Proteja sua lavoura dos percevejos
Esses insetos sugadores podem causar danos irreversíveis à cultura de grãos. Nesta edição do Impulso Negócios mostramos como os produtores podem fazer o monitoramento e manejo dessa praga agrícolaA presença de percevejos na lavoura pode impactar drasticamente a produtividade agrícola. Segundo estudo do Cepea (Esalq/USP), o não controle desse inseto sugador na cultura do milho, por exemplo, reduziria a produção em 17,4%.
Para evitar esses prejuízos, o primeiro passo é aprender a identificar as pragas corretamente e conhecer as melhores estratégias de controle para cada situação.
Neste artigo, você encontrará tudo o que precisa saber para proteger sua plantação e minimizar os danos causados pelo ataque desses insetos.
O que são percevejos?
Os percevejos são pequenos insetos sugadores pertencentes à ordem Hemiptera e à subordem Heteroptera. Eles possuem um aparelho bucal característico, chamado labial tetraqueta, que permite perfurar tecidos e sugar nutrientes.
Dependendo dos seus hábitos alimentares, eles podem ser classificados como predadores, hematófagos, zoofitófagos ou fitófagos. Dentre esses, os fitófagos se destacam como os principais responsáveis por danos em culturas agrícolas, pois se alimentam da seiva e de outros nutrientes das plantas.
Quais são os tipos de percevejos?
Existem vários tipos de percevejos fitófagos que podem causar prejuízos nas lavouras, especialmente nas culturas de grãos. Eles podem ser classificados de acordo com suas famílias e características específicas. Confira os principais grupos:
Família Pentatomidae
Essa família é conhecida por reunir insetos sugadores de grãos, incluindo as espécies mais comuns e prejudiciais.
Entre elas se destacam o percevejo-marrom (Euschistus heros), percevejo-verde-pequeno (Piezodorus guildinii), percevejo-verde (Nezara viridula) e percevejo barriga-verde (Dichelops furcatus e Dichelops melacanthus).
Família Cydnidae
Essa família inclui os polífagos, ou seja, que atacam diferentes culturas. Eles se alimentam principalmente das raízes, sendo frequentes em áreas de plantio direto, o que dificulta o controle.
As espécies mais conhecidas desse grupo são a Scaptocoris castanea e a Scaptocoris carvalhoi, ambos conhecidos popularmente como percevejo-castanho.
Família Alydidae
Esse grupo também inclui espécies sugadores de grãos, como o percevejo-formigão (Neomegalotomus parvus). Embora menos frequentes, eles podem causar prejuízos similares aos da família Pentatomidae, afetando a qualidade e quantidade da produção agrícola.
Como identificar percevejos na lavoura?
A identificação correta dos percevejos na lavoura é fundamental para adotar estratégias de controle de pragas eficazes. Afinal, cada espécie exige a implementação de métodos de manejo específicos. Portanto, a identificação precisa é determinante para o sucesso do tratamento.
Confira abaixo as principais características das espécies mais comuns nas plantações:
Percevejo-marrom (E. heros)
Considerado uma das principais pragas da soja, essa espécie também pode atacar outras plantas, como milho safrinha, algodão, leguminosas e ervas daninhas.
Seus ovos são amarelados e ficam róseos antes da eclosão. Eles são depositados principalmente nas folhas e vagens da soja.
Já as ninfas variam de cinza a marrom conforme o estágio de desenvolvimento. Quando adulto, apresenta coloração marrom-escura e espinhos nos prolongamentos laterais do pronoto.
Essa praga entra em diapausa (dormência) no outono, quando se abriga sob a palhada, permitindo sua sobrevivência até o verão.
Percevejo-verde-pequeno (P. guildinii)
Além de ser outra praga importante da soja, essa espécie também ataca plantas, como feijão, alfafa, ervilha, algodão, crotalária e pastagens.
Seus ovos pretos com formato de “barril” são depositados em fileiras duplas nas vagens ou em outras partes da planta. Já as ninfas são pequenas e apresentam uma coloração inicial preta a avermelhadas, que posteriormente se tornam esverdeadas.
Os adultos medem cerca de 9 mm e se destacam pela coloração verde-clara a amarelada e pela presença de uma lista marrom-avermelhada perto da cabeça.
Percevejo-verde (N. viridula)
Ele ataca principalmente as partes reprodutivas da soja, causando chochamento de grãos e injeção de toxinas. Além disso, também é encontrado nas plantações de feijão, arroz, algodão, trigo, mostarda e macadâmia.
Seus ovos são amarelos e se tornam rosados antes da eclosão. Já as ninfas jovens são alaranjadas e apresentam manchas pretas e brancas nos primeiros estágios de desenvolvimento.
Os adultos têm um corpo verde, antenas avermelhadas e base inferior clara. Eles são maiores do que as outras espécies, medindo entre 10 mm e 17 mm de comprimento.
Percevejo-barriga-verde (D. furcatus e D. melacanthus)
Esse inseto causa prejuízos principalmente no início de ciclo nas culturas do milho, trigo e sorgo. Além disso, ele também tem outras plantas hospedeiras, como soja, feijão, alfafa, crotalária, braquiária, triticale e aveia-preta.
O cultivo de soja e milho favorece o crescimento populacional e a permanência dessa praga na lavoura. Afinal, ela pode infestar ambas as culturas. Os ovos desse inseto inicialmente são verdes claros, mas escurecem à medida que amadurecem.
Já as ninfas são castanho-escuros nos primeiros estágios e castanho-esverdeada, nos últimos. Os adultos medem entre 9 mm e 11 mm, com coloração castanho-amarelada a acinzentada e abdômen verde.
Percevejo-castanho (Scaptocoris spp.)
Ele é uma praga subterrânea que pode ser encontrada a até 1,8 m de profundidade, atacando as raízes de culturas como pastagens, algodão, cana-de-açúcar e feijão.
Os ovos são depositados próximos às raízes. As ninfas são brancas, medem entre 5 mm e 10 mm, com corpo convexo e coloração castanha.
Dependendo do nível de infestação, ela pode ser identificada pela presença de um odor característico que ela exala, semelhante ao do inseto conhecido como “maria fedida”.
Saiba também: Controle de percevejos: métodos seguros e sustentáveis para evitar infestações
Quais os danos causados pelo percevejo nas plantações?
Os danos causados pelos percevejos variam conforme a espécie. Em geral, eles provocam prejuízos diretos e indiretos, comprometendo o desenvolvimento das plantas e reduzindo a produtividade das culturas.
Os danos diretos ocorrem durante a alimentação das pragas, que utilizam sua estrutura bucal para perfurar o tecido vegetal e sugar a seiva. Essa ação pode resultar em murcha, necrose, deformações e morte das partes afetadas.
Além disso, a saliva desses insetos contém enzimas que podem ser tóxicas, agravando os danos ao interferir nos processos fisiológicos das plantas.
Já os danos indiretos são causados pela transmissão de doenças. Isso porque elas podem atuar como vetores de enfermidades, como a murcha bacteriana, que intensifica as perdas nas lavouras.
Outro dano importante é a redução da qualidade dos grãos, que perdem valor de mercado quando atacados, afetando diretamente a rentabilidade do agricultor.
Vale lembrar que o impacto dos percevejos na produtividade agrícola varia conforme o nível de infestação, a espécie da praga e a cultura atacada. Na soja, por exemplo, os insetos sugam continuamente a seiva das vagens em formação, comprometendo os resultados da safra.
Segundo João Roberto Lopes, professor titular do Departamento de Entomologia e Acarologia da Esalq/USP, esse ataque pode prejudicar a formação dos grãos e gerar outros problemas.
"Dependendo do estágio de formação da vagem, impedir a formação dos grãos, causando vagens chochas ou, mesmo após a formação dos grãos, causar manchas e enrugamento devido à introdução de fungos.
Isso naturalmente vai provocar uma queda no vigor, na germinação e uma redução no número de grãos por vagem", explica o especialista em entrevista ao programa Impulso Negócios.
Como fazer o monitoramento da lavoura?
O monitoramento de pragas é uma prática indispensável para detectar infestações precocemente e adotar medidas de controle adequadas para resolver o problema.
Essa atividade deve ser realizada pelo menos uma vez por semana, preferencialmente nos períodos mais frescos do dia, quando os insetos costumam deixar seus abrigos para se alimentar.
Para isso, você pode adotar várias técnicas de monitoramento, como inspeção visual, montagem de armadilhas e amostragem de plantas. Assim, é possível estimar sua densidade populacional da praga e avaliar o Nível de Dano Econômico (NDE).
Uma alternativa eficiente para facilitar o monitoramento é o serviço Patrulha, desenvolvido pela Bayer. Ele auxilia na identificação e quantificação das principais pragas em culturas como soja, milho e cana-de-açúcar.
Quais os métodos para combate desses insetos?
O combate desses insetos deve ser realizado de forma estratégica, utilizando o Manejo Integrado de Pragas (MIP). Essa abordagem combina várias diferentes técnicas de controle para minimizar os danos causados pelas infestações, minimizar custos operacionais e tornar o manejo mais sustentável.
Essas técnicas incluem a rotação de cultura, a eliminação de restos culturais, a dessecação antecipada, o tratamento de sementes, o cultivo de variedades resistentes, entre outras medidas.
Além dessas práticas, é importante investir no controle químico dos insetos sugadores. Ele deve ser feito com produtos registrados no Ministério da Agricultura e que sejam comprovadamente eficazes contra a praga-alvo identificada na plantação, como o Curbix® e o Connect®.
Vale lembrar que é importante fazer a rotação de inseticidas para evitar a resistência das pragas. Além disso, é recomendável consultar um especialista para diferenciar as espécies que devem ser controladas daquelas que atuam como inimigos naturais.
Com essas práticas, você conseguirá manter os percevejos bem longe da sua lavoura. Aprenda outras dicas sobre manejo de pragas agrícolas com a Agro Bayer!