Blog do Agro

Proteja sua lavoura dos percevejos

Esses insetos sugadores são capazes de causar danos irreversíveis às culturas de grãos. Nesta edição do Impulso Negócios entenda como acabar com os percevejos.
25 de julho de 2022 /// 5 minutos de leitura

A presença de percevejos na lavoura pode causar grandes prejuízos à produtividade agrícola. Segundo estudo do Cepea (Esalq/USP), a ausência de controle desse inseto sugador na cultura do milho, por exemplo, reduziria a produção em 17,4%.

Para evitar esses impactos, o primeiro passo é identificar corretamente as espécies de percevejos — como o percevejo-marrom, o percevejo-verde e o percevejo-preto — e conhecer as melhores estratégias de manejo para cada caso.

Neste artigo, você vai descobrir como eliminar percevejos de forma eficiente, adotando práticas de monitoramento e controle que ajudam a proteger sua plantação e minimizar os danos causados pelo ataque desses insetos.

O que são percevejos?


Os percevejos são pequenos insetos sugadores pertencentes à ordem Hemiptera e à subordem Heteroptera. Eles possuem um aparelho bucal especializado, chamado labial tetraqueta, que lhes permite perfurar tecidos e sugar nutrientes — tanto de plantas quanto, em algumas espécies, de animais.

Dependendo dos seus hábitos alimentares, os percevejos podem ser classificados como predadores, hematófagos, zoofitófagos ou fitófagos. Entre eles, os fitófagos são os mais preocupantes para a agricultura, pois se alimentam da seiva e dos nutrientes das plantas, comprometendo seu desenvolvimento e reduzindo a produtividade.

Quais são os tipos de percevejos?


Existem diversos tipos de percevejos fitófagos capazes de causar grandes prejuízos nas lavouras, especialmente nas culturas de grãos. Essas pragas são classificadas em famílias distintas, de acordo com suas características morfológicas e hábitos alimentares.

A seguir, conheça os principais grupos que exigem atenção no campo:

Família Pentatomidae

Essa é a família mais conhecida e também a que reúne os percevejos mais prejudiciais à agricultura. São insetos sugadores de grãos, cujas picadas comprometem o enchimento dos grãos e reduzem a produtividade.

Entre as espécies mais comuns estão o percevejo-marrom (Euschistus heros), percevejo-verde-pequeno (Piezodorus guildinii), percevejo-verde (Nezara viridula) e percevejo barriga-verde (Dichelops furcatus e Dichelops melacanthus).

Família Cydnidae

Os percevejos dessa família são polífagos, ou seja, atacam diferentes culturas. Alimentam-se principalmente das raízes das plantas, sendo frequentes em áreas de plantio direto, o que dificulta o controle.

As espécies Scaptocoris castanea e Scaptocoris carvalhoi são as mais conhecidas, popularmente chamadas de percevejo-castanho. Esses insetos são especialmente danosos porque prejudicam o desenvolvimento radicular e dificultam a absorção de nutrientes.

Família Alydidae

Essa família inclui espécies sugadoras de grãos, como o percevejo-formigão (Neomegalotomus parvus). Embora menos frequentes, esses insetos podem causar danos semelhantes aos da família Pentatomidae, afetando tanto a quantidade quanto a qualidade da produção agrícola.

Como identificar percevejos na lavoura?

A identificação correta dos percevejos na lavoura é fundamental para definir estratégias de controle eficazes. Cada espécie apresenta características específicas e exige métodos de manejo diferenciados, por isso o reconhecimento visual e comportamental é um passo decisivo para o sucesso no combate a essas pragas.

Confira abaixo as principais espécies e como reconhecê-las:

Percevejo-marrom (E. heros)

Considerado uma das principais pragas da soja, essa espécie também pode atacar outras plantas, como milho safrinha, algodão, leguminosas e ervas daninhas.

  • Ovos: amarelados, tornando-se róseos antes da eclosão, depositados em folhas e vagens;
  • Ninfas: variam do cinza ao marrom conforme o desenvolvimento;
  • Adultos: coloração marrom-escura com espinhos nos prolongamentos laterais do pronoto.

Durante o outono, o percevejo-marrom entra em diapausa (dormência) e se abriga sob a palhada, permitindo sua sobrevivência até o verão.

Percevejo-verde-pequeno (P. guildinii)

Outra praga importante da soja, essa espécie também ataca feijão, alfafa, ervilha, algodão e pastagens.

  • Ovos: pretos e em formato de “barril”, depositados em fileiras duplas nas vagens e em outras partes da planta;
  • Ninfas: iniciam pretas ou avermelhadas e tornam-se esverdeadas ao crescer;
  • Adultos: medem cerca de 9 mm e se destacam pela coloração verde-clara a amarelados, com uma faixa marrom-avermelhada próxima à cabeça.

Percevejo-verde (N. viridula)

Ataca principalmente as partes reprodutivas da soja, causando chochamento de grãos e injeção de toxinas. Também é encontrado nas plantações de feijão, arroz, algodão, trigo, mostarda e macadâmia.

  • Ovos: amarelos, tornando-se rosados antes da eclosão;
  • Ninfas: jovens são alaranjadas com manchas pretas e brancas nos primeiros estágios de desenvolvimento;
  • Adultos: corpo verde, antenas avermelhadas e base inferior clara, medindo de 10 a 17 mm.

Percevejo-barriga-verde (D. furcatus e D. melacanthus)

Este inseto causa prejuízos principalmente no início do ciclo de culturas como milho, trigo e sorgo, e também ataca plantas hospedeiras, como soja, feijão,crotalária, braquiária, triticale e aveia-preta.

O cultivo de soja e milho favorece o crescimento populacional e a permanência dessa praga na lavoura. Afinal, ela pode infestar ambas as culturas.

  • Ovos: verdes claros, escurecendo à medida que amadurecem;
  • Ninfas: castanho-escuras nos primeiros estágios, tornando-se castanho-esverdeadas;
  • Adultos: de 9 a 11 mm, com coloração castanho-amarelada e abdômen esverdeado.Percevejo-castanho (Scaptocoris spp.)

Percevejo-castanho (Scaptocoris spp.)

É um percevejo subterrâneo, encontrado a até 1,8 metro de profundidade, atacando as raízes de culturas como pastagens, algodão, cana-de-açúcar e feijão.

  • Ovos: depositados próximos às raízes;
  • Ninfas: brancas, de 5 a 10 mm, com corpo convexo e coloração castanha;

Dependendo do nível de infestação, ela pode ser identificada pela presença de um odor característico que ela exala, semelhante ao do inseto conhecido como “maria fedida”.

Saiba também: Controle de percevejos: métodos seguros e sustentáveis para evitar infestações

Quais os danos causados pelo percevejo nas plantações?


Os percevejos podem causar graves prejuízos às plantações, e o tipo de dano varia conforme a espécie. De modo geral, eles provocam danos diretos e indiretos, comprometendo o desenvolvimento das plantas e reduzindo a produtividade das lavouras.

Danos diretos

Os danos diretos ocorrem durante a alimentação dos percevejos, que utilizam seu aparelho bucal perfurante para sugar a seiva das plantas. Essa ação contínua provoca murcha, necrose, deformações e até morte dos tecidos vegetais.

A picada de percevejo também injeta saliva com enzimas tóxicas, que interferem nos processos fisiológicos das plantas e agravam os sintomas.

Danos indiretos

Já os danos indiretos são causados pela propagação de doenças. Pois, além do ataque físico, os percevejos podem atuar como vetores de doenças, transmitindo patógenos que agravam as perdas nas lavouras. Um exemplo é a murcha bacteriana, que reduz a vitalidade das plantas e acelera a queda de produtividade.

Outro impacto relevante é a redução da qualidade dos grãos, que perdem valor comercial quando apresentam manchas, enrugamentos ou deformações — efeitos comuns da mordida de percevejo. Isso afeta diretamente a rentabilidade do agricultor e a competitividade no mercado.

Impactos na soja e outras culturas

Vale lembrar que o impacto dos percevejos na produtividade agrícola varia conforme o nível de infestação, a espécie da praga e a cultura atacada. Na soja, por exemplo, o percevejo-marrom e o percevejo-verde são os principais vilões, sugando a seiva das vagens em formação e prejudicando o resultado final da safra.

De acordo com João Roberto Lopes, professor titular do Departamento de Entomologia e Acarologia da Esalq/USP, o ataque dos percevejos pode prejudicar a formação dos grãos e gerar outros problemas.

"Dependendo do estágio de formação da vagem, impedir a formação dos grãos, causando vagens chochas ou, mesmo após a formação dos grãos, causar manchas e enrugamento devido à introdução de fungos. Isso naturalmente vai provocar uma queda no vigor, na germinação e uma redução no número de grãos por vagem", explica o especialista em entrevista ao programa Impulso Negócios.

Como fazer o monitoramento da lavoura?


O monitoramento de pragas, incluindo os percevejos, é uma prática indispensável para detectar infestações precocemente e adotar medidas de controle eficazes antes que os danos se tornem irreversíveis.

Essa atividade deve ser realizada ao menos uma vez por semana, preferencialmente nos períodos mais frescos do dia, quando os insetos saem de seus abrigos para se alimentar. É nesse momento que os percevejos-verdes, percevejos-marrons e até o percevejo-preto podem ser observados com mais facilidade.

Entre as técnicas recomendadas para o monitoramento, destacam-se:

  • Inspeção visual: observar folhas, vagens e hastes para identificar a presença dos insetos ou sintomas da picada de percevejo, como manchas, deformações e murchas;

  • Montagem de armadilhas: utilizar armadilhas de feromônio ou de luz para capturar percevejos adultos e estimar sua presença na área;

  • Amostragem de plantas: coletar plantas em pontos estratégicos da lavoura para quantificar a densidade populacional e determinar o Nível de Dano Econômico (NDE) — indicador que orienta quando o controle deve ser aplicado.


Quais os métodos para combate desses insetos?

O combate aos percevejos deve ser realizado de forma estratégica e integrada, seguindo os princípios do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Essa abordagem combina diferentes técnicas de controle para minimizar os danos provocados pelas infestações, otimizar custos operacionais e tornar o manejo mais eficiente e sustentável.

Entre as principais práticas do MIP estão:

  • Rotação de culturas, para interromper o ciclo reprodutivo dos percevejos;
  • Eliminação de restos culturais e dessecação antecipada, evitando que os insetos encontrem abrigo ou alimento no solo;
  • Tratamento de sementes, que oferece proteção inicial às plantas contra a picada de percevejo;
  • Uso de variedades resistentes e monitoramento constante, permitindo maior controle populacional das pragas.

Além dessas práticas, é importante investir no controle químico dos insetos sugadores. Nesse caso, recomenda-se o uso de inseticidas registrados pelo Ministério da Agricultura, com eficácia comprovada contra as espécies-alvo — como o Curbix® e o Connect®, amplamente utilizados no manejo do percevejo-marrom, percevejo-verde e outras espécies sugadoras.

Vale lembrar que é importante fazer a rotação de inseticidas para evitar a resistência das pragas. Além disso, é recomendável consultar um especialista para diferenciar as espécies que devem ser controladas daquelas que atuam como inimigos naturais.

Com essas práticas, você conseguirá manter os percevejos bem longe da sua lavoura. Aprenda outras dicas sobre manejo de pragas agrícolas com a Agro Bayer!

exclusivo para usuários logadosArtigos com seus temas de interesseRealize seu login para escolher os temas de seu maior interesse. Você poderá acessá-los a qualquer momento, sem perder de vista nenhum conteúdo de relevância pra você.