Blog do Agro

Vazio sanitário do algodão 2022

O bicudo-do-algodoeiro é a praga mais agressiva da cultura do algodão e exige práticas coordenadas como o vazio sanitário para seu manejo efetivo nas lavouras08 de setembro de 2022

O vazio sanitário do algodão é uma das medidas de manejo adotadas para o controle fitossanitário de bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) e de outras pragas em áreas de cultivo intensivo. A prática tem como objetivo restringir a fonte de alimento para os insetos de forma coordenada em todo o país.O bicudo alterou a forma de produzir algodão no Brasil, criando um contexto onde o vazio sanitário é indispensável para evitar que a cotonicultura seja inviabilizada.

O histórico do bicudo-do-algodoeiro no Brasil

De acordo com a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ) confirmou que o primeiro relato da presença do bicudo-do-algodoeiro em terras nacionais aconteceu em fevereiro de 1983, nas proximidades do Aeroporto Internacional de Viracopos, localizado em Campinas (SP). O registro sustenta a hipótese de uma entrada acidental da praga no país por via área através de voos vindos dos Estados Unidos.

Por ser um organismo exótico e não enfrentar inimigos naturais, o inseto se expandiu rapidamente, causando danos expressivos. Naquele ano, os ataques do bicudo em altas densidades populacionais podiam reduzir até 70% da produtividade nas áreas infestadas.

O vazio sanitário ajuda no manejo de mais de 200 espécies de insetos que causam danos na cultura do algodão.

A cotonicultura praticada na época não estava preparada para adotar medidas químicas eficientes para o controle da nova praga por conta dos gastos com o grande número de aplicações de inseticidas. Considerando o impacto no custo de produção, a atividade foi praticamente inviabilizada.

Infestação do bicudo-do-algodoeiro nos principais estados produtores do Brasil. Fonte: Miranda e Rodrigues (2015) - O bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis BOH., 1843) nos cerrados brasileiros: biologia e medidas de controle.

Com a ausência de medidas efetivas de controle, rapidamente o bicudo espalhou-se por outras áreas produtivas e passou a ser o maior problema fitossanitário na cultura do algodão no Brasil. Além disso, o país conta com grandes talhões de produção, clima favorável e ausência de inimigos naturais eficientes - fatores que contribuem para a fácil adaptação deste inseto.

Como funciona o vazio sanitário do algodão?

O vazio sanitário prevê a destruição completa dos restos culturais e plantas voluntárias de algodão (tigueras) presentes na área de cultivo, além daquelas que nascem espontaneamente em rodovias ou áreas de confinamento bovino, por um período mínimo de 60 dias - prazo final legal para a destruição de restos culturais e o início do calendário de semeadura da nova safra.

Este período é definido por meio do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC). Cada estado produtor possui um calendário específico com datas diferentes que levam em consideração a dinâmica do inseto alvo.

Os órgãos estaduais de sanidade vegetal são as entidades responsáveis pela fiscalização do cumprimento das normas legais a respeito do vazio sanitário do algodão, e tem competência legal para aplicar as penalidades previstas em lei, que variam de acordo com as regiões produtivas.

Como eliminar plantas de algodão?

Para que o vazio sanitário do algodão seja eficiente, é importante realizar a prática chamada “destruição de soqueiras”. Os principais métodos para realizar esse trabalho são a destruição física ou mecânica dos restos culturais, seguidos do manejo com herbicidas.

O processo tem início com a destruição mecânica das soqueiras, utilizando arado ou grade em toda a área. Após esta etapa, é preciso aguardar alguns dias para verificar a ocorrência de rebrote. Se houver rebrote deve ser realizada a aplicação de herbicidas dessecantes para a eliminação de plantas ainda vivas.

Ao realizar a destruição mecânica e química de soqueiras, a taxa de controle atinge índices próximos ao de 100%, eliminando as plantas e fontes de alimento para o bicudo. A utilização de apenas uma metodologia não é garantia de eliminação completa das plantas.

Confira abaixo as recomendações mais utilizadas, segundo a APIPA (Associação Piauiense dos Produtores de Algodão):

  • Opção 1
    Triton ou roçadeira + aplicações de herbicida sistêmico em sequência imediata ou após aguardar a brotação das soqueiras para em seguida realizar as aplicações de herbicidas (em algumas situações, somente após as primeiras chuvas);
  • Opção 2
    Triton + subsolador/escarificar + grade e avalia o surgimento de brotação na sequência;
  • Opção 3
    Correntão “pique e repique” (duas passadas no mesmo lugar em sentidos opostos) + herbicida sistêmico em sequência imediata;
  • Opção 4
    Triton + arrancador de discos (arrancador de soqueira) + grade intermediária + avaliação de brotação para posterior uso de herbicidas (em algumas situações somente após as primeiras chuvas).

Após a realização destes manejos, é importante monitorar a área de produção para verificar se a eliminação das soqueiras aconteceu por completo. Se necessário, podem ser realizadas aplicações de herbicidas pré ou pós-emergente.

Bicudo: o motivo do vazio sanitário do algodão

O bicudo-do-algodoeiro causa danos em diferentes partes da planta.

O ataque da praga adulta pode derrubar botões e causar a abertura anormal das pétalas das flores. Em fase larval, o bicudo perfura as maçãs para se alimentar e ovipositar. Conforme as larvas eclodem dos ovos, passam a se alimentar das fibras e sementes da planta, causando destruição completa e consequente queda na produtividade.

A Associação Piauiense de Produtores de Algodão (APIPA) estima que os custos para controle ou manejo do bicudo correspondem de 10 a 30% do valor total da lavoura, que atualmente ultrapassa 2.000 dólares por hectare. O alto poder destrutivo do bicudo implica na necessidade da adoção de medidas enérgicas, bem planejadas e adequadamente executadas, como é o caso do vazio sanitário.

O vazio sanitário do algodão em 2022

Já foram publicadas as portarias que definem o ZARC para cada estado e as datas em que não pode haver plantas de algodão no campo. Confira na tabela:

Para dúvidas ou mais informações, procure um órgão competente em sua região.


exclusivo para usuários logadosArtigos salvos e temas de interesseRealize seu login para salvar artigos e escolher os temas de seu maior interesse. Você poderá acessá-los a qualquer momento, sem perder de vista nenhum conteúdo de relevância pra você.