Falta de monitoramento e controle químico deixa escapar lagarta do cartucho em lavouras Bt
A resistência da lagarta-do-cartucho em milho Bt impõe dificuldades de manejo dessa praga. Atenção deve ser dada para a diversificação de estratégias de manejo, incluindo o uso correto de inseticidas para controle químico.Entre as diversas lagartas que atacam a cultura do milho, a Spodoptera frugiperda, comumente chamada de lagarta-do-cartucho do milho é uma das mais temidas pela frequência de ocorrência e danos gerados a produtividade do milho. Em praticamente todas as regiões de cultivo essa praga encontra condições favoráveis para seu desenvolvimento tratando-se de um problema abrangente.
Quais são os riscos com o ataque dessa praga?
Se pensarmos em uma ordem cronológica, inicialmente a S. frugiperda pode cortar plântulas rente ao solo, pode perfurar o colmo provocando o sintoma de “coração-morto”, levando a grandes falhas no estande de plantas ou necessidade de ressemeadura.
Figura 2. Danos iniciais causados pelo ataque de S. frugiperda em plântulas de milho. (Fotos: Leandro Marques)
Após as plantas emergidas, o dano principal será o consumo de folhas novas, podendo destruir o cartucho da planta (Figura 3). Assim, o período crítico para monitoramento e controle em parte aérea estará entre os estádios de 3ª e 10ª folha. Infestações tardias poderão ocorrer, podendo provocar destruição do pendão floral. Além disso, poderão ocorrer ataques diretos nas espigas em formação, casos menos comuns e que, quando ocorrem são muitas vezes confundidos com a lagarta-da-espiga (Helicoverpa zeae).
Figura 3. Danos em folhas novas e dano no cartucho do milho causado por S. frugiperda.
Fatores que contribuíram para surgimento e evolução da lagarta por falta de monitoramento
Com o lançamento das tecnologias Bts houve um avanço bastante grande no manejo desta praga. No entanto, alguns fatores como falta de monitoramento contribuem obter sobra de lagartas no milho Bt.
As plantas de milho Bt apresentam produção das proteínas Bt de maneira contínua ao longo do seu ciclo e por isso, inevitavelmente, é exercida uma grande pressão de seleção de indivíduos resistentes das pragas-alvo. No Brasil, casos de sobra de lagarta campo foram registrados para Spodoptera frugiperda à proteína Cry1F e a Cry1Ab (Farias et al., 2014; Omoto et al., 2016). Alguns fatores foram decisivos para a evolução da resistência:
Ciclos de semeadura sucessivos e sobrepostos de milho, soja e algodão, expondo a praga-alvo às proteínas Bt em mais de uma cultura durante a maior parte do ano.
Condição climática do Brasil, tropical e subtropical que tem permitido a sobrevivência de altas populações de S. frugiperda durante o ano todo e a ocorrência de várias gerações de indivíduos.
Ausência ou falha de uso das áreas de refúgio com milho não-Bt.
Ausência de rotação de diferentes proteínas com mecanismos de ação diferentes, como por exemplo proteínas Cry e Vip.
Má utilização do controle químico nas áreas de refúgio reduzindo excessivamente o número de indivíduos suscetíveis disponíveis para cruzamento com os possíveis resistentes na área Bt.
A adoção de estratégias de manejo de controle é urgente para aumentar a vida útil das tecnologias Bts. Caso tais estratégias não sejam implantadas, cria-se condições amplamente favoráveis para uma rápida evolução da resistência de insetos a essas tecnologias e consequentemente intensifica-se os riscos de perdas dessas tecnologias para o manejo de pragas no milho. A lagarta-do-cartucho possui diversos atributos de ordem genética e ecológica que favorecem para uma rápida evolução da resistência no campo.
Estratégias de manejo da lagarta-do-cartucho em plantas Bt
As estratégias de manejo devem ser pensadas no sentido de evitar ou retardar a evolução da resistência de maneira preventiva. No entanto, infelizmente a maioria das ações de manejo da resistência são iniciadas após a constatação de falhas de controle de determinada proteína Bt. Abaixo são listadas algumas das principais estratégias para manejo de S. frugiperda no milho Bt.
Utilização de refúgio estruturado: essa prática é a principal estratégia de manejo de resistência para as culturas Bt no Brasil. As áreas de refúgio são necessárias como fonte de indivíduos suscetíveis, os quais, ao se acasalar com os indivíduos resistentes da área Bt, dão origem a descendentes que poderão ser controlados ao se alimentarem das plantas Bt, retardando assim a evolução da resistência (Figura 4).
Piramidação de genes: a piramidação de genes consiste na inserção de mais de uma proteína Bt em um híbrido de milho. Importante que essas proteínas apresentem mecanismo de ação diferentes e não tenham resistência cruzada. Exemplo disso, são os híbridos que apresentam proteínas Cry + Vip para os quais não há resistência cruzada. Populações resistentes de S. frugiperda demonstraram resistência cruzada para as proteínas do grupo Cry1 (Cry1Aa, Cry1Ac, Cry1A.105, Cry1F e Cry1Ab). Vale ressaltar que essa estratégia também necessita do uso de áreas de refúgio estruturado para ser efetiva.
Controle de plantas daninhas e “tigueras”: essas plantas funcionam como plantas hospedeiras de pragas e podem contribuir para uma maior pressão de ataque nas fases iniciais do milho. Essas plantas servem de fonte de alimento para lagartas adultas de S. frugiperda, e a transição das lagartas entre plantas Bt e plantas daninhas pode acarretar em uma exposição subletal às proteínas Bt aumentando a sua taxa de sobrevivência no campo.
Aplicação de inseticidas no pré-plantio: em casos de alta infestação de lagartas remanescentes da palhada, recomenda-se aplicação de inseticidas no pré-plantio, pois lagartas grandes são, de modo geral, menos suscetíveis às proteínas Bt, sobrevivendo mais facilmente à exposição a elas. De maneira geral, piretroides são produtos de menor custo, mas que devem ser evitados nas primeiras aplicações por causa da pouca seletividade a inimigos naturais. Uma das soluções mais eficientes que podem ser utilizados para essa finalidade são produtos do grupo dos carbamatos como o tiodicarbe. Esse produto apresenta boa seletividade aos inimigos naturais.
Tratamento de sementes (TS): como proteção aos ataques iniciais dessa praga no milho o tratamento de semente é altamente recomendado. O TS é fundamental para um bom estabelecimento e arranque de plantas no campo. Além disso, possibilita utilizar um mecanismo de ação diferente para controle de S. frugiperda na fase inicial da cultura. Uma das soluções Bayer para utilização em TS é o Cropstar que oferece a melhor proteção para o potencial produtivo da lavoura, protegendo o investimento na fase inicial. Além disso, oferece a solução mais completa, preservando o potencial de cada variedade, o que contribui para um excelente arranque, com ação preventiva, amplo espectro de controle e mais vigor para as sementes.
Aplicação de inseticidas em parte aérea: É importante que o inseticida que será utilizado na sequência em parte aérea apresente modo de ação distinto do inseticida usado no TS. As áreas de milho Bt e áreas de refúgio devem ser constantemente monitoradas para S. frugiperda desde os estádios iniciais de desenvolvimento (Figura 5). Quando 20% das plantas do refúgio atingirem nota de dano três da escala Davis (pequenas lesões de raspagem circulares e algumas lesões alongadas de até 1,3 cm comprimento nas folhas do cartucho), é recomendada a entrada com a primeira aplicação do controle químico (Figura 6).
Enquanto danos iniciais e lagartas pequenas (<1 cm), produtos do grupo químico das diamidas tem sido amplamente utilizados. O inseticida Belt é um exemplo disso, o qual apresenta alta eficácia e espectro de ação controlando além de S. frugiperda outras lagartas de difícil controle. Além disso, esse produto apresenta boa seletividade contra inimigos naturais.
A medida que furos nas folhas começam a ser observados é sinal de que a lagarta já se encontra em instares mais avançados, além de que nesses instares essa começa a entrar para dentro do cartucho conseguindo se proteger das aplicações. Esses dois fatores contribuem para redução da eficácia dos inseticidas aplicados.
Devido a lagarta-do-cartucho poder atacar em diversos estádios de desenvolvimento do milho, desde os estágios iniciais de desenvolvimento até as fases reprodutivas de início e final da formação da espiga, mais de uma pulverização poderá ser necessária e é importante nesse sentido realizar a rotação de inseticidas com modo de ação distinto. Para rotacionar mecanismos de ação, os produtos reguladores de crescimento são ferramentas bastante utilizadas. Apresentam elevada eficácia e bom efeito residual no controle de Spodopteras. Um exemplo é o inseticida Certero, o qual poderá ser utilizado nas aplicações seguintes em mistura com Larvin.
Material consultado
Bernardi, O.; Bernardi, D.; Horikoshi, R.J.; Omoto, C. Manejo da resistência de insetos a plantas Bt. Engenheiro Coelho: Promip, 2016a. 45 p.
Farias, J.R. et al. Field-evolved resistance to Cry1F maize by Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae) in Brazil. Crop Protection, v. 64, p. 150-158, 2014.
Omoto, C. et al. Field-evolved resistance to Cry1Ab maize by Spodoptera frugiperda in Brazil. Pest Management Science, v. 72, p. 1727-1736, 2016.