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Vazio sanitário do algodão: estratégias eficazes para controle de pragas e melhoria da colheita

O vazio sanitário do algodão é uma das estratégias mais importantes para o controle fitossanitário do bicudo-do-algodoeiro e de outras pragas que afetam a cultura.
18 de outubro de 2024

O algodão é uma das principais commodities agrícolas produzidas no Brasil. A alta produtividade dessa cultura colocou o país entre os maiores produtores do mundo. Diversos fatores explicam como alcançamos essa posição de destaque no mercado agro internacional.

Um desses fatores é o investimento em estratégias eficientes de controle de pragas, como o vazio sanitário do algodão. Instituída em todo o território nacional, essa prática visa controlar as populações de insetos e doenças que podem comprometer os resultados da cotonicultura.

Neste artigo, explicaremos como essa estratégia funciona, sua importância e como aplicá-la na sua fazenda.

O que é o vazio sanitário do algodão?

O vazio sanitário do algodão é uma estratégia de manejo fitossanitário adotada para controlar o bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis), entre outras pragas e doenças que afetam as áreas de cultivo intensivo da cultura.

O objetivo dessa medida é restringir a fonte de alimento dos insetos coordenadamente em todo o território. Isso facilita o controle de populações de insetos e patógenos, que podem comprometer a viabilidade da produção de algodão no país.

Ao reduzir a pressão nas lavouras, o vazio sanitário garante a sustentabilidade econômica da cultura.

Como funciona o vazio sanitário na cultura do algodão?

O vazio sanitário consiste na proibição da presença de plantas no campo por um período que pode variar de 60 a 90 dias, dependendo da região produtora.

A execução dessa estratégia exige a eliminação completa dos restos culturais e das plantas voluntárias ou tigueras, que nascem de forma espontânea em áreas de cultivo, rodovias ou áreas de confinamento bovino.

Além disso, ela deve ser realizada por, no mínimo, 60 dias antes do início do calendário de semeadura da nova safra.

O período exato é previsto por lei e definido pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC). Por isso, o calendário para execução dessa estratégia varia conforme o estado produtor e a dinâmica populacional do bicudo-do-algodoeiro, a principal praga alvo dessa medida.

Isso significa que as datas para a implementação dessa prática podem variar conforme a região produtora, influenciadas por fatores climáticos e características específicas da lavoura.

Vale lembrar que você pode ser penalizado caso não respeite o período de vazio sanitário definido para o seu estado.

Os órgãos estaduais de sanidade vegetal são responsáveis pela fiscalização do cumprimento das normas legais dessa estratégia e podem aplicar penalidades caso as regras não sejam seguidas.

Quais as vantagens do vazio sanitário?

Essa estratégia é considerada uma prática de manejo preventivo que contribui para a saúde das colheitas e a sustentabilidade da produção. Uma de suas principais vantagens é interromper o ciclo de vida dos insetos-praga, principalmente do bicudo-do-algodoeiro.

Em entrevista ao programa Impulso Negócios, o pesquisador da Embrapa, Fábio Aquino de Albuquerque, explica que essa interrupção permite a redução da população de insetos na lavoura.

“A partir do momento que eu não tenho o hospedeiro do bicudo, os insetos remanescentes que saem do campo sobrevivem por um tempo, em média, 45 dias. No entanto, por não encontrarem outro tipo de alimento na região, principalmente algodão, eles não conseguem se reproduzir e gerar descendentes. Então, a população de insetos cai drasticamente”, explica o pesquisador.

Essa estratégia também permite a quebra do ciclo de vida de patógenos, reduzindo o risco de infestações nas próximas safras. Ao facilitar o controle de pragas e doenças do algodoeiro, essa prática também diminui o uso de defensivos agrícolas.

Como resultado, os custos operacionais da fazenda e os impactos ambientais do manejo da cultura são reduzidos. Dessa forma, o vazio sanitário estimula uma produção mais sustentável, competitiva e rentável.

Saiba também: Fases do algodão: conheça cada uma e as suas características

Por que fazer o vazio sanitário na cultura do algodão?

Adotar essa estratégia em campo é fundamental para proteger a lavoura, especialmente o bicudo-do-algodoeiro. Introduzido acidentalmente no Brasil em 1983, por meio de voos vindos dos Estados Unidos, esse inseto se adaptou rapidamente ao país.

Apesar de ser uma espécie exótica, o bicudo encontrou um ambiente favorável à sua reprodução, devido à ausência de inimigos naturais, ao clima favorável e às extensas áreas de cultivo de algodão. Os ataques ocorrem principalmente nos estádios reprodutivos.

Na fase larval, a praga perfura as maçãs para se alimentar e ovipositar. Conforme os ovos eclodem, as larvas se alimentam das fibras e sementes da planta, destruindo essas estruturas. Na fase adulta, ele pode derrubar botões e causar a abertura anormal das pétalas das flores.

Devido às características comportamentais, essa praga tem um enorme potencial destrutivo. Caso não seja devidamente controlada, pode reduzir a produtividade em áreas infestadas em até 75%, gerando perdas da ordem de US$ 140 a 350 por hectare/ano.

O alto poder destrutivo exige a adoção de medidas enérgicas, planejadas e bem executadas, como o vazio sanitário. Essa prática é a mais eficiente para controlar mais de 200 espécies.

Afinal, ele envolve a eliminação das plantas hospedeiras durante um período determinado, quebrando o ciclo de vida desses insetos, reduzindo drasticamente sua população.

Como resultado, o problema pode ser controlado de forma mais simples e econômica, contribuindo para a preservação da saúde das plantações e tornando a produção mais sustentável.

Como implementar o vazio sanitário no algodão?

Para que ele seja eficiente, é essencial realizar a prática chamada “destruição de soqueiras”. Os principais métodos para realizar esse trabalho são a destruição mecânica dos restos culturais e o manejo químico com herbicidas.

No entanto, a metodologia mais utilizada é a que integra os métodos mecânico e químico, já que a utilização de apenas um método não garante a eliminação completa das plantas.

Na metodologia de integração, o processo começa com a destruição mecânica das soqueiras, utilizando arado, grade, triton ou roçadeira para desgastar mecanicamente toda a área de plantio.

Após concluir esse processo, é necessário aguardar alguns dias para verificar a ocorrência de rebrotes. Caso haja rebrotes, você deve fazer a aplicação de herbicidas dessecantes para eliminar as plantas que continuam vivas.

Após realizar esses manejos, é importante monitorar a área de produção para assegurar que a eliminação foi completa. Se necessário, você pode investir em aplicações de herbicidas pré ou pós-emergentes.

Lembretes importantes

É importante destacar que os herbicidas precisam de umidade no ar e no solo para serem eficazes na destruição de soqueiras. No entanto, o período de colheita coincide, normalmente, com uma época de poucas chuvas e baixa umidade.

Por isso, a aplicação do produto deve ser feita após a destruição mecânica. Assim, o herbicida atinge o local do caule onde a planta foi cortada, aproveitando a umidade da própria planta para agir, aumentando sua eficiência.

Também é importante lembrar que, dependendo da cultura que será plantada após o algodão, o manejo de herbicidas precisa ser adaptado. Afinal, alguns produtos podem causar problemas em lavouras de soja e milho, caso seus períodos de carência não sejam respeitados.

Em quais regiões o vazio sanitário na cultura do algodão é obrigatório?

Essa estratégia é obrigatória em vários estados produtores de algodão no país, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Bahia, Maranhão, Piauí, Paraná, Minas Gerais, Tocantins, São Paulo, entre outros.

Vale lembrar que, além do vazio sanitário, é importante investir em outras práticas para proteger a lavoura dos danos causados pelo bicudo-do-algodoeiro.

Essas medidas incluem o monitoramento de pragas e a identificação dos pontos de reinfestação após o plantio da nova safra. Outra prática importante é intensificar o manejo químico nas áreas de maior infestação para garantir um controle eficiente.

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