professor, engenheiro agrônomo e especialista em agronegócio, e Marcos Araújo, engenheiro agrônomo, sócio e consultor na Agrinvest.

O cenário global de grãos


A produção mundial de grãos em 2023 está projetada em 2,26 bilhões de toneladas, volume 1,5% menor que o estimado para 2022, segundo o Conselho Internacional de Grãos (IGC). A pesquisa também aponta uma possível queda de 1% no consumo global, puxada principalmente pela menor demanda por ração animal.

Para o professor Marcos Fava Neves, a retração na oferta é fortemente influenciada pelas condições climáticas. No entanto, ele discorda da projeção de redução da demanda:

"O mundo, de fato, terá uma taxa de crescimento um pouco menor neste ano, mas ainda é uma taxa de crescimento, o que significa mercados maiores. Existe também uma demanda grande por biocombustíveis e por carnes, portanto, acho que teremos uma demanda maior do que a registrada em 2022", aponta.

O consultor Marcos Araújo concorda com a análise de Fava Neves e menciona o aumento na produção de suínos na China como outro fator importante, além de uma demanda que estava retraída no país asiático por causa dos lockdowns.

"Agora, com a população chinesa voltando ao convívio e a proximidade do feriado lunar, que é uma época de grande festividade por lá, há expectativa de aumento no consumo, o que se traduz também em aumento por commodities como soja e milho, que são a base da alimentação dos suínos. Então, estamos falando de uma perspectiva relativamente positiva para o mercado global", acrescenta o consultor.

Oferta e demanda de milho e soja


De acordo com o Rabobank, o balanço entre oferta e demanda de soja em 2023 deve resultar em um excedente próximo de 10 milhões de toneladas. Segundo o consultor Marcos Araújo, a temporada começou de forma desafiadora, principalmente por causa do clima em Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais, o que impactou o desenvolvimento das lavouras. Na Argentina, a situação também é crítica, com seca e atrasos no plantio que reduziram o teto produtivo da América do Sul.

A estimativa de produção mundial de soja é de aproximadamente 390 milhões de toneladas, enquanto o consumo deve ficar em torno de 380 milhões. Araújo ressalta, porém, que esse número depende da confirmação da produção brasileira, projetada em cerca de 150 milhões de toneladas, e da argentina, estimada oficialmente em 49 milhões. “Algumas projeções privadas já indicam que a produção da Argentina pode cair para algo próximo de 42 milhões, como nas últimas safras, em função do La Niña, o que reduziria ainda mais a oferta mundial”, alerta o especialista.

Esse cenário de demanda aquecida e produção ajustada reforça a relevância da balança comercial brasileira, já que o Brasil é hoje o maior exportador global de soja, com forte influência nos preços e no abastecimento do mercado internacional.

Oferta e demanda de soja


Para o milho, a expectativa é de equilíbrio ou até mesmo déficit de até 1 milhão de toneladas no balanço global, também segundo o Rabobank. Araújo explica que o consumo mundial deve superar a produção em cerca de 7 milhões de toneladas, marcando o segundo ano consecutivo em que a demanda excede a oferta.

Nos Estados Unidos, maior produtor mundial, a safra de cereais sofreu uma redução de aproximadamente 30 milhões de toneladas, o que aumenta a preocupação com a segurança alimentar global e pressiona a formação de preços. O professor Marcos Fava Neves destaca que esse quadro tende a sustentar as cotações do milho em 2023, beneficiando países exportadores como o Brasil, que ampliou sua participação nas exportações e reforçou a sua balança comercial do agronegócio.

Fatores geopolíticos

Outro ponto de atenção é o acordo entre Rússia e Ucrânia para exportação de grãos pelo Mar Negro, recentemente renovado. Esse pacto é considerado essencial para manter o equilíbrio entre oferta e demanda de milho e trigo, grãos que têm grande peso no comércio internacional e na própria balança comercial brasileira, especialmente nas negociações com mercados estratégicos como Estados Unidos, China e União Europeia.

Tendências da balança comercial para 2023


Segundo relatório da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de grãos no Brasil em 2023/24 deve atingir cerca de 313 milhões de toneladas, consolidando o país como um dos protagonistas na balança comercial brasileira do agronegócio.

Entre as culturas de destaque:

  • Algodão: a oferta da pluma deve alcançar 2,9 milhões de toneladas, crescimento próximo de 7% em relação à safra anterior;

  • Milho: a produção está estimada em 125 milhões de toneladas, avanço de 9% sobre o último ciclo;

  • Soja: a expectativa é de mais de 150 milhões de toneladas, o que representa um crescimento de 21% em apenas um ano.

Para o consultor Marcos Araújo, esse é um momento de boas oportunidades, mas que exige cautela. "O lucro na safra 2022/23 diminuiu em relação às safras anteriores em função da disparada dos custos e aumento do preço dos fertilizantes, o que reduz um pouco o poder de novos investimentos para os produtores", alerta. Ele destaca, ainda, que a produção de milho safrinha em 2023 deve atingir 96 milhões de toneladas, estabelecendo um novo recorde e reforçando a relevância do cereal na balança comercial do Brasil.

O professor Marcos Fava Neves recomenda que os produtores adotem estratégias de gestão mais conservadoras para garantir margem e liquidez. "É necessário olhar para as relações de troca, estratégias de vendas e não colocar todos os ovos na mesma cesta. Se tiver que tomar decisões de investimento, invista em armazenagem, irrigação, tecnologia, mais gestão por metro quadrado e menos em expansão de área. Lógico que aqueles que foram muito bem e ganharam mais dinheiro, podem ir adiante", orienta.

Araújo também sugere a venda futura dos grãos para produtores que já estejam com bons resultados de custo, produção e preço de venda. "Se o produtor tem um receio que vai deixar de ganhar, também pode fazer uma gestão de risco de preço daquela venda a termo. Agora, se esse produtor estiver em uma região com maior instabilidade climática, como no Rio Grande do Sul, que sofreu com o efeito do La Niña, ele pode garantir um preço mínimo comprando uma opção de venda (PUT) que funciona como seguro de baixa. Se houver uma frustração de safra, ele apenas perde aquele prêmio pago e não tem obrigação de entregar o produto", esclarece Araújo.

Fechando a conta: e os custos de produção?

Na análise do professor Marcos Fava Neves, um dos grandes destaques de 2023 será a redução dos custos de produção antes da queda dos preços agrícolas. "Na minha leitura, com a normalização da produção de princípios ativos, de produtos químicos na China, os custos dos defensivos e fertilizantes estão mais controlados tanto para o milho safrinha como para a safra verão 2023/24", avalia.

Outros fatores que pressionaram o setor em 2022, como o alto custo do frete internacional e a falta de contêineres, já foram amenizados. Essa melhora logística deve contribuir para ampliar a competitividade da agricultura brasileira, refletindo positivamente na balança comercial do Brasil.

No entanto, o professor faz um alerta: o custo de arrendamento no Brasil permanece elevado, exigindo cautela por parte dos produtores.

Ao analisar os quadros de oferta e demanda do milho, Fava Neves destaca que entre fevereiro e abril devem ser registrados os menores estoques mensais do ano. "Portanto, há uma expectativa de elevação de preços no mercado interno e o produtor brasileiro deve olhar com muita atenção para uma possibilidade de venda futura em agosto e setembro a fim de garantir margem de lucro nesta safrinha", recomenda o consultor.

Com custos mais controlados e boas perspectivas de preço, o desafio do produtor será adotar estratégias inteligentes de comercialização, fator essencial para sustentar a competitividade no campo e fortalecer o papel do setor na balança comercial brasileira 2024.

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