Por que plantas daninhas são uma grande ameaça para o milho?

O milho ocupa uma posição de prestígio no agronegócio brasileiro, sendo cultivado durante duas safras anuais em diversas regiões do País. Com colheita total estimada pela Conab em 100,5 milhões de toneladas na safra 2019/20, esse produto é essencial para a alimentação humana, além de servir como matéria-prima para ração animal e produção de etanol.

O milho representa uma boa fonte de renda para os produtores de grãos, o que justifica o investimento em biotecnologia e tecnologias para o controle de pragas e doenças. Contudo, o manejo de plantas daninhas ainda carece de cuidados.

Embora muitos produtores realizem a aplicação de defensivos para o controle das invasoras, a nova realidade no campo está desafiando cada vez mais esse tipo de manejo tradicional na cultura.

O cenário está mudando, e o produtor precisa atualizar a forma de manejar daninhas em milho. Várias espécies de plantas daninhas estão adquirindo resistência a herbicidas com diferentes modos de ação, prejudicando a produtividade do milho enquanto também impactam na renda do agricultor, por elevarem os custos de manejo. Por essa razão, é preciso investir em tecnologias preventivas e sustentáveis para ter um controle mais eficiente.

Segundo dados da Embrapa, infestações de plantas daninhas geram perdas em torno de 15% na produção mundial de grãos, e 252 espécies de plantas invasoras são resistentes a herbicidas no mundo.

No Brasil, o alerta mais recente foi a descoberta da Embrapa de que a espécie conhecida como leiteiro (Euphorbia heterophylla) é a décima infestante nas lavouras de grãos que adquiriu resistência ao glifosato.

Devido à situação preocupante, os produtores necessitam diversificar e melhorar as estratégias de manejo, para evitar que as resistências se propaguem tão rapidamente. O primeiro passo para aprimorar o controle das plantas daninhas é conhecer bem o inimigo.

Compreender a diversidade e a fisiologia das espécies invasoras ajuda a entender como elas competem com o milho, como, por exemplo, buscar mensurar o efeito da matocompetição na absorção de nitrogênio. Os impactos dependem da densidade populacional da erva daninha e o estádio de desenvolvimento, podendo variar ainda em função do tipo e da intensidade dos tratos culturais (FERREIRA et al., 2019).

Uma característica popular é a diferenciação das plantas daninhas entre os grupos de “folhas largas” (dicotiledôneas) e “folhas estreitas” (monocotiledôneas). Essas nomenclaturas remetem à presença de dois cotilédones laterais na semente ou somente um cotilédone, cuja função é reservar nutrientes para o embrião da planta.

Os grupos de folhas largas e folhas estreitas apresentam diferenças nos hábitos de crescimento de caules e raízes, assim como na formação de folhas, flores, frutos e sementes.

No entanto, todas elas possuem algumas características com potencial para prejudicar a produtividade de milho, como:

• Elevada capacidade de absorver luz, água e nutrientes.
  
  
• Facilidade de disseminação, produzindo grande quantidade de sementes ou se perpetuando por via vegetativa, por meio de bulbos e rizomas, por exemplo.
  
  
• Formam no solo um banco de sementes capazes de permanecer em estado de dormência por muito tempo e fácil dispersão de sementes, com a ajuda do vento, água, animais ou máquinas.
  
  
• As sementes de plantas daninhas geralmente são mais resistentes, conseguem germinar em ambientes com limitação de recursos naturais e emergir em profundidades superiores, em comparação ao milho.
  
  
• Desenvolvimento inicial e crescimento rápido, o que as torna competidoras preocupantes para o milho, disputando agressivamente por espaço, luz, água, nutrientes e CO2.
  
  
• Facilmente se adaptam às condições do ambiente de diferentes regiões.
  
  
• Elas podem ser hospedeiras de pragas, doenças e nematoides, gerando diversos prejuízos para o manejo da lavoura.
  
  
• Podem dificultar os tratos culturais e as operações de colheita do milho, provocando “embuchamento” na colhedora, por exemplo.
  
  
• Plantas daninhas resistentes elevam os custos de controle e aceleram infestações mais severas na área de cultivo.

• As plantas daninhas podem até mesmo provocar obstruções em canais de irrigação e drenagem. Portanto, todo cuidado é pouco. Para diagnosticar infestações, os produtores podem contar com tecnologias como o aplicativo WeedScout, desenvolvido pela Bayer, que possui um banco de dados com mais de 30 mil imagens e permite identificar plantas daninhas por meio de fotos capturadas com o celular.

“O controle se torna mais eficaz quando a identificação das plantas daninhas ocorre de forma precoce, o que evita a sua propagação, facilita a sua retirada; o controle químico é mais eficiente e, consequentemente, o custo do controle será menor” (SAUSEN et al., 2020).

No grupo das espécies de folhas largas, as invasoras mais preocupantes observadas atualmente em plantações de milho são a buva (Conyza spp.), o caruru (Amaranthus spp.) e a corda-de-viola (Ipomoea spp). Entre as plantas daninhas de folhas estreitas, destacam-se o capim-amargoso (Digitaria insularis), a trapoeraba (Commelina spp.) e capim pé-de-galinha (Eleusine indica).

O que elas têm em comum? A tolerância ao glifosato, manejo desafiador e o registro crescente de infestações no Brasil. Entretanto, como o milho é uma gramínea, as espécies de folhas estreitas têm mais similaridade com a cultura comercial, contam com menos opções de controle e, por isso, atualmente podem gerar mais perdas no rendimento da plantação.

As áreas com incidência de biótipos resistentes de buva estão chamando muita atenção em plantações de várias culturas, como soja, milho e trigo, com relatos de resistência ao glifosato desde 2004 no Brasil. Especialistas estão em alerta, porque já foram registrados casos de resistência múltipla a mais de um mecanismo de ação de herbicidas. Ou seja, existem plantas de buva que, além da resistência ao glifosato, são resistentes ao chlorimuron e ao paraquat (BACCIN, 2020).

O capim-amargoso não fica muito atrás na lista de preocupações. Um estudo realizado na Universidade Estadual do Oeste do Paraná por dois anos agrícolas demonstrou que a matocompetição do capim-amargoso provocou redução linear na altura das plantas de milho, redução da área foliar e de massa seca. As plantas daninhas podem ser até 80% mais eficientes na absorção de nutrientes, e cada planta de capim-amargoso pode produzir mais de 40 mil sementes (FERREIRA, 2019).

Para proteger o milho e evitar reinfestações ainda mais agressivas nas áreas de cultivo, é importante que o produtor entenda a importância de identificar as ameaças precocemente e, a partir de uma boa avaliação do histórico da área, investir em melhorias de manejo. Um controle preventivo de plantas daninhas, eficaz e sustentável é a melhor recomendação para a sanidade da lavoura e, sem dúvidas, também é uma decisão economicamente justificável.

Referências

BACCIN, Luisa Carolina. Identificação, caracterização foliar e fisiologia de Conyza spp. resistente a herbicidas. 2020. Dissertação (Mestrado em Fitotecnia) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, University of São Paulo, Piracicaba, 2020. doi:10.11606/D.11.2020.tde-13032020-174859. Acesso em: 2020-08-03.

FERREIRA, E. A.; PAIVA, M. C. G.; PEREIRA, G. A. M.; OLIVEIRA, M. C.; SILVA, E. B. Fitossociologia de plantas daninhas na cultura do milho submetida à aplicação de doses de nitrogênio. Revista de Agricultura Neotropical, Cassilândia-MS, v. 6, n. 2, p. 109-116, abr./jun. 2019. ISSN 2358-6303.

FERREIRA, Silvio Douglas. Resistência ao glifosato em biótipos de Digitaria insularis e nível de dano econômico em soja e milho. 2020. Tese (Doutorado em Agronomia) - Centro de Ciências Agrárias, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Marechal Cândido Rondon, 2019. URI: http://tede.unioeste.br/handle/tede/4466. Acesso em: 2020-08-03.

SAUSEN, D.; MARQUES, L. P.; BEZERRA, L. O.; SILVA, E. S.; CANDIDO, D. Biotecnologia aplicada ao manejo de plantas daninhas. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 6, n.5, p. 23150-23169, maio 2020. ISSN 2525-8761.