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Soja voluntária na cultura do feijão: quais os principais problemas e como controlar

A presença da soja voluntária na cultura do feijão gera competição entre as espécies, que disputam os recursos disponíveis. Isso provoca a redução da produtividade da lavoura e compromete a qualidade dos grãos
22 de julho de 2022

O controle da soja voluntária é um dos grandes desafios enfrentados pelos produtores de feijão do país.

Como essa cultura possui um ciclo de vida curto, muitos agricultores aproveitam essa característica para realizar seu plantio numa janela menor.

Dessa forma, eles conseguem investir na produção de feijões e ainda produzir grãos ainda mais rentáveis, como soja e milho. E tudo isso pode ser feito no mesmo ano safra.

No entanto, quanto o plantio de feijoeiros é realizado na mesma área onde, anteriormente, existia uma lavoura de soja, surge o problema das chamadas plantas voluntárias.

Mas se essa prática pode provocar esse problema, por que os produtores insistem na rotação de culturas com esses grãos?

Para descobrir essa resposta, é importante conhecer os números da cultura do feijão no país.

Para descobrir essa resposta, é importante conhecer os números da cultura do feijão no país.

De acordo com a Embrapa, o Brasil é o maior produtor de feijão comum (Phaseolus vulgaris) do planeta. E o motivo para isso é simples: o feijão é o alimento básico da dieta do brasileiro.

No entanto, como a demanda por esse grão é constante e voltada para o mercado interno, a produção mundial é limitada. Por isso, são os produtores nacionais os principais responsáveis por atender o mercado.

E esse cenário fica mais claro quando olhamos os números. De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), apenas no primeiro ciclo da 2021/22, cerca de 916,8 mil hectares foram destinados ao cultivo do feijão.

Por isso, a expectativa é que a produção nacional desse grão alcance cerca de 2,97 milhões de toneladas. Esse número é resultado da soma de toda a produção de feijões do tipo comum cores, comum preto e caupi.

No entanto, para alcançar essa produtividade, além de controle de pragas, acompanhamento da lavoura, entre outros fatores, é importante tomar cuidado com a presença de plantas voluntárias.

A soja, em especial, pode provocar perdas severas na produção. E as consequências disso podem ser desastrosas, tanto do ponto de vista econômico, quanto social.

E o melhor remédio para evitar esse problema é o conhecimento.

Saber o que são plantas voluntárias, quais os seus danos e como resolver o problema, é fundamental para lutar contra o desafio da soja.

Entenda abaixo!

O que é uma planta voluntária?

As plantas voluntárias, também chamadas de guaxas ou tigueras, são aquelas que se desenvolvem em locais inadequados, atrapalhando o crescimento da cultura de interesse. Na prática, é como se elas infestassem a plantação, comprometendo a produtividade da lavoura.

Por isso, quando ocorrem em regime de sucessão, essas espécies se comportam como plantas daninhas. No entanto, ao contrário do que muita gente pensa, nenhuma espécie desenvolve, originalmente, esse comportamento de infestação.

Na verdade, qualquer planta pode se tornar voluntária a depender de suas características, do local de crescimento e dos prejuízos causados ao agricultor.

Em função disso, até mesmo espécies comercialmente importantes, como as variedades de milho e soja, podem atuar como plantas voluntárias na lavoura.

O que é soja voluntária?

A soja pode ser considerada voluntária quando cresce em local inadequado, prejudicando o desenvolvimento de outras culturas. Mas esse processo não é fruto do acaso.

Na verdade, a transformação da soja em planta voluntária, quando passa a ser chamada de soja guaxa ou soja tiguera, exige uma série de acontecimentos.

Geralmente, o problema começa a surgir ainda durante a colheita, quando muitos grãos acabam caindo no solo em meio a passagem das colheitadeiras.

Mesmo que a colheita seja feita da melhor forma possível, essa queda é normal durante o processo de retirada de grãos de outras culturas, como o milho, que também pode atuar como planta voluntária.

Como os grãos permanecem no solo, quando estão submetidos a condições ideais, essas sementes começam a germinar.

Por isso, caso o agricultor decida utilizar essa mesma área de terra na qual a soja foi cultivada para o plantio de outra cultura, como o feijão, por exemplo, poderá ter uma surpresa desagradável.

Dessa forma, a soja, que anteriormente foi motivo de alegria por permitir uma boa colheita, agora passa a ocupar o lugar de vilã. Afinal, como você pode entender abaixo, sua presença na lavoura compromete a produtividade do feijão.

Quais são os problemas causados por uma planta voluntária?

O grande problema do desenvolvimento de plantas voluntárias na lavoura é a competição entre as espécies, que passam a disputar os recursos disponíveis no meio.

No caso da soja voluntária na cultura do feijão, por exemplo, o desafio é ainda maior. Afinal, as duas plantas são muito parecidas em termos botânicos e fisiológicos, o que eleva a competitividade entre as espécies que dividem a mesma área de terra.

Como não há recursos hídricos e nutricionais para todos, ocorre a redução da produtividade da lavoura de feijão e o comprometimento da qualidade dos grãos.

Como consequência, os agricultores podem observar queda na rentabilidade da safra, o que pode provocar prejuízos financeiros ao agricultor.

De acordo com um estudo conduzido por pesquisadores de Universidades do Paraná, a interferência de plantas daninhas pode reduzir em mais de 70% a produtividade da lavoura de feijão.

Apesar da soja não ter sido considerada como planta voluntária no estudo, essa pesquisa serve de alerta para que o agricultor não negligencie o controle da soja tigueira.

No entanto, um estudo realizado na Universidade de Rio Verde (GO), revelou que a utilização de herbicidas baseados em atrazine, 2,4-D, paraquat + diuron ou diquat é capaz de reduzir a massa seca da soja RR em cerca de 90%.

Por isso, a utilização nas doses adequadas de produtos químicos ainda é uma excelente forma de controle da soja voluntária.

Contudo, essas substâncias são recomendadas especificamente no caso da soja RR e do milho. Quando o assunto é controle de soja na lavoura de feijão, as recomendações são outras.

Como fazer o controle da soja voluntária na cultura do feijão?

Como explicamos anteriormente, por pertencerem à mesma família (Leguminosae) e apresentarem características semelhantes, não existem muitos herbicidas que podem ser utilizados no controle da soja voluntária na cultura do feijão.

Entre as opções disponíveis, o ethoxysulfuron, nome do princípio ativo do herbicida Gladium, merece destaque. Afinal, ele é eficaz no controle de plantas daninhas nas fases pré e pós-emergência do feijão.

Isso é possível porque o ethoxysulfuron, que é um herbicida do grupo das sulfoniluréias, age de forma sistêmica nas plantas atingidas, prejudicando o transporte de nutrientes e água nos tecidos vasculares.

Sendo assim, ele pode prejudicar o desenvolvimento de qualquer planta sobre a qual for aplicado. No entanto, como o feijão e a soja possuem níveis de tolerância diferentes a esse herbicida, ele acaba sendo eficiente no controle da soja tiguera.

Por isso, a ação do ethoxysulfuron sobre a soja depende da dose aplicada e da adição de adjuvantes.

Além disso, é importante aplicar o produto da maneira correta, como é possível entender abaixo.

Como aplicar?

  • Limite da aplicação em relação ao feijão: deverá ser realizada uma única aplicação em pós-emergência precoce da cultura do feijão. Aplicar até as plantas completarem o desenvolvimento do primeiro trifólio.
  • Limite da aplicação em relação à soja: a aplicação deve ser feita em estágios precoces da cultura da soja. Deve ser pulverizado até o primeiro trifólio se encontrar totalmente desenvolvido.

Vale lembrar que a aplicação desse produto pode provocar sintomas iniciais de fitotoxicidade no feijão, mas esses sintomas desaparecem com o decorrer do desenvolvimento da cultura.

De qualquer forma, para evitar maiores problemas, a recomendação é que o Gladium seja aplicado apenas quando o solo apresentar uma boa umidade.

Caso a cultura esteja passando por algum período de estresse, é melhor evitar a aplicação. Além disso, se a variedade for muito sensível, a recomendada é que seja aplicada uma dose menor, de apenas 40 g/ha.

Sendo assim, apesar das plantas voluntárias representarem um problema para a produtividade no campo, com o produto certo e a orientação adequada, é possível superar esse desafio.

Ficou curioso para conhecer mais soluções para os problemas da sua lavoura?

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